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A crise em Portugal filmada com «admirável pudor e compreensão»: Igreja destaca "Colo", de Teresa Villaverde

A crise em Portugal filmada com «admirável pudor e compreensão»: Igreja destaca "Colo", de Teresa Villaverde

Imagem Cartaz (det.) | D.R.

A Signis, Associação Católica Mundial para a Comunicação, dá destaque ao filme "Colo", de Teresa Villaverde, estreado no festival de cinema de Berlim, que decorreu de 9 a 19 de fevereiro.

Durante pouco mais de duas horas, a cineasta «segue com obstinação o colapso gradual de uma família portuguesa de classe média atingida pela bancarrota económica do país», escreve Alberto Ramos.

«São três personagens, mas Mário, o pai, e Marta, a filha adolescente, centram a atenção com as suas histórias; a mãe, por seu lado, assiste como testemunha, até que finalmente precipita a dissolução do lar ao adoecer, perder o emprego e decidir uma mudança que implicará a separação, pelo menos momentânea», refere o texto.

No pai, «o desespero adquire matizes patéticos», com a fome a empurrá-lo para os restos de comida rejeitados por outros, a ansiedade que o leva a "sequestrar" um vizinho, a consideração do suicídio, a fugas de casa, que «expressam o desejo inconsciente de conjurar o pesadelo do desemprego que compromete as suas obrigações de pai e esposo».



A encenação «remete para uma estética tardomodernista (composições estáticas com escassos movimentos de câmara; afastamento do gesto e da palavra; redução da gama cromática, por exemplo, interiores saturados de vermelhos e ocres, em contraste com o predomínio de verdes e cinzentos nos exteriores), correlato simbólico da opressiva rarefação que antecede a implosão do mundo familiar



«Haverá gestos de outros que o reconciliarão com a vida, como a criança que lhe oferece água», mas «será a tragédia de Júlia, condiscípula de Marta que enfrenta o dilema do aborto ou o destino incerto de mãe solteira em tempo de crise, que lhe devolverá a confiança em si mesmo», observa o comentário.

O pai «não só salva Júlia do suicídio, como decide, contra toda a lógica, encarregar-se do bebé quando nascer. Dir-se-ia que perante Júlia, como Marta, se sente responsável, comovido pela fragilidade das adolescentes».

O texto, intitulado "Berlinale 2017: família, política e sociedade, os rostos de uma crise global", menciona igualmente o caminho da filha, «que em grande medida recorda o do pai: escapadas noturnas, acolhida por desconhecidos que se cruzam no seu caminho (o pescador), erosão dos afetos familiares e amorosos».

«Mas a sua opção, por fim, é muito mais radical. Enquanto os pais encontram refúgio numa geografia menos hostil», Marta opta «pela renúncia ao lar instituído e regressa à mísera cabana do pescador, ao "conforto dos estranhos"», nota o articulista.



Para a cineasta, a crise «é mais do que económica» - e aqui recordamo-nos das palavras de vários papas: «É também a crise da família, do pouco tempo que as pessoas têm para viver, para falar umas com as outras»



Em "Colo", a encenação «remete para uma estética tardomodernista (composições estáticas com escassos movimentos de câmara; afastamento do gesto e da palavra; redução da gama cromática, por exemplo, interiores saturados de vermelhos e ocres, em contraste com o predomínio de verdes e cinzentos nos exteriores), correlato simbólico da opressiva rarefação que antecede a implosão do mundo familiar, esse (literal) naufrágio nas trevas rematado com admirável pudor e compreensão pela realizadora num fim memorável».

«É um filme bastante justo no seu tempo, na importância do silêncio. Não quis usar efeitos cinematográficos, porque estávamos a falar das pessoas, da solidão das pessoas», explicou Teresa Villaverde ao Público, aquando da estreia mundial do filme, em Berlim.

Para a cineasta, a crise «é mais do que económica» - e aqui recordamo-nos das palavras de vários papas: «É também a crise da família, do pouco tempo que as pessoas têm para viver, para falar umas com as outras».

«Quis retratar a solidão, e o modo como ela existe dentro de uma estrutura que se deteriora, porque quando existe uma crise económica todos os outros problemas parecem ser exacerbados. Dos meus filmes, talvez este seja aquele onde o silêncio se sente mais. É mais importante aquilo que não se diz, que fica por dizer», assinalou.









 

SNPC
Fontes: Signis, Público
Publicado em 05.04.2017

 

 
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