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Poesia

Dobra: Poesia reunida de Adília Lopes

Dir-se-ia que na poesia de Adília Lopes tudo se passa à superfície, mas uma superfície de onde se avista o abismo. (...)

A sua poesia é uma estação fundamental e singular no percurso da poesia portuguesa desde os anos 80. O seu grande triunfo consistiu em renunciar completamente ao lirismo e às suas tonalidades afectivas, mantendo uma densidade que advém da exploração linguística, em todos os níveis. (António Guerreiro, Expresso, 7.11.2009)

 

S. João da Cruz

Mesmo que pudesse
dizer tudo
não podia dizer tudo
e é bom assim

 

 

Deus é um boomerang

Deus é um boomerang
e eu sou a sua filha pródiga

 

 

Deus é a nossa mulher-a-dias

Deus é a nossa
mulher-a-dias
que nos dá prendas
que deitamos fora
como a vida
porque achamos
que não presta

Deus é a nossa
mulher-a-dias
que nos dá prendas
que deitamos fora
como a fé
porque achamos
que é pirosa

 

 

O tempo é sagrado

O tempo
é sagrado

O tempo
é templo

 

 

Deixa o dia de ontem

Deixa
o dia de ontem
com Deus

E vive
em paz
a espera

A cada dia
basta
a sua pena

E
o amanhã
é
como o arco-íris

Um anjo
está contigo
quando desanimas

Um anjo
está contigo
quando te alegras

Sempre
um anjo
está contigo

E
o arco-íris
brilha
como a água
que corre

 

 

O poema não deve ser raciocinado

O poema
não deve ser
raciocinado
deve ser
extasiado

 

 

É tudo tão novo

É tudo
tão novo
para mim

Novo
como um ovo

Novo
como um noivo

José
noivo de Maria
é novo

Um ovo
de serpente
um ovo
de Eva
um ovo
de Maria

 

 

A ti tudo te foi dado

A ti tudo
te foi dado
e não tratas
os outros
com doçura

És um nababo
e és um nabo
(quem te dera
seres um nabo)

 

 

Textos ensanguentados

Textos
ensanguentados
como feridas

Gralhas
ensanguentadas

Textos
gelados
como árvores
no Inverno

Textos
como árvores
cortadas
aos bocados

Textos
como lenha

Textos
como linho

Textos
brancos
como a noite

Textos
brancos
como a neve

Textos
sagrados

Textos
bifurcados
como ramos

Textos
unos
como troncos

 

 

A hera escreve

A hera
escreve
sobre a era
os nomes
e os números
vegetais

A escrita
de Deus
de súbito
matéria

A pedra
transcendente
a lagartixa
anjo

O opaco
transparente
como água
boa para beber

A escrita
de Deus
não pode
ser descrita

 

 

Ficar à escuta

Ficar
à escuta

À escuta
do silêncio

 

 

Nota 4

Se tu amas por causa da beleza, então não me ames!
Ama o Sol que tem cabelos doirados!

Se tu amas por causa da juventude, então não me ames!
Ama a Primavera que fica nova todos os anos!

Se tu amas por causa dos tesouros, então não me ames!
Ama a Mulher do Mar: ela tem muitas pérolas claras!

Se tu amas por causa da inteligência, então não me
ames!
Ama Isaac Newton: ele escreveu os Princípios Matemáticos da Filosofia Natural!

Mas se tu amas por causa do amor, então sim, ama-me!
Ama-me sempre: amo-te para sempre!

 

 

Sur la croix

Sur la croix
on gémit
et on prie

 

 

Estes poemas integram o livro «Sur La Croix», edição do SNPC limitada a 60 exemplares para assinalar a 2.ª Jornada da Pastoral da Cultura (2006).

 

Adília Lopes
18.11.09

Capa

Dobra
Poesia reunida

Autor
Adília Lopes

Editora
Assírio & Alvim

Ano
2009

Páginas
688

Preço
€ 36,01

ISBN
978-972-371-349-7

 

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