A cineasta Inês Gil, co-organizadora do festival de cinema "Flumenfest", que a arquidiocese de Braga organiza de 3 a 8 de março, considera que a iniciativa é arrojada por abrir a Igreja a visões nem sempre coincidentes com a doutrina católica.
«O Flumenfest é extremamente corajoso ao lançar-se numa viagem que comporta riscos, porque a diocese irá certamente ter reações muito positivas, mas como não podemos agradar a todos, haverá com certeza reações menos positivas», declarou a realizadora ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC).
Inês Gil sublinhou que a arquidiocese «está a tentar promover, de forma extremamente aberta, o diálogo entre crentes e não crentes, mostrando que, através da cultura, em particular do cinema, que é uma arte humanista - quando quer -, pretende transformar-se e transformar a imagem associada à Igreja, de uma entidade fechada sobre si».
«Abrir as portas e não se limitar à zona de conforto constitui, em Braga, um acontecimento inesperado. Geralmente as pessoas têm da Igreja bracarense uma ideia de fechamento e de conservadorismo, e a diocese atenua essa conceção através do festival», acrescentou a cineasta, membro do Grupo de Cinema do SNPC.
Os objetivos do "Flumenfest" passam por «dinamizar a região do Minho através de um evento cultural internacional ligado ao cinema, dando a conhecer novas linguagens cinematográficas de alta qualidade que estão fora do circuito comercial».
«Ao mesmo tempo, quer-se promover o diálogo ao acolher realizadores de vários locais do globo, como o Irão, Holanda, França, e Coreia do Sul, que vão apresentar os seus filmes e poderão discuti-los com o público após a exibição», explicou Inês Gil, que coordena o festival com o P. Marc Rodrigues, da arquidiocese bracarense.
Os organizadores estão a contar com a presença de 10 cineastas, «o que é muito bom para um festival de cinema independente que, na competição internacional, tem seis longas-metragens e 20 curtas», revelou Inês Gil, destacando que «todas as sessões têm entrada gratuita, estando abertas ao público em geral».
A seleção de filmes «permite refletir sobre o sentido da vida, a natureza das relações humanas e, eventualmente, a espiritualidade, mas esta não é o ponto central da programação. Está presente, obviamente, porque quando se fala do humano fala-se também da espiritualidade, mas não se trata de um festival de cinema espiritual, referiu.
As sessões decorrem no Auditório Vita, bem como em escolas.
Rui Jorge Martins