Como explicar às crianças que é mais interessante ler um livro do que ver a telenovela? Esta pergunta desencadeou a intervenção que o jornalista João Miguel Tavares (n. 1973) ofereceu aos participantes na 11.ª Jornada da Pastoral da Cultura.
Seguindo o tema do encontro, família e cultura, o pai de quatro filhos, autor de livros infantis, defendeu que entre os três polos geralmente associados à cultura - inteligência, conhecimento e sabedoria -, prefere colocar este no topo da hierarquia, enquanto ponte entre estética e ética.
Ter muita cultura não significa, necessariamente, ser muito inteligente e muito sábio, e, por outro lado, não garante a felicidade: «Conheço demasiada gente culta que é muito infeliz».
Depois de evocar Voltaire - «o supérfluo, coisa muito necessária» -, João Miguel Tavares afirmou que o seu «objetivo de pai» é «transformar a cultura em sabedoria», fazendo das «boas vidas, vidas boas».
Falando aos participantes sem recorrer a notas, o colunista e comentador recordou o documento "Gaudium et spes", do Concílio Vaticano II, que relacionou com a criação da Pastoral da Cultura, particularmente na declaração de que «cultivando as artes, pode o homem ajudar muito a família humana a elevar-se a conceções mais sublimes da verdade, do bem e da beleza e a um juízo de valor universal, e ser assim luminosamente esclarecida por aquela admirável sabedoria, que desde a eternidade estava junto de Deus».
Referindo-se ao seu percurso cristão, afirmou ser uma pessoa «a quem o dom da fé foi dado de forma muito parca», e acrescentou: que a sua vida tem sido «uma espécie de bailado» de aproximação e afastamento de Deus.
João Miguel Tavares considerou que a Igreja católica traça, por vezes, um retrato excessivamente negativo da sociedade, e sugeriu que abandonasse a atitude de «dedo apontado ao mundo».
«A matriz cristã, para mim, é fundamental», assinalou, após lamentar a recusa da herança cristã, desprezando um conhecimento acumulado de milénios, válido independentemente da fé.
No vídeo, João Miguel Tavares pronuncia-se também sobre a «taxa absurda de divórcios» e sobre as implicações associadas a ter filhos.
A 11.ª Jornada Nacional da Pastoral da Cultura, dedicada ao tema "Tempo de cultura, tempo de família, realizou-se a 29 de maio, em Fátima.