Fé e cultura
Igreja «não tem nada a perder» com «debates intelectuais», diz arcebispo de Braga
O arcebispo de Braga considera que a Igreja deve perder o medo de discutir publicamente as suas perspetivas para evitar que a crença continue a perder relevância nas grandes opções da sociedade.
«A pouca incidência da fé nos problemas deve-se, creio eu, ao receio de debates intelectuais com a alteridade. Afinal, não temos nada a perder, tal como comprova o sucesso do evento Átrio dos Gentios», afirmou D. Jorge Ortiga este domingo, durante a missa em que foi celebrado o Dia Nacional da Universidade Católica Portuguesa, refere o site da arquidiocese.
Para o arcebispo primaz «o ensino em Portugal corre o sério risco de hipervalorizar as áreas científicas e relativizar as áreas humanas e sociais. Com razão afirma o presidente do Centro Regional de Braga, numa entrevista esta semana: “o desinteresse pelas ciências sociais e humanas, em Portugal, vai pagar-se caro do ponto de vista cultural”».
«Como Universidade Católica, é-nos exigido uma diferença substancial pois o “mundo necessita de um novo pensamento e de uma nova síntese cultural”, escreve o Papa Bento XVI», recordou o presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana.
Na homilia em que fez referência ao pintor alemão Albrecht Dürer e ao filme "A Vida de Pi", recentemente estreado em Portugal, o prelado sugeriu a inclusão de «uma unidade curricular comum em todos os cursos [da Universidade Católica], onde se reflita a problemática humana e religiosa, de modo a percepcionar a diferença cristã em benefício da verdade do próprio Homem».
«Como subsídio para os vossos trabalhos académicos, o Catecismo da Igreja Católica terá sempre uma ideia, uma informação, uma certeza, um juízo, uma premissa, um princípio, um valor ou um conceito para vos oferecer e que enriquecerá certamente a vossa reflexão em defesa da verdade e da dignidade do Homem», afirmou.
O diretor do Centro Regional de Braga da Universidade Católica, João Duque, lembrou em entrevista publicada no semanário "Igreja Viva", que a instituição presta «um serviço muito próprio à cultura» e «tem uma missão concreta, que não pretende atingir o lucro».
O responsável anunciou que o pólo de Braga vai ter «em breve» um curso de Artes e Design na Faculdade de Filosofia.
A Universidade Católica Portuguesa, instalada em Lisboa, Porto, Braga e Viseu, concedeu graus a mais de 20 mil alunos nos seus 46 anos de existência.
O Átrio dos Gentios, plataforma da Igreja Católica para o diálogo entre crentes e não crentes promovida pelo Vaticano, passou pela primeira vez em Portugal no mês de novembro, com sessões em Guimarães e Braga, que eram então Capitais Europeias da Cultura e da Juventude.
Rui Jorge Martins
© SNPC |
04.02.13

D. Jorge Ortiga
Foto: Ricardo Graça/Correio da Manhã








