Apesar de geralmente terem grande notoriedade no canto gregoriano, bem como na organização de bibliotecas e na proposta de retiros, alguns monges beneditinos também fabricam cerveja, gerem quintas ou tocam guitarra elétrica, como o abade primaz Nokter Wolf.
Ao terminar o terceiro e último mandato como líder da confederação de mosteiros beneditinos, o monge alemão de 76 anos também integra um grupo de rock, chamado "Feedback", no seu tempo livre, e interpreta música clássica e sacra na flauta.
«Em 1991, quando o então abade de S. Ottilien, Notker Wolf, apareceu pela primeira vez num ensaio da banda Feedback, ninguém suspeitou que ele mais tarde se tornaria num membro permanente», lê-se na página eletrónica do grupo.
O religioso, também autor de livros de sucesso, afirma que viu a sua obra "De que é que está à espera? Pensamentos heréticos sobre a Alemanha" em destaque, ao lado de "O código Da Vinci", de Dan Brown, numa livraria do aeroporto de Munique.
Não é raro encontrar monges que se dediquem a compromissos de ordem estética ou eclética, dado que a sua vida abraça a criatividade. Tendo pessoa de diferentes enquadramentos culturais a viver, falar, trabalhar e rezar juntos significa que, num mosteiro, «é-se muito criativo», declarou à agência CNS.
Esta criatividade também «mostra que o cristianismo está nas raízes da cultura humana», o que significa que é «normal» e «natural» que a excelência dos Beneditinos na educação, música, preservação histórica e agricultura ande de mão dada com o procurar viver o Evangelho.
A agricultura e a pecuária tornam a ordem próxima da natureza e da criação de Deus: na abadia de S. Ottilien, a "casa" de Nokter Wolf na Baviera, onde regressará depois de viver em Roma desde o ano 2000 como abade primaz e presidente do colégio de Santo Anselmo, transforma o estrume das suas 180 vacas leiteiras em biogás, que é depois vendido à companhia de eletricidade local: «Ganhamos mais na venda de energia do que a vender o nosso leite», explicou.
Há cerca de 250 mosteiros masculinos beneditinos espalhados pelo mundo, cada qual com a sua própria cultura, tradições e atividades. O importante é que o que quer que seja que as comunidades façam, o façam «por amor a Cristo».
Os abades e priores beneditinos de cada um desses mosteiros estão reunidos entre 3 e 16 de setembro, em Roma, para, entre outros objetivos, eleger um novo primaz, tendo sido recebidos esta quinta-feira pelo papa.
Francisco referiu-se ao silêncio «eloquente» das comunidades beneditinas, «que deixa falar Deus na vida ensurdecedora e distraída do mundo.
«Ainda que vivendo separados do mundo, a vossa clausura não é estéril, antes, é uma riqueza e não um impedimento à comunhão. O vosso trabalho, em harmonia com a oração, torne-vos participantes da obra criativa de Deus e vos faça ser solidários com os pobres que não podem viver sem trabalhar. Com a vossa típica hospitalidade, podereis encontrar os corações dos mais perdidos e afastados, de quantos se encontram numa condição de grave pobreza humana e espiritual», afirmou o papa.
Nokter Wolf considera que a Regra de S. Bento ajuda a balancear a vida pessoal e salienta que natureza contemplativa da vida beneditina não significa que os monges fechem os olhos às necessidades do mundo.
Quando as pessoas visitam um mosteiro, «também estão à procura de pessoas com quem possam falar sobre a sua vida. Eles têm um lugar sossegado onde podem descobrir novamente o sentido da sua vida, voltar às suas raízes e a, eventualmente, encontrar as suas raízes em Deus», salientou Wolf.
Carol Glatz