Arquitetura
A igreja do Bairro da Tabaqueira - Uma obra de Jorge Viana
A igreja da Sagrada Família, edificada no bairro industrial da Tabaqueira em Albarraque, Sintra, e inaugurada no dia 18 de dezembro de 1965, foi, tal como o conjunto fabril e habitacional em que se integrou, de iniciativa daquela empresa, e constituiu-se como obra de arquitetura moderna funcionalmente conforme a renovação litúrgica, após particular insistência do padre engenheiro Manuel Falcão, diretor do Secretariado para as Novas Igrejas do Patriarcado e futuro bispo de Beja.
No projeto da igreja, o autor – o arquiteto Jorge Viana (1924-2010) - contou com a participação de destacados artistas plásticos contemporâneos - Lima de Freitas, Maria do Carmo D´Orey, Graça Costa Cabral e Graziela Albino -, que colaboraram ativamente na valorização da expressão e riqueza decorativa do edifício. A nível arquitetónico e litúrgico, também o MRAR - Movimento de Renovação de Arte Religiosa, teve uma contribuição significativa, através de uma importante análise e crítica ao projeto feita a 28 de abril de 1964, numa reunião na sede do Movimento.
“Passado quase meio século sobre este acontecimento, deve relevar-se a importância da obra realizada, viva na comunidade e por ela ativamente utilizada – tanto pela qualidade arquitetónica e artística do conjunto edificado, em geral muito bem preservado, como pelo alto significado cultural e histórico que representa, dada a modernidade conseguida na sua conceção, graças à rara abertura e visão das entidades envolvidas – num momento especial e quiçá único no Portugal dos anos 1960, em que o empresariado industrial, a ação institucional da Igreja e a capacidade das elites artísticas souberam conjugar esforços e construir um trabalho notável.
Este facto, com elevada dimensão material e espiritual, merece um mais aprofundado conhecimento, com a correspondente divulgação, bem como exige a salvaguarda e classificação formal e oficial do conjunto erigido como património do século XX. Eis as razões e sentidos do livro que ora se propõe.” (José Manuel Fernandes, in “Introito - A Igreja da Sagrada Família, em Albarraque, 1965”)
Por ser uma das obras que melhor testemunha o confronto de mentalidades da sociedade portuguesa naquela década, mas também pelo mérito e valor das soluções que apresentou e que contribuíram, em tempo de transição, para a afirmação de respostas novas, justifica-se plenamente a salvaguarda e classificação oficial como património do século XX da igreja da Tabaqueira. Para tal, está em curso a preparação do respetivo processo de proposta de classificação da igreja como edifício de interesse público, por iniciativa da família de Jorge Viana, que dá o seu primeiro passo público com a edição do livro “A Igreja do Bairro da Tabaqueira - uma obra de Jorge Viana”.
Coordenado por João Salvado Ribeiro e José Manuel Fernandes, esta publicação, prefaciada pelo cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, conta com uma extensa documentação fotográfica da autoria de Ana Janeiro, para além dos seguintes textos:
- A textura histórica dos anos 1960: integração dum templo de rito católico no tecido urbanístico do bairro da Tabaqueira (Joaquim Boiça)
- O processo de génese e de realização da obra (Diogo Lino Pimentel)
- A igreja da Sagrada Família, bairro da Tabaqueira, em Albarraque: percurso histórico e arquitetónico dos seus primeiros anos (João Alves da Cunha)
- A igreja da Tabaqueira no contexto da obra de Jorge Viana e da arquitetura portuguesa contemporânea (José Manuel Fernandes)
- Os azulejos da igreja da Tabaqueira (José Meco)
- As esculturas da igreja da Tabaqueira (Maria do Carmo d’Orey)
- Para memória futura: Jorge Viana no IHRU/SIPA (João Nuno Reis)
- Nota Final (João Salvado Ribeiro)
O lançamento do livro, com apresentação a cargo da arquiteta Ana Vaz Milheiro, docente do Departamento de Arquitetura e Urbanismo do ISCTE, ocorreu no Centro Cultural Palácio do Egito, em Oeiras, local onde se encontra em exposição a mostra Jorge Viana – Arquiteturas: natureza, máquina, sentimento, comissariada pelo arquiteto João Alves da Cunha e João Nuno Reis, e onde se pode encontrar exposta a igreja da Sagrada Família, juntamente com várias outras obras deste arquiteto.
A exposição está patente ao público até dia 8 de julho, das 12h00 às 18h00. O Centro Cultural Palácio do Egito localiza-se na Rua Álvaro António dos Santos.
Texto e fotografias: João Alves da Cunha
Grupo de Arquitetura do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura
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04.07.12