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Fé na agricultura?

A ligação entre a religião e a agricultura perde-se na memória dos tempos. No Antigo Testamento, lemos que a vida dos Judeus no Egito melhorou depois de José ter interpretado bem as vacas gordas e magras do sonho do faraó, antecipando a fartura e fome provocadas pela evolução da produção de trigo. Recordemos também as inúmeras parábolas agrícolas que Jesus Cristo nos deixou: a parábola do semeador, do trigo e do joio, dos trabalhadores da vinha, da ovelha perdida, da figueira estéril…

Ao longo da história humana, foram muitos os laços que se estabeleceram entre a religiosidade popular e o ciclo das colheitas, entre a alegria pela abundância dos frutos e a angústia pelas condições atmosféricas adversas que deitam a perder o ano de trabalho e colocam em causa a própria sobrevivência.

Muitas tradições e festas populares são herdeiras e mantêm a relação entre o cristianismo e a agricultura, como a bênção de animais e oferendas dos produtos agrícolas. Mas quanta dessa fé se vive na autenticidade e quanta é apenas a tradição à flor da pele?

A prática cristã dos agricultores provavelmente ainda é superior à média da sociedade envolvente. Mas participam ativamente na vida da Igreja e dos movimentos laicais ou limitam-se à Eucaristia dominical?

Beber vinho já não dá de comer a um milhão de portugueses. Portugal já não é o país rural da primeira metade do século XX. A agricultura perdeu peso económico e social à medida que avançaram primeiro a indústria, depois os serviços e as novas tecnologias. Mas veio a crise, e tal como o filho pródigo, milhares de “novos agricultores” regressam a terras antes abandonadas e juntam-se a outros milhares de “filhos mais velhos”, que resistiram a partir e mantiveram viva a agricultura durante a travessia do deserto que o setor passou nas últimas décadas. Com a ajuda da crise e as ajudas de Bruxelas, perderam-se finalmente as “peneiras” e a vergonha de assumir a agricultura. Outros ainda não digeriram bem esta mudança. Durante anos, disseram-lhes que a agricultura portuguesa acabou, que não era competitiva, não tinha futuro, que fugissem do trabalho da terra como o diabo da cruz. Meio rural só para caça e turismo, certo? Pois… Mas quando a economia pula e a população mundial avança temos de cultivar todos os terrenos disponíveis. Alimentar o mundo é um trabalho importante, não é?

Que sabem a Igreja, o clero e os diversos agentes pastorais da moderna agricultura baseada na terra, no trabalho dos Homens e no estudo das Universidades de Agronomia? Que pensa a Igreja sobre a especulação nos mercados de cereais e pressão negocial dos Hipermercados? Que pode a Igreja propor a jovens licenciados que recorrem às mais modernas tecnologias de informação e já não rezam a Santa Bárbara quando troveja? Talvez …

Fé… Apresentando e partilhando Jesus Cristo, desconhecido e distante de jovens com muita informação e formação académica, pouca formação cristã, talvez demasiado focados no trabalho mas porventura abertos a propostas de espiritualidade quando vividas e autênticas?

Esperança… Apesar do positivo entusiasmo dos novos agricultores e da recente atenção dedicada ao setor por políticos e jornalistas, a maioria dos agricultores, idosa, vive na angústia ou desânimo e precisa de quem recorde e pratique as bem-aventuranças para que se sintam também filhos amados por Deus.

Caridade… Amor ao próximo, respeito e defesa da dignidade do trabalhador agrícola na sociedade, defesa do produtor (o elo mais fraco na cadeia económica que vai do prado ao prato), promoção de consciência ecológica, segurança alimentar e respeito pelo bem-estar animal, desafio para a partilha de alimentos com os que passam fome, enfim, viver e propor todo um conjunto de valores que se resumem no amor como caminho para uma vida em plenitude…

 

Carlos Neves
Agricultor, presidente da APROLEP (Associação dos Produtores de Leite de Portugal), vice-coordenador da ACR (Ação Católica Rural) na Diocese do Porto
© SNPC | 13.06.13

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