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Bíblia e Advento

A espera da vinda de Deus em S. Paulo (1)

Na sua primeira reflexão cristológica - verificável, por exemplo, nas duas cartas aos Tessalonicenses -, Paulo sublinha, segundo parece, com particular insistência a espera do Senhor. Porquê?

Tessalónica é a primeira cidade europeia que Paulo visita. As informações podemos encontrá-las em Atos 17,1-9. Em Tessalónica havia uma importante comunidade judaica e, como era seu hábito, Paulo pregou em primeiro lugar na sinagoga. Poucos judeus se converteram. Muito mais numerosas foram, pelo contrário, as conversões registadas entre os assim chamados "tementes a Deus", isto é, os pagãos que aderiam ao judaísmo mas que, sendo incircuncisos e não sendo de raça hebraica, não podiam pertencer a título pleno à comunidade judaica. Estes convertidos pertenciam, na sua maior parte, à classe dos operários, como testemunham as advertências que ocorrem em 1 Tessalonicenses (Ts) 4, 11ss e 2 Ts 3,6-12.

São duas as situações que caracterizam a comunidade, situações que motivavam em Paulo alguma preocupação: a perseguição e certos equívocos respeitantes à vinda do Senhor.

Relativamente à primeira situação basta-nos recordar que ela não era originada pelos pagãos, mas sim pelos judeus, que criavam tensões e tumultos envolvendo os cristãos e deste modo forçando as autoridades públicas a uma intervenção.

Relativamente à segunda situação, as duas cartas de Paulo revelam a presença duma viva espera do Senhor, espera esta que não estava, aliás, privada de confusões e inquietações e, sobretudo, de impaciência. Passemos aos textos que nos interessam.

Já no início da primeira carta aos Tessalonicenses (1,9-10), quase a concluir as saudações e as palavras de apreço dirigidas à comunidade, Paulo como que condensa a essência da identidade cristã exatamente em volta do tema da espera do regresso do Senhor: «De facto, conta-se a nosso respeito por toda a parte qual foi o acolhimento que da vossa parte tivemos, e como abandonastes os ídolos e vos convertestes a Deus, para servirdes ao Deus vivo e verdadeiro e aguardardes dos céus o seu Filho que Deus ressuscitou dos mortos, Jesus, que nos livra da ira iminente.» (1Ts 1,9-10)

Aqui, Paulo retoma a essência da identidade cristã situando-a em volta de quatro indicações: converter-se a Deus, afastar-se dos ídolos, servir o Deus verdadeiro, esperar a nova vinda de Jesus. Todas as quatro afirmações requerem alguns esclarecimentos.

Converter-se significa mudar a orientação do caminho, i.e., do modo de viver de cada um. Não se trata de mudar um pormenor, mas de mudar a direção do caminho, o centro da vida de cada um: sair de si para se abrir a Deus e aos outros.

Os ídolos a abandonar não são necessariamente ídolos de falsas religiões, são, isso sim, coisas que podem deixar Deus numa posição de sombra, tornando-se os ídolos em realidades mais importantes que Ele: a própria pessoa de cada um, a carreira, o trabalho, e por aí fora. São coisas que podem inclusivamente pertencer àqueles que ilusoriamente se julgam crentes.

Servir, na linguagem de Paulo, tem um sentido sempre muito forte: tornar-se escravo, ou seja, reconhecer Deus como único Senhor daquele que n'Ele crê.

Esperar o Filho significa estar vigilantes, mesmo não sabendo nós o tempo e a hora. Trata-se de esperar Jesus que Deus ressuscitou, esperá-lo como se espera um libertador. A vinda de Jesus é, pois, indicada, de maneira positiva, como uma libertação, não como um julgamento de condenação. Jesus é já, agora mesmo, aquele que liberta, como é sugerido pelo particípio traduzido como: «e liberta-nos da ira iminente». Na linguagem paulina, a ira de Deus não são, simplesmente, os castigos que Deus manda, mas as desgraças que o homem comete. Quando o homem se abandona ao seu próprio egoísmo, a si mesmo e à sua injustiça, a convivência com os outros e o próprio mundo entram em ruína. É esta a ira de Deus. E é o homem quem a escolhe.

Outra referência à vinda do Senhor podemos nós lê-la, pouco depois, na mesma carta (2,19): «Pois quem, senão vós, será a nossa esperança, a nossa alegria e a nossa coroa de glória diante de nosso Senhor Jesus Cristo, no dia da sua vinda?». Aparece aqui pela primeira vez o termo parusia, que etimologicamente é equivalente a vinda, mas que no uso religioso assumiu um significado mais solene, de visita acompanhada de especiais cerimónias, de especial solenidade. Todo o Novo Testamento tem predileção por este termo para indicar a vinda última e gloriosa do Senhor. Como quer que seja, a frase de Paulo faz uma referência ao Cristo ressuscitado. Mas nada diz sobre a iminência do seu regresso. Trata-se, substancialmente, da última vinda do Senhor e do seu pleno triunfo na história.

Uma terceira afirmação lê-se em 3,13: «Que Ele confirme os vossos corações, e vos torne irrepreensíveis e santos na presença de Deus, nosso Pai, por ocasião da vinda de nosso Senhor Jesus com todos os seus santos!». Como se vê, o encontro com Cristo glorioso é o tema mais lato da esperança cristã. O quadro fica mais completo, relativamente a 2,19: há aqui a menção a Deus Pai, juntamente com a menção à assembleia e ao cortejo dos santos. Isto leva-nos a pensar na última vinda, na qual, como poderá ler-se também em Mateus 25,31-46, será premiado ou castigado o modo de agir dos homens, particularmente o dos cristãos.

 

Esta transcrição omite as notas de rodapé.

 

Bruno Maggioni
Bíblista, professor de Teologia Dogmática na Universidade Católica de Milão
Trad.: Alberto Júlio Silva
In Communio, 2/2012
17.12.12

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