Diocese de Vila Real quer retomar diálogo entre fé e cultura
O Centro Católico de Cultura, criado na década de 90 na diocese de Vila Real, pretende retomar no ano de 2012/13 o diálogo da Igreja com personalidades do mundo artístico e do pensamento.
Em entrevista ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, o diretor da instituição, padre Manuel Coutinho, explicou que as atividades foram retomadas em outubro de 2011 com um curso de três anos para formação de leigos.
O sacerdote de 51 anos considera que «há muito trabalho a fazer, nomeadamente em Portugal», no domínio da Pastoral da Cultura: «Temos uma Igreja – e eu falo também pela diocese de Vila Real – algo tradicionalista, onde se olha muito às práticas religiosas daqueles que mantêm a sua religião mas temos pouco de diálogo com a cultura que nos rodeia».
Quando é que nasceu o Centro Católico de Cultura?
O Centro Católico de Cultura já existia desde o início da década de 90 e foi reativado em outubro de 2011. O seu objetivo é tentar dinamizar o diálogo entre a fé e a cultura, além de dar formação doutrinal e teológica aos leigos da diocese.
Sé de Vila Real (Foto: Juliana Pinheiro)
Que motivos conduziram à reativação?
O Centro ficou praticamente parado desde que o seu antigo diretor, o doutor Manuel Linda, foi nomeado bispo auxiliar de Braga [2009]. Um dos objetivos primordiais de D. Amândio Tomás, desde que assumiu a diocese de Vila Real [2008], é a formação dos leigos, e para isso reativou o Centro Católico de Cultura, que também pode contribuir para a formação permanente dos sacerdotes.
A primeira experiência que estamos a fazer é um curso de três anos iniciado em outubro de 2011, a que demos o nome de Escola Diocesana de Educação da Fé.
Está sozinho à frente do Centro ou tem o apoio de uma equipa?
Na direção estou praticamente sozinho mas tenho procurado agregar outros padres para me ajudarem a delinear as atividades do Centro, enquanto que nas aulas conto com a colaboração de sacerdotes da diocese.
Este foi o primeiro ano e estamos a funcionar ainda a título experimental. A partir de 2012/13 talvez tenhamos um conselho mais alargado, com um grupo de padres e leigos para dirigir o Centro.
Sé de Vila Real (Foto: Juliana Pinheiro)
Que projetos estão previstos além da continuação do curso?
Gostaríamos de implementar um maior diálogo entre a fé e a cultura na diocese. Um dos objetivos para o próximo ano é dar a conhecer as iniciativas que se realizem neste âmbito e organizar algumas conferências com personalidades da Igreja e da cultura portuguesa, à semelhança do que já se fez há alguns anos na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Temos também como objetivo estabelecer um diálogo maior com o Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, o que ainda não fizemos por falta de tempo.
Como caracteriza a relação da Igreja Católica com a cultura em Portugal?
É difícil responder de imediato... No diálogo entre a fé e a cultura deveríamos, como Igreja, estar mais abertos às manifestações culturais existentes em Portugal e à vida da sociedade, vendo o que nós chamamos as “Sementes do Verbo [Cristo]” existentes nas pessoas que não são católicas praticantes ou que se declaram ateias e agnósticas. Devemos discernir como podemos ir ao encontro delas através do património cultural, artístico, musical e literário da Igreja, não com objetivos apologéticos ou com a intenção de as tornarmos católicas, mas para que aos poucos a luz de Cristo as vá ajudando, ainda que não se deem imediatamente conta disso. É um objetivo parecido ao que procura levar por diante o Pátio dos Gentios [estrutura da Igreja Católica para o diálogo com os não crentes], que o papa Bento XVI instituiu.
Penso que aqui há muito trabalho a fazer, nomeadamente em Portugal. Temos uma Igreja – e eu falo também pela diocese de Vila Real – algo tradicionalista, onde se olha muito às práticas religiosas daqueles que mantêm a sua religião mas temos pouco de diálogo com a cultura que nos rodeia.
Capela Nova, Vila Real (Foto: Juliana Pinheiro)
Como recebeu a nomeação?
Estou grato pela confiança que o nosso bispo manifestou em mim. Eu estava numa paróquia ao sul da diocese, em Mesão Frio, mas aceitei deixá-la e vir para Vila Real, onde também sou diretor espiritual do seminário. É mais um desafio para a minha vida de sacerdote que encaro com alegria, confiança e também sentido de responsabilidade.
Rui Jorge Martins
© SNPC |
15.05.12








