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Igreja quer ouvir jovens que lhe deem «propostas de proximidade e resposta»

Igreja quer ouvir jovens que lhe deem «propostas de proximidade e resposta»

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A Igreja quer «escutar auscultar vozes que, a partir da sua vivência ou experiência», lhe deem «propostas de proximidade e resposta», afirmou hoje o bispo D. Pio Alves, na abertura da 13.ª Jornada Nacional da Pastoral da Cultura, que debate, em Fátima, o tema "'Out of the box': A relação dos jovens com a Cultura".

«[A Jornada] será a nossa modesta contribuição a uma problemática social e eclesial: sempre atual; nem sempre presente», sublinhou o presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, responsável pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, que organiza a Jornada.

Para o prelado, «mesmo dentro da Igreja, não é facilmente compreensível» que, a pouco mais de um ano da realização do Sínodo dos Bispos, sobre "Os jovens, a fé e o discernimento vocacional", a análise e reflexão sobre o mundo juvenil «quase não tenham entrado em velocidade de cruzeiro».

«É notória a diferença, para menos, da receção, na comunicação global, deste tema quando comparado com o objeto do sínodo anterior sobre a família. E, ainda que situados em âmbitos distintos, a juventude não é menos importante. Mistérios!», apontou D. Pio Alves, um dos bispos auxiliares do Porto.



A reflexão sobre a juventude, como aliás qualquer outra questão, não pode ignorar o passado nem desistir do futuro. Mas uma e outra interessam primordialmente para viver o presente: com chão e esperança



Para o responsável, «a Igreja precisa da juventude e a juventude precisa da Igreja», e o mesmo também acontece com a Sociedade, necessitada de «sangue novo»: «Os jovens, muito mais que qualquer outro grupo etário, têm melhores condições para, mais livres de condicionalismos e interesses consolidados, ultrapassar barreiras artificiais e vícios reais».

«Cabe à Sociedade, mormente aos mais adultos e aos que detém particulares responsabilidades na organização social, descobrir e ajudar a descobrir, sem favor, cominhos de integração. As diferenças não têm por que dividir: devem somar», frisou.

Para D. Pio Alves, «não é só o futuro que está em causa: é também o presente. Não é só a Sociedade e a Igreja que estão em causa: é a dignidade e possibilidade de sentido e felicidade de cada irrepetível ser humano».

Referindo-se ao tema do Sínodo dos Bispos, o prelado acentua que, dentro da Igreja, «é tempo de que, de uma vez por todas, não se identifique discernimento vocacional / sentido para a vida, basicamente, com a opção pelo ministério ordenado ou vida consagrada».

«Na descoberta do sentido para a vida entra a escolha consciente de um entre todos os caminhos possíveis. Estes, certamente. Mas também a vocação matrimonial, profissional e qualquer outra opção adicional. Descobrir o desejado lugar na Sociedade e lutar por ele constituem, no fim de contas, o fundamento primordial para o sentido da vida», assinalou.



Por parte da Igreja é tempo de que, de uma vez por todas, não se identifique discernimento vocacional / sentido para a vida, basicamente, com a opção pelo ministério ordenado ou vida consagrada



Esta é a última participação de D. Pio Alves na Jornada Nacional da Pastoral da Cultura enquanto presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, por ter concluído o segundo mandato consecutivo na direção daquele organismo da Conferência Episcopal Portuguesa.

De acordo com o resultado das eleições realizadas na assembleia plenária do episcopado realizada em maio, a Comissão Episcopal da Cultura passará a ser presidida por D. João Lavrador, bispo de Angra.

 

Intervenção de abertura da 13.ª Jornada Nacional da Pastoral da Cultura - Texto integral
Fátima, 3.6.2017
D. Pio Alves

1. A escolha do tema destas Jornadas nasceu no encontro com o Cardeal Ravasi, no âmbito da Visita ad Limina, que os bispos portugueses fizemos em setembro de 2015. Nessa reunião de trabalho, o Presidente do Conselho Pontifício para a Cultura comentou os assuntos que estavam na primeira linha das preocupações da Santa Sé. Entre eles, a juventude ocupava lugar destacado.

Quando tínhamos já decidido que abordaríamos esta problemática nestas Jornadas, soubemos que o próximo Sínodo dos Bispos (outubro de 2018), por feliz coincidência, se ocuparia também da juventude numa perspetiva abrangente: “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.



«Acompanhar os jovens, diz o Documento Preparatório do Sínodo dos Bispos, exige sair dos próprios esquemas pré-fabricados, encontrando-os lá onde eles estão, adaptando-se aos seus tempos e aos seus ritmos»



A nossa abordagem, aqui, pretende ser uma amostra global, necessariamente sumária, de algumas das muitas análises e reflexões que esta temática suscita. Não pretendemos olhar apenas de fora para o mundo da juventude; tentaremos também auscultar vozes que, a partir da sua vivência ou experiência, nos apontem propostas de proximidade e resposta.

Será a nossa modesta contribuição a uma problemática social e eclesial: sempre atual; nem sempre presente. Com efeito, mesmo dentro da Igreja, não é facilmente compreensível que, a pouco mais de um ano da realização do Sínodo, esta análise e reflexão quase não tenham entrado em velocidade de cruzeiro. É notória a diferença, para menos, da receção, na comunicação global, deste tema quando comparado com o objeto do sínodo anterior sobre a família. E, ainda que situados em âmbitos distintos, a juventude não é menos importante. Mistérios!

 

2. A reflexão sobre a juventude, como aliás qualquer outra questão, não pode ignorar o passado nem desistir do futuro. Mas uma e outra interessam primordialmente para viver o presente: com chão e esperança. Se é verdade que a Sociedade não pode desistir da juventude, muito menos a Igreja: porque a Igreja precisa da juventude e a juventude precisa da Igreja. Quando digo que a Igreja precisa da juventude não me refiro, primordialmente, aos serviços intraeclesiais que os jovens assumem e sem os quais muitas das suas atividades cessariam por falta de obreiros. Estou a pensar, em primeiro lugar, no sangue novo que a Sociedade necessita. E os jovens, muito mais que qualquer outro grupo etário, têm melhores condições para, mais livres de condicionalismos e interesses consolidados, ultrapassar barreiras artificiais e vícios reais.

Enquadram-se aqui os dois tópicos que o tema do Sínodo acrescenta à consideração sobre a juventude: fé e discernimento vocacional. Fé – fé cristã – como raiz vigorosa e suporte consolidado da novidade de vida (cf 2Cor 5, 17; Rom 6, 4); discernimento vocacional (isto é, sentido para a vida) como tarefa necessariamente pessoal e livre, desejavelmente balizada por testemunhos credíveis e pela disponibilidade para ouvir e acompanhar.



Nada disto é viável sem trabalho, sem esforço: por parte dos mais adultos, dos jovens, de todos. Mas vale a pena esse esforço. Não é só o futuro que está em causa: é também o presente



Por parte da Igreja é tempo de que, de uma vez por todas, não se identifique discernimento vocacional / sentido para a vida, basicamente, com a opção pelo ministério ordenado ou vida consagrada. Na descoberta do sentido para a vida entra a escolha consciente de um entre todos os caminhos possíveis. Estes, certamente. Mas também a vocação matrimonial, profissional e qualquer outra opção adicional. Descobrir o desejado lugar na Sociedade e lutar por ele constituem, no fim de contas, o fundamento primordial para o sentido da vida.

 

3. Neste contexto, compreende-se melhor que não haja espaço para exclusões. Todos cabem. Pôr em dúvida esta afirmação é o mesmo que rejeitar liminarmente a igual dignidade de todo ser humano.

Cabe à Sociedade, mormente aos mais adultos e aos que detém particulares responsabilidades na organização social, descobrir e ajudar a descobrir, sem favor, cominhos de integração. As diferenças não têm por que dividir: devem somar.

“Acompanhar os jovens, diz o Documento Preparatório do Sínodo dos Bispos, exige sair dos próprios esquemas pré-fabricados, encontrando-os lá onde eles estão, adaptando-se aos seus tempos e aos seus ritmos; significa também levá-los a sério na dificuldade que têm de decifrar a realidade em que vivem e de transformar um anúncio recebido em gestos e palavras, no esforço quotidiano de construir a própria história e na busca mais ou menos consciente de um sentido para as suas vidas”.

Nada disto é viável sem trabalho, sem esforço: por parte dos mais adultos, dos jovens, de todos. Mas vale a pena esse esforço. Não é só o futuro que está em causa: é também o presente. Não é só a Sociedade e a Igreja que estão em causa: é a dignidade e possibilidade de sentido e felicidade de cada irrepetível ser humano.



 

SNPC
Publicado em 04.06.2017 | Atualizado em 24.04.2023

 

 
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