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10.ª Jornada da Pastoral da Cultura

Desemprego em Portugal: «Houve descaso em relação às pessoas», afirma Marçal Grilo

Marçal Grilo considera que a passagem da Troika por Portugal foi marcada por efeitos mais severos do que o que foi anunciado, embora também tenha sido favorável para o país, e defende que «houve descaso em relação às pessoas» no que se refere ao aumento do desemprego.

As declarações do administrador da Fundação Calouste Gulbenkian foram proferidas esta sexta-feira, durante a 10.ª Jornada Nacional da Pastoral da Cultura, que debateu em Fátima o tema "Portugal: a saúde da Democracia".

«Nos últimos anos assistimos muito a uma conceção de que a mão de obra era uma coisa descartável. Deitamo-la fora, e depois se vê. Paga-se-lhe o subsídio de desemprego ou dá-se-lhe só metade, ou vai para a emigração, ou fica a viver em casa dos avós», apontou.

«Nós, que estamos aqui numa organização a que pertencemos, que é a Igreja católica, temos de perceber que isto não condiz com o que afirma o papa Francisco. Ele tem feito uma crítica severa àquilo que são alguns modelos económicos que descartam as pessoas», acrescentou.

Na mesa redonda com o presidente do Conselho de Administração do banco BPI, Fernando Ulrich (cf. Artigos relacionados), Marçal Grilo qualificou de «absurda» «a frase de que o país está bem e as pessoas é que estão mal» e criticou a «atitude infeliz» do governo querer ter ido «além da Troika».

No debate intitulado "O estado da arte da nossa Democracia", moderado pela jornalista Maria João Avillez, o antigo ministro da Educação recordou os 250 mil emigrantes portugueses no último triénio, disse que «a crise económica e financeira vai demorar muito tempo a sanar» e salientou que «a economia [portuguesa] é muito frágil».

Para Marçal Grilo, o balanço da passagem do FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu por Portugal caracterizou-se por «imenso experimentalismo», a par de erros de cálculo: «As consequências das medidas tomadas foram muitíssimo mais gravosas do que aquilo que os planeadores tinham imaginado no início».

«Em 2011, quando se fez o acordo com a Troika, estava previsto que em 2014 o crescimento real fosse na ordem dos 2,5%, que o desemprego fosse de 12%, após passar por um pico de 13,4% em 2012, e que a dívida global se situasse pelos 115% do PIB - agora é de 130%. Ou seja: alguém se enganou», explicou.

O responsável realçou também aspetos positivos devidos à passagem da Troika, começando pelo facto de «os portugueses saberem agora que não devem gastar mais do que aquilo que têm», enquanto que os bancos têm mais cuidado na aprovação de empréstimos.

Por outro lado, prosseguiu, «a poupança tornou-se uma preocupação dos portugueses; mesmo ganhando curto, as pessoas pensam que vale a pena deixar um pouco de lado», «as famílias estão mais conscientes de que é preciso estudar para que os filhos consigam alcançar um emprego ou emigrarem em boas condições», «a casa própria deixou de ser um objetivo», «o consumismo desenfreado de uma certa classe média é capaz de ter terminado» e a «a mentira política vai começar a ser penalizada».

Referindo-se aos resultados das eleições para o Parlamento Europeu, ocorridas a 25 de maio, Marçal Grilo defendeu que «os eleitores estão cansados» com «a forma como tem sido conduzida» a democracia em Portugal.

«Os governos têm normalmente três fases: na primeira, culpam sempre o anterior por todos os males; na fase intermédia, começam a defender-se dos disparates que fizeram; e a fase final, com a preparação das eleições, dizem que estamos numa rampa de lançamento», assinalou.

Segundo Marçal Grilo, a fase que se aproxima «é muito perigosa» no campo económico e financeiro, bem como a nível político, com a eventualidade de Portugal ficar bloqueado na sequência do resultado das próximas eleições legislativas, marcadas para 2015.

«Nunca fizemos em Portugal, desde o 25 de abril [de 1974], uma coligação séria», como a que foi preparada durante dois meses na Alemanha entre os atuais partidos do governo, solução que «não tem a ver com consensos, mas com compromissos», e que é muito mais do que a distribuição de lugares.

Marçal Grilo preconizou que «a primeira reforma que há a fazer é no interior dos partidos», porque as duas maiores forças partidárias em Portugal «foram tomadas internamente por cliques de poder».

Os partidos devem passar a ser «dos eleitores», e não exclusivamente dos «militantes», dando àqueles a possibilidade de manifestarem a sua opinião, por exemplo sobre as personalidades que se deveriam candidatar a primeiro-ministro, ressaltou.

No que se refere às recentes eleições, Marçal Grilo salientou ainda que uma «vantagem» de Portugal em relação a outros países do continente é não haver «nenhum partido de extrema direita», tendência que é hoje «a terceira maior força do Parlamento Europeu»

«É a primeira vez que o partido neonazi alemão elege um deputado para o Parlamento Europeu, o que é um sintoma muito perigoso», acentuou, para logo acrescentar: «Não nos podemos esquecer de que Hitler foi levado ao poder pelos eleitores; não foi por nenhum golpe de estado».

 

Rui Jorge Martins
© SNPC | 03.06.14

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Marçal Grilo
10.ª Jornada da Pastoral da Cultura
Fátima, 30.5.2014

 

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