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Francisco: Pastor para uma nova época

Quais são os dez dossiês urgentes que esperam o papa Francisco? Constam, simultaneamente, da herança do seu predecessor e de uma atualidade que muitas vezes se descontrola.

Apesar daquilo que por vezes se possa ter dado a entender, Bento XVI não terá sido um Papa de transição. Durante um pontificado várias vezes apupado por polémicas (Ratisbona, D. Williamson) ou por processos (Vatileaks), não hesitou em estabelecer a verdade em questões dolorosas para a Igreja, como a dos Legionários de Cristo ou a dos sacerdotes pedófilos.

Cabe agora ao novo Papa ir mais longe e imprimir um impulso evangélico inédito nos anos que estão para vir.

 

Modernizar a Cúria

É o campo de ação número um do novo Papa. Foi-lhe incumbida a missão, pelos seus eleitores, de intensificar a reforma iniciada com pequenos passos por Bento XVI. O escândalo das fugas do Vatileaks feriu profundamente o papa Bento e os cardeais. «Isso, nunca mais!», indignara-se um importante cardeal, imediatamente antes de começar o conclave...

Será necessário muito tato, firmeza e constância ao papa Francisco para restabelecer a eficácia e a credibilidade de uma Cúria romana bastante desacreditada depois dos casos recentes. Desde Paulo VI (1963-1978), nenhum Papa se aventurou a proceder a mudanças de envergadura no funcionamento do governo romano da Igreja católica.

De repente os velhos demónios assomam de novo à superfície: centralização sufocante, ausência de comunicação entre os vários gabinetes e serviços, carreirismo, corrupção de todo o tipo, etc. É certo que a Cúria dispõe de mais colaboradores íntegros e dedicados ao serviço do Papa e da Igreja universal do que de «indivíduos pouco recomendáveis». Mas a administração romana sofre sobretudo de disfunções estruturais que a impedem de reagir bem aos novos ritmos do mundo contemporâneo e das Igrejas locais que dela fazem parte.

É certo que a Igreja tem a eternidade à sua frente! Mas como se constatou, aquando do desastroso caso Williamson, seria aconselhável que melhorasse os seus circuitos internos de informação e a sua comunicação urbi et orbi. (...)

 

Relançar a evangelização

O papa Francisco encontrará sobre a sua secretária três dossiês abertos pelo seu predecessor e que lhe caberá levar a bom termo. Todos eles têm a ver com o relançamento do anúncio do Evangelho, que era a prioridade pastoral do antigo arcebispo de Buenos Aires.

A primeira pasta diz respeito à Exortação Apostólica que deve ser publicada na sequência da assembleia do Sínodo dos bispos sobre «a nova evangelização e a transmissão da fé cristã», realizada em Roma no mês de outubro de 2012. Bento XVI não a pôde redigir devido à sua renúncia. Será portanto, Francisco a indicar nesse texto solene de que modo, agora Papa, pretende redinamizar o anúncio da fé cristã nos quatro cantos do Globo.

Segundo dossiê importante, o encerramento do Ano da Fé, em novembro de 2013: esta iniciativa fora lançada por Bento XVI em outubro de 2012, no ambiente comemorativo do quinquagésimo aniversário da abertura do Concílio Vaticano II (1962-1965). Será interessante ver como Francisco, primeiro Papa da geração pós-conciliar, se vai inserir na esteira do seu predecessor, que fora um protagonista importante desse concílio. (...)

Na Europa, o envelhecimento do clero acelera-se e alguns bastiões, como a Polónia e a Itália, estão corroídos pela secularização. No entanto, as Igrejas europeias também manifestam um novo impulso, de modo particular entre os jovens.

Em África, o catolicismo conhece a mais forte expansão: em 2009, eram cento e setenta e nove milhões; em 2050, devem ser trezentos e vinte milhões. Também é neste continente que se nota o mais forte aumento do número de sacerdotes e seminaristas. Cinquenta anos após o Concílio Vati cano II, Bento XVI comparava África a um «imenso pulmão espiritual», contando com numerosos leigos para animar as comunidades. Contudo essa expansão católica encontra-se em concorrência com o Islão. A Igreja africana também está fragilizada por casos de corrupção, de conluio com governos, na Costa do Marfim, por exemplo, e por costumes do clero. (...)

A Ásia surge como a terra do futuro do catolicismo. O número dos católicos está a aumentar, mas varia consoante ainda é visto, em certos países, como uma religião estrangeira de origem ocidental. Contudo os católicos são maioritários nas Filipinas (oitenta e sete por cento dos noventa e cinco milhões de habitantes), onde a Igreja continua a ser poderosa frente a uma sociedade marcada pela corrupção e pela degradação da vida política e social. Em Timor-Leste, onde os católicos representam noventa por cento de uma população de mais de um milhão de habitantes, a Igreja também desempenhou um papel importante nos anos de preparação para a sua independência da Indonésia.

Por outro lado, os católicos são minoritários na Índia, embora as suas es colas e hospitais tenham boa reputação e atraiam mais alunos e pacientes hindus e muçulmanos do que católicos! No Vietname, apesar de o Partido Comunista dominar o país, as vocações são florescentes. A Igreja católica da Ásia continua a ser marcada pela tradição ocidental e mantém-se sob a influência romana. A inculturação ainda precisa de progredir. O diálogo inter-religioso não é muito praticado e assiste-se a confrontos, por vezes violentos, entre as comunidades. Assim, no norte da Índia, os católicos são perseguidos por fundamentalistas hindus.

Na América do Norte, depois da crise dos sacerdotes pedófilos que deitaram por terra o episcopado e arruinaram algumas dioceses, o importante, agora, é restabelecer a confiança e seguir em frente. Apesar de uma religiosidade ainda forte na sociedade americana, o ateísmo e o individualismo vão aumentando. O catolicismo norte-americano prospera,sobretudo, devido à imigração maioritariamente hispânica,nos Estados Unidos, e asiática, no Canadá.

Na América do Sul, o subcontinente de origem do Papa, a Igreja conserva uma forte influência. Representando quarenta por cento da população mundial católica, a América Latina continua a ser a primeira católica. Os evangélicos têm uma elevada adesão nos meios populares, em detrimento dos católicos, enfraquecidos pelas controvérsias sobre a teologia da libertação que agitaram os anos oitenta. Para contrariar esse fenómeno, a Igreja sul-americana aposta no dinamismo dos grupos carismáticos e na emergência de um clero jovem. (...)

 

Um novo estilo de Papado

«O estilo é o homem», afirmava Buffon. Neste campo, o papa Francisco não tardou em «desarrumar» certos usos e protocolos do Vaticano, para salvaguardar e afirmar o seu estilo: o estilo de um homem simples, em contacto direto e espontâneo com as pessoas.

Depois do pontificado intelectual e discreto de Joseph Ratzinger, o Papado inaugurado por Jorge Mario Bergoglio estabelece de imediato uma rutura, uma mudança. Os dois homens são fundamentalmente diferentes. Embora ambos provenham de meios modestos, as suas experiências divergem muito.

Um deles, Joseph Ratzinger, foi modelado pela sua longa experiência de professor universitário e por um temperamento solitário inclinado para a leitura ou para a escrita, no silêncio de um gabinete ou de uma biblioteca. O outro, Jorge Mario Bergoglio, dotado de um temperamento firme, embora discreto, cultiva o gosto pelo encontro e pelo diálogo. Um privilegia o gosto das ideias e da reflexão meditativa, o outro nutre mais o gosto pelos outros e pela ação. Ambos, porém, levam uma vida de oração intensa e sentem-se seduzidos pela vida monástica. (...)

 

As relações com a China

A Ásia é o continente do futuro. Para a Igreja católica, que tem os olhos fixos nele, contém mais de mil milhões de chineses a evangelizar. Atualmente a comunidade católica chinesa, extremamente minoritária, contará entre doze a vinte milhões de fiéis. No entanto, a sua situação é particularmente complexa. Primeiro, porque vive sob a estreita vigilância do Partido Comunista Chinês, que detém firmemente as rédeas do poder.

Em seguida porque, desde 1957, está dividida entre uma Igreja dita patriótica, enfeudada ao Partido Comunista e cujos bispos foram investidos sem o aval da Santa Sé, e uma Igreja clandestina, fiel a Roma e perseguida pelo regime. Existem laços entre as duas comunidades e, nos últimos dez anos, tiveram lugar aproximações entre Pequim e o Vaticano. Contudo, o poder chinês toma periodicamente atitudes opostas, ora acentuando a sua pressão sobre a Igreja clandestina, ora atenuando-a, consoante as circunstâncias e os seus interesses momentâneos.

Para Roma, a missão revela-se delicada: tem de velar, ao mesmo tempo, pela liberdade dos cristãos, de trabalhar pela reunificação dos católicos chineses na fidelidade ao Papa, de garantir a formação teológica e pastoral das comunidades e de pôr os fiéis de sobreaviso contra os atrativos da sociedade de consumo, em pleno desenvolvimento na sociedade chinesa. (...)

 

A questão dos lefebvristas

Resolver o cisma de 1988, criado por D. Marcel Lefebvre, chefe de fila da contestação integrista ao Concílio Vaticano II, era uma das prioridades do pontificado anterior.

Há que constatar que o papa Bento XVI não venceu a sua aposta de trazer de volta, ao seio da Igreja católica, os grandes batalhões da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX). Apesar dos esforços envidados para levantar a excomunhão aos quatro bispos cismáticos e para liberalizar a celebração da Missa em Latim, apesar da proposta de erigir canonicamente a FSSPX numa prelatura comparável à que rege o Opus Dei, apesar de tudo isso, os católicos integristas de D. Fellay não se dignaram assinar os protocolos de acordo que lhes tinham sido submetidos por Roma. Como que se entrincheiraram numa oposição irredutível aos grandes princípios do Concílio Vaticano II, que são a liberdade religiosa, o ecumenismo e o diálogo inter-religioso.

Como as negociações entre a FSSPX e a Congregação para a Doutrina da Fé foram interrompidas, levanta-se a questão de saber se o papa Francisco vai relançar o processo de negociação ou se o vai deixar adormecido por algum tempo. (...)

 

O diálogo inter-religioso

João Paulo II foi o grande promotor do diálogo inter-religioso, convocando em 1986 os grandes chefes religiosos do Planeta para uma jornada de oração pela paz, em Assis. Foi o primeiro Papa a entrar numa sinagoga e numa mesquita. E o ano 2000, jubileu do cristianismo, foi a ocasião de ele realizar atos de arrependimento por todos os crimes cometidos pelos católicos, – desde a Inquisição ao antissemitismo contemporâneo – ao longo da história.

Diante do Kotel, ou Muro das Lamentações, em Jerusalém, João Paulo II pediu perdão pelas perseguições cometidas em nome do antijudaísmo cristão. O seu sucessor, Bento XVI, começou por se mostrar reticente frente ao «relativismo» que poderia ser suscitado por manifestações inter-religiosas que valorizassem os pontos de convergência em detrimento dos pontos de divergência.

Em 2006, Bento XVI proferiu uma conferência sobre a fé e a razão, na Universidade de Ratisbona, que suscitou vivas reações nos países islâmicos. Ela deu origem à suspensão das relações entre o Vaticano e o xeique da universidade muçulmana egípcia de Al-Azhar, a mais importante autoridade do sunismo mundial. Os espíritos acalmaram-se depois do êxito da visita do Papa à Turquia.

Para Bento XVI o diálogo teológico entre as religiões está votado ao fracasso. Assim, ele promove uma abordagem «cultural» das relações inter-religiosas, sobretudo com o Islão, em que os crentes se sentem motivados a entenderem-se com base em valores comuns.

Com o Judaísmo, as relações foram mais pacíficas e cordiais, exceto em duas ocasiões: primeiro, quando o Papa reabilita a oração da Sexta-feira Santa pela conversão dos Judeus, na versão do missal publicado em 1962. Em seguida, quando se tenta de novo proceder à beatificação de Pio XII, cuja atitude, durante a Segunda Guerra Mundial, levanta vivas polémicas na comunidade dos historiadores e no mundo judeu.

Caberá ao papa Francisco imprimir a sua visão pessoal do diálogo entre as religiões. E também precisar a sua posição frente ao Islão, uma religião de presença discreta e de lenta evolução na América Latina.

 

Redefinir o ecumenismo

Depois de ter sido uma «ardente obrigação» do Concílio Vaticano II, o ecumenismo parece marcar passo. Todos estes anos de diálogo parecem não ter dado quaisquer resultados tangíveis. A não ser, talvez, na Colina de Taizé, na Borgonha, onde os membros da comunidade monástica fundada pelo Irmão Roger Schutz continuam a transmitir a sua paixão pela unidade aos cem mil jovens europeus que os visitam todos os anos.

Consciente do impasse em que se encontra a atividade ecuménica, Bento XVI reorientou-a para um objetivo mais global: a luta contra o relativismo cultural, ambiente que proíbe o debate do conteúdo da fé. O objetivo é menos o diálogo pelo diálogo do que a procura das formas que preparam um retorno à unidade da Igreja depois dos mal-entendidos terem sido postos de parte. Uma tradução concreta dessa conceção teve lugar com os três ordinariatos concedidos aos anglicanos que desejavam juntar-se à Igreja católica.

Com o mundo ortodoxo o diálogo foi relançado por iniciativa do papa Bento XVI. Mas as conversações continuam complicadas devido ao confronto entre os patriarcados de Moscovo e Constantinopla, alimentado pelas suas divergências sobre a noção de primado e a organização das diásporas.

Durante o pontificado precedente, as relações estreitaram-se entre a Igreja católica e o Patriarcado moscovita. Em bora ainda distantes nas questões de governo, reaproximaram-se sobre as questões morais. O principal obstáculo a esses avanços ecuménicos é o renascimento, desde há cerca de vinte anos, das Igrejas católicas «uniatas», ou seja, unidas a Roma. Ora alguns russos, ucranianos e romenos de origem ortodoxa sentem-se atraídos por essas Igrejas, que lhes parecem mais independentes do poder político e mais acolhedoras em relação à modernidade. Moscovo censura a Roma o proselitismo e a ausência de concertação ao criar episcopados em regiões de tradição ortodoxa! (...)

 

As violências contra os cristãos

O Vaticano inquieta-se com a sorte das minorias cristãs no mundo muçulmano e com o futuro dos cristãos do Oriente. Cerca de treze milhões de cristãos vivem no Próximo e no Médio Oriente, incluindo a Turquia e o Irão. Mas, frente às dificuldades políticas e económicas, frente à escalada dos integrismos muçulmanos e aos diversos conflitos que sacodem essas regiões, muitos optam por emigrar definitivamente para a Europa, América do Norte ou Austrália, apesar desse número não parar de decrescer.

Assim, metade dos quinhentos mil cristãos que viviam no Iraque até à invasão anglo-americana de 2003 foi exilada. A este ritmo, predizem numerosos observadores do Oriente, em breve, deixará de existir cristianismo oriental, embora este, com dois mil anos de idade, portanto anterior ao do Ocidente, tenha sobrevivido a muitos dramas e perseguições desde o nascimento do Islão, no século VII.

Na Síria, entregue a uma guerra civil que nesta primavera de 2013 perfaz dois anos, os cristãos representam dez por cento da população. Sentem-se cativos de uma situação inextricável, entre um regime reprovado e uma rebelião que abrange elementos da jihad. Contudo, vários militantes cristãos uniram-se ao Conselho Nacional Sírio, no exílio, para mostrar que essa comunidade quer tomar parte na mudança, no dia em que o regime de Bashar al-Assad cair. Esta forma de atuar pelo reconhecimento dos direitos dos cristãos da Síria talvez permita evitar um êxodo maciço, como o dos cristãos do Iraque.

A Igreja católica reivindica a liberdade de culto onde a construção de igrejas e a prática religiosa são interditas ou severamente controladas. No Paquistão, por exemplo, as legislações contra a blasfémia provocaram perseguições que se mantêm mais ou menos latentes. Para estabilizar a presença das comunidades cristãs do Oriente, enfraquecidas pelos conflitos e guerras civis na região, o Vaticano advoga não só direitos específicos mas a ideia de uma cidadania idêntica para todos.

Em outubro de 2010, o Sínodo dos Bispos para o Médio Oriente manifestou a sua profunda inquietação face ao futuro, e até à sobrevivência, das suas comunidades divididas segundo diversos ritos (sírio, copta, arménio, caldeu, bizantino, maronita...) e com pouca ligação entre si. Durante o seu pontificado, Bento XVI nunca cessou de chamar a atenção da comunidade internacional para a sorte dessas Igrejas, tantas vezes ameaçadas e até atacadas. (...)

«A perseguição dos cristãos constitui a primeira urgência mundial em matéria de violência; nenhuma outra fé é tão combatida», considera o sociólogo Massimo Introvigne, de Turim, diretor do Centro de Estudos sobre Novas Religiões (CESNUR) e coordenador do Observatório da Liberdade Religiosa no ministério italiano dos Negócios Estrangeiros.

Segundo ele, cento e cinco mil cristãos de todas as confissões foram mortos no mundo em 2012. Além disso, dez por cento dos dois mil milhões de cristãos, ou seja, duzentos milhões de pessoas, são perseguidos por causa da sua fé, principalmente em África e na Ásia. As perseguições sangrentas podem ser conduzidas em nome do Islão (na Ni géria, com a seita islâmica Boko Haram; no Paquistão, com o movimento fundamentalista sunita Jamaat-e-islami; no Egito ou no Iraque, para se «vingarem» do Ocidente); ou do Hinduísmo (na Índia, com o RSS), ligado ao partido nacionalista BJP. Também podem estar ligadas a confrontos entre grupos étnicos (na República Democrática do Congo) ou entre grupos tribais que opõem cristãos e muçulmanos (no Sudão, na Etiópia...).

 

A liberalização dos costumes

Nenhum país europeu é poupado pela secularização. Alguns, mais do que outros: a Irlanda foi desestabilizada pelos casos de abusos sexuais que incriminam sacerdotes e bispos. A Áustria conhece uma vaga de contestações no seio da própria Igreja: quatrocentos sacerdotes assinaram um «apelo a desobedecer», anunciando que dariam a comunhão aos divorciados que se recasaram.

Na Alemanha, a contestação também se faz sentir! Em 2011, centenas de sacerdotes e diáconos reclamaram, por petição, o acesso dos divorciados que se recasaram à Eucaristia. Este tema dilacera a Igreja católica e, há vários anos, que volta a ser abordado em todos os sínodos diocesanos da Europa Ocidental.

Tampouco é o único que serve de tema de debate e que provoca o afastamento dos fiéis, como sucedeu em vários momentos do pontificado de Bento XVI: escândalo dos sacerdotes pedófilos, crise integrista e caso Williamson, Vatileaks.

Em 2011, na Alemanha, foram registadas mais de cento e vinte e seis mil saídas da Igreja. Essa desafeição manifesta-se, aliás, pela diminuição do número dos batismos, casamentos religiosos, vocações e finanças diocesanas!

Ao mesmo tempo grandes abalos éticos agitam todas as sociedades europeias, com os debates sobre o lugar da homossexualidade, da eutanásia e da investigação sobre o embrião, etc. Em França, a Igreja encontra-se na linha da frente da oposição à legalização do casamento homossexual e, em breve, contra os partidários de uma legislação favorável ao suicídio assistido.

Nos Estados Unidos, o episcopado está empenhado num braço-de-ferro com o governo Obama, no que diz respeito à aplicação de uma disposição da lei sobre a saúde que o obrigaria a reembolsar a pílula abortiva, a contraceção e a esterilização para os seus funcionários civis. (...)

 

A crise económica

Em novembro último, um bispo espanhol apelava aos seus sacerdotes que oferecessem o subsídio de Natal à Cáritas. Dava assim o seu apoio a um projeto de lei que visava
impedir os despejos. A crise económica dá ocasião à Igreja de ajudar os casais sobre-endividados e os jovens no desemprego, graças às suas redes paroquiais e aos movimentos e associações caritativos.

Em muitas regiões do mundo confrontadas com a crise desde 2008, ou com uma pobreza mais endémica, a Igreja católica continua a ser um dos principais atores da solidariedade ativa. Mediante as suas universidades e comissões Justiça e Paz, ela representa um dos principais lugares de contestação do capitalismo financeiro, contribuindo para a reflexão e a formação de peritos económicos e de quadros e dirigentes mais preocupados com a repartição das riquezas e a justiça social.

Mas, em termos mais gerais, frente à precariedade, à crise e à pobreza, que pa lavra é que a Igreja poderá ter?, interrogavam-se vários cardeais antes do conclave. O novo Papa, que se distinguiu no seu país natal ao criticar as derivas do capitalismo liberal e financeiro, mostrar-se-á certamente combativo frente a uma mundialização que apenas se gaba dos valores comerciais e nega realidades históricas com as quais o catolicismo está habituado a viver há vários séculos.

 

Michel Cool
In Francisco - Pastor para uma nova época, ed. Paulinas
09.09.13

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Capa

Francisco - Pastor
para uma nova época

Autores
António Marujo
Michel Cool

Editora
Paulinas

Ano
2013

Páginas
192

Preço
12,00 €

ISBN
978-989-673-316-2

 

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