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Caminhos para Deus (1): Crença

Há tantos caminhos para Deus como pessoas na Terra. Por uma questão de clareza, vou dividi-los em seis. Pode acontecer que já tenha percorrido mais do que um ao longo da sua vida, ou até sentir que já andou por vários ao mesmo tempo.

Para as pessoas deste caminho, a crença em Deus fez sempre parte das suas vidas. Nasceram em famílias religiosas ou foram introduzidas na religião desde cedo. Passam pela vida com mais ou menos confiança na sua crença em Deus. A fé foi sempre um elemento essencial das suas vidas. Rezam regularmente, vão a celebrações religiosas frequentemente e sentem-se à vontade a falar de Deus. As suas vidas, tal como todas as vidas, não estão isentas de sofrimento, mas a fé dá-lhes a capacidade de enquadrar a dor num contexto de sentido.

Os benefícios de percorrer o caminho da crença são evidentes: a fé dá sentido tanto às alegrias como às lutas da existência. A fé em Deus significa que a pessoa está convicta de que nunca está sozinha. Conhece e é conhecida. A vida no seio de uma comunidade orante proporciona companhia. Nos períodos difíceis, a fé é uma âncora. E a fé cristã também tem como certa a promessa na vida para além da Terra.

Foi esta fé que apoiou o padre americano Walter Ciszek durante os anos que passou nos campos de trabalho soviéticos, e que lhe permitiu, quando finalmente deixou a União Soviética, em 1963, abençoar o país cujo governo lhe tinha causado inenarráveis sofrimentos físicos e mentais. Por vezes ele lutava com a sua crença - quem não o faria na mesma situação? -, mas no fim a sua fé permaneceu firme. O livro "With God in Russia" ("Com Deus na Rússia") termina com palavras impressionantes, descrevendo o gesto de Ciszek quando o avião descolou: «Devagar, cuidadosamente, fiz o sinal da cruz sobre a terra que estava a deixar».

Algumas pessoas, por vezes, invejam aquelas que andam o caminho da fé. «Se ao menos eu tivesse fé como tu», diz-me muitas vezes uma amiga. Ainda que eu compreenda o seu sentimento, essa perspetiva faz com que a fé pareça algo que se tem, mais do que ter de trabalhar para a manter. É como se se tivesse nascido com uma fé inquestionável, como se nasce de cabelo louro ou olhos castanhos. Ou como se a fé fosse como parar numa bomba de gasolina e encher o depósito.

Nenhuma metáfora é apropriada. Em última análise, a fé é um dom de Deus. Mas a fé não é apenas algo que se tem. Talvez uma metáfora melhor seja a de que a fé é como um jardim: mesmo que já se tenha o essencial - terra, sementes, água -, é preciso cultivá-lo e nutri-lo. Como um jardim, a fé exige paciência, persistência, e até trabalho.

Nenhum dos caminhos para Deus está livre de perigos. Uma das armadilhas de quem percorre a via da crença é a incapacidade de perceber as pessoas que viajam noutras estradas, a par de uma tentação para as julgar pelas suas dúvidas ou falta de crença. A certeza impede algum crentes de sentirem compaixão, compreensão, ou mesmo tolerância com outros que não estão tão certos na sua fé. A sua arrogância converte-os em «escolhidos com coração de pedra», excluindo outros, consciente ou inconscientemente, do seu reconfortante mundo da crença. Esta é a religiosidade azeda, sem alegria e sem generosidade que Jesus critica: cegueira espiritual.

Há um perigo mais subtil para este grupo: uma complacência que faz estagnar a relação com Deus. Algumas pessoas agarram-se a formas de compreensão da fé aprendidas na infância que podem não funcionar para um adulto. Por exemplo, uma pessoa pode agarrar-se a uma noção infantil de um Deus que nunca permitirá que nada de mau aconteça. Quando a tragédia acontece, o facto de a antiga imagem de Deus não estar refletida na realidade pode levar ao abandono do Deus da infância. Ou levar ao abandono completo de Deus.

A vida adulta requer fé adulta. Pensemos assim: uma pessoa não se pode considerar apta para enfrentar a vida com os conhecimentos de matemática do primeiro ano da escola. Mesmo assim, há quem espere que a formação religiosa obtida no primeiro ciclo a sustente no mundo adulto.

 

James Martin, SJ
Trad.: rjm
29.01.14

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CaminhoRobert Julian Onderdonk

 

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