Igreja «é também a casa dos cristãos divorciados e daqueles que se recasaram», considera novo bispo do Porto
D. António Francisco dos Santos, que o papa Francisco nomeou esta sexta-feira bispo do Porto (cf. Artigos relacionados), considera que a Igreja deve ter mais atenção às pessoas que se separaram do seu cônjuge ou que se voltaram a casar.
«A consciência de que a Igreja é também a casa dos cristãos divorciados e daqueles que se recasaram, e o desejo expresso de que o exercício da justiça também nos Tribunais Eclesiásticos deve ser mais célere não bastam para tranquilizar pessoas que desejam viver uma comunhão maior de fé, de sacramentos e de missão na Igreja», sublinha.
As palavras do prelado constam do prefácio ao livro “Alianças partidas – Divorciados recasados e outras situações irregulares perante o matrimónio”, do padre Manuel Joaquim Rocha, padre da diocese de Aveiro, de que D. António Francisco dos Santos foi bispo desde 2006.
«Urge uma pastoral matrimonial e familiar mais atenta aos novos problemas para que, longe de submetermos estes casais à resignação ou de os precipitarmos no afastamento da Igreja, lhes saibamos incutir esperança e incentivar novos caminhos a quem nunca falte a certeza da misericórdia e bondade de Deus e a garantia da presença materna da Igreja», frisa o bispo no texto que abre a obra publicada em 2010 pela Paulinas Editora.
No início do prefácio, escreve D. António Francisco dos Santos: «Há situações na vida que sempre procuramos distanciar. Há realidades que frequentemente preferimos ignorar. Há acontecimentos que nos afugentam e sofrimentos cuja dor não imaginamos. O divórcio inscreve-se, numa primeira abordagem, neste âmbito».
«Um divórcio ultrapassa as fronteiras do próprio casal. Implica os filhos, os pais e quantas vezes mesmo outros familiares e amigos com quem se partilham relações de proximidade e de vizinhança» que constituem «a rede social de uma vida afectiva e social equilibrada».
Neste enquadramento, «a Igreja, pela sua própria natureza e missão, sente-se no cerne» da realidade do divórcio, «que é chamada a prevenir e a evitar, ou quando isso já não é possível procura diminuir e reparar os seus efeitos mais nocivos».
«Recordo o tempo e interiorizei as razões que levavam a que a única família da minha aldeia que não era casada, porque a esposa tinha tido um primeiro casamento, vivesse numa quinta afastada da povoação e distanciada do convívio habitual e saudável de toda a comunidade. Já nesse tempo me intrigava que houvesse famílias das terras vizinhas que desaconselhavam os seus filhos a não namorarem com as filhas desta família. Era o medo que o futuro pudesse repetir ou replicar o passado!»
Atualmente, prossegue o bispo eleito do Poto, a realidade «mudou e quase se inverteu a situação, o que não augura tempos melhores nem respostas de inclusão mais felizes».
«Todos sabemos que o divórcio é uma realidade social e cultural avassaladora. Pensar doutra forma nos tempos que passam é ser ingénuo, mas aceitar com fatalismo esta situação é negarmos as razões da nossa fé, que radica no valor sagrado da família um dos alicerces mais sólidos da humanidade que Deus sonhou para nós, e poderia significar que abdicamos de dar ao mundo as razões de esperança que o mundo de hoje tem direito a esperar dos cristãos», sublinha.
Para D. António Francisco dos Santos, «a Igreja deve ser lugar de esperança para o mundo e porta aberta aos que procuram Deus».
Rui Jorge Martins
© SNPC |
21.02.14
Foto: Diocese de Aveiro