Carta pastoral
Cristãos podem contribuir para mudar a cultura, diz bispo de Santarém, que pede «diálogo» e «acolhimento aberto a todos»
O bispo de Santarém considera que a «experiência pessoal» e a «vivência comunitária da fé» podem ajudar os cristãos a inspirar, no atual «ambiente cultural marcado pela incredulidade», uma «forma de pensar e viver justa, verdadeira e bela».
«Com a onda de ateísmo do século XX herdámos a cultura do individualismo, da superficialidade, do imediatismo. A crise de fé traduziu-se numa crise moral, social e agora também económica e financeira. Mas a realidade muda e todos nós podemos contribuir para a sua renovação», frisa D. Manuel Pelino.
Na carta pastoral para 2013/14, intitulada "Cuidar da fé, cuidar do homem", o prelado determina que uma das prioridades da diocese deve ser «cuidar da educação da fé em relação com a vida e com a cultura, guiando na experiência pessoal de fé e na integração na comunidade».
Entre as linhas pastorais para o próximo ano inclui-se também a sensibilização dos fiéis «para a presença ativa nas iniciativas e associações ligadas com a atividade social e cultural».
D. Manuel Pelino salienta igualmente que «os frutos» revelam «a qualidade do cristianismo e dão credibilidade ao anúncio do evangelho».
«Notamos como à nossa volta cresce a indiferença e a desconfiança em relação aos outros, vistos por vezes como concorrentes. Aquele que crê em Deus Pai deve olhar o outro com fraternidade e simpatia. Uma fraternidade traduzida no diálogo, no acolhimento aberto a todos, na aproximação dos que necessitam de ajuda.
O documento anuncia que o "lava-pés", gesto que Jesus fez aos seus discípulos para assinalar a primazia do serviço e da humildade, vai ser o «ícone bíblico» que acompanhará o próximo ano pastoral, dado que, a par da Eucaristia, caracteriza «a vida dos crentes por todas as gerações».
Para D. Manuel Pelino, a «indiferença» em relação a Deus «gera a indiferença para com o próximo, e o outro corre o risco de ser visto como um estranho que incomoda», ao mesmo tempo que se esquece «a transcendência e santidade da vida humana», bem como «a sua dignidade única e irrepetível».
Sem referências a Deus, frisa, «a verdade e a ética tornam-se dependentes das estatísticas e das ondas de opinião», e «perde-se a chave de interpretação do mistério» do ser humano.
O prelado observa ainda que «educar é orientar no “caminho estreito” da renúncia a si mesmo, para alcançar a verdadeira liberdade e dignidade sempre associadas ao serviço e à participação na comunidade».
«Por vezes os pais, encarregados de educação e educadores da fé, para evitar e incómodos e poupar os mais novos a sacrifícios, deixam seguir o “caminho largo” da facilidade, dos caprichos de momento, do relativismo e do egoísmo. Mas o caminho largo gera insegurança e perde-se em muitas veredas», alerta.
Rui Jorge Martins
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07.08.13
Duccio (det.)