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Tradição e contemporaneidade

Joana Vasconcelos e a rede do andor de Afurada: «Deus serve-se de tudo»

O andor de São Pedro, o mais importante das festas da Afurada que hoje têm o seu ponto alto com a procissão, conta este ano uma rede de oito por seis metros executada pelos pescadores locais e concebida pela artista Joana Vasconcelos.

O coordenador das paróquias de Gaia, padre António Baptista, viu pela primeira vez o trabalho de Joana Vasconcelos este sábado, pela televisão, o mesmo acontecendo ao padre José Pires, que acompanha mais de perto a comunidade da Afurada.

Em declarações ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, o padre José Pires espera que muitos turistas sejam atraídos pela obra de Joana Vasconcelos e sublinha que «Deus serve-se de tudo» para chegar às pessoas.

O sacerdote recorda que a escritora francesa Simone Weil (1909-1943), autora de obras como “A Espera de Deus”, passou por uma experiência religiosa determinante na sua vida quando numa noite de lua cheia testemunhou, numa praia do norte de Portugal, uma procissão de velas protagonizada por mulheres de pescadores.

O programa das festas da Afurada prevê a saída do andor de São Pedro às 15h30 de domingo, para deposição de coroa de flores no mar, seguindo-se a procissão.

Transcrevemos de seguida excertos da peça que o semanário “Expresso” (revista “Atual”) apresentou este sábado sobre a rede tecida pelos pescadores e por Joana Vasconcelos.

FotoFoto: António Pedro Ferreira / Expresso

 

Nova Afurada
Cristina Margato

Nó após nó, as mãos dos homens avançam sobre o fio dourado. No ateliê de Joana Vasconcelos, junto ao rio Tejo, em Lisboa, uma rede – de oito metros de comprimento por seis metros de largura – nasce dos braços tisnados dos pescadores da margem esquerda do Douro.

Manuel Granja, 38 anos, mestre de redes da Afurada – habituado a arranjar malhas mais pequeninas para apanhar sardinha –, vai reunindo as parcelas em que os outros três companheiros trabalha.

Foto Procissão de São Pedro da Afurada em anos anteriores. Foto: Gaspar de Jesus

“A Rede” – como a artista até então lhe chama – é a única encomenda que aceitou fazer fora do conjunto que preparou, ao longo do último ano, para apresentar em Paris, no Palácio de Versalhes.

Uma exceção que se deve, sobretudo, à raridade do pedido: «Pareceu-me extraordinário que um grupo de pescadores quisesse que um artista plástico interviesse num andor. Tive de aceitar. É engraçado pensar que os artistas não servem para nada, e depois aparece um exemplo como este em que os artistas podem servir a comunidade. É um pedido especial. E foi atendido».

FotoGaspar de Jesus

Mas não é um pedido que a introduza em assuntos religiosos. Sem fé nem batismo, Joana Vasconcelos não se aventura pela primeira vez nos territórios da Igreja: já fez um Santiago de Compostela, um Presépio de Natal e uma Nossa Senhora de Fátima.

Noano passado as festas de São Pedro da Afurada bateram o recorde de andores. Contaram-se 49, numa festa que é levada muito a sério pelas famílias dos cerca de mil pescadores.

FotoGaspar de Jesus

Este ano o investimento saiu reforçado. À comissão local, dos pescadores, associou-se o Turismo da Região, através do Festival do Norte. AS possibilidades de dar um novo impulso às festas e de ter uma intervenção artística na procissão foi, por sua vez, uma proposta da direção artística do festival – pela qual é responsável o Centro de Criação para o Teatro e Artes de Rua, que Renzo Narsotti fundou em Santa Maira da Feira; e com a qual Joana Vasconcelos já tinha trabalhado anteriormente, no âmbito do Festival Imaginarius.

FotoGaspar de Jesus

Juntar o saber dos pescadores com o da artista plástica foi uma ideia que acabou por ser recebida com entusiasmo tanto pela organização local da festa como por ela. Os pescadores viram nesta contribuição uma forma de dar mais «dignidade» à festa, e Joana Vasconcelos teve a possibilidade de cumprir aquela que considera ser uma velha função do artista, a de responder às necessidades da comunidade: «Estou a trabalhar com eles e para que eles fiquem contentes».

FotoGaspar de Jesus

Com a ajuda de Manuel Granja, Joana Vasconcelos dispõe a rede em redor do barco-andor. O efeito é o de um manto protetor, que se estenderá também sobre os pescadores que irão carregar a imagem de São Pedro ao longo da procissão que decorre este domingo. E é esse, também, o simbolismo que a artista deseja para aquela peça.

Sobre ela acrescentar-se-ão as habituais decorações de flores naturais, feitas pelos habitantes da Afurada, e mais uns efeitos que a artista concebeu e que ficarão integrados no andor.

 

Cristina Margato (Expresso, 30.6.2012)
Rui Jorge Martins
© SNPC | 01.07.12

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Foto
Joana Vasconcelos
Foto: António Pedro Ferreira/Expresso

 

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