«Nos EUA a primeira temporada foi fortíssima: audiências excecionais em crescimentos constante, tanto que após um par de episódios o acordo para o bis já estava pronto. Intitula-se "Empire" e é uma enfática série televisiva sobre música, entendida como arte e como negócio, mas também uma reflexão sobre a difícil, se não impossível, convivência entre o amor e o poder, capaz, neste cintilante drama musical, de envenenar até as almas mais puras.»
É com estas palavras que a edição de hoje do jornal do Vaticano, "L'Osservatore Romano", analisa a série "Império", igualmente transmitida em Portugal na televisão por cabo.
Os «riquíssimos» cinco protagonistas afroamericanos de "Empire" habitam a cidade de Filadélfia, «superabundante de comunicação virtual, mas ainda atravessada por antigas tensões raciais e de classe», escreve Edoardo Zaccagnini.
O mundo da família Lyon, em torno do «duríssimo pai Lucious (Terrence Howard), a transbordante e combativa mãe Cookie (Taraji P. Henson) e os filhos Andre, Jamal e Hakeem», é habitado por uma «tensão política e social - velada, mas constante», que confere «realismo» à trama, inspirada nos clãs Ewing, de "Dallas", e Carrington, de "Dynasty".
«Aqui, porém, o petróleo não entra: são a música e o canto as fontes do lucro: Lucious vendia droga e sabia premir o gatilho, mas o talento musical salvou-o, transformando-o primeiro numa estrela do hip-hop, e depois no magnata da Empire Entertainment, a poderosa editora discográfica por ele fundada e conduzida ao sucesso.»
Mas «enquanto descobria a riqueza e o perigoso fascínio do poder, a sua mulher Cookie cumpria 17 anos de prisão para não o trair» e «manteve o silêncio, renunciando a criar os seus filhos».
Quando sabe que esta gravemente doente, Lucious, cínico e endurecido de coração, «decide dar o império a quem dos três filhos o merecer, declarando, de facto, o outro grande modelo a que "Empire" se refere: o rei Lear de Shakespeare».
Sucedem-se os «golpes de cena nesta série de ritmo frenético», mostrando as diferenças de personalidade entre o casal e os três filhos, marcados estes por uma «educação para o poder que produz aquilo que o próprio Lucious define como "o monstro imparável", e que distorce continuamente o conceito de família, que ainda assim, pelo menos a espaços, todos os Lyon mostram ter».
O artigo explica que a série «é escrita por Danny Strong e pelo realizador Lee Daniel, que no centro dos seus filmes já tinha colocado personagens de cor, falando de degradação, pobreza e questões raciais em películas como "Precious" (2009) e "The butler" (2013).
«Aqui, em todo o caso, tudo é mais ligeiro: a violência dilui-se num humor espalhado ao longo desta interessante viagem pela cultura hip-hop americana, que oferece abundantes quantidades de excelente música; as canções, todas rigorosamente originais, são assinadas pelo importante "rapper" e cantautor Timothy Mosley, conhecido no mundo artístico como Timbaland, e são o ingrediente principal de uma série plena de ação em que vários nomes importantes do espectáculo americano se prestam a papéis secundários: Naomi Campbell e Courtney Love na primeira temporada, Marisa Tomei, pelo menos até agora, na segunda», assinala o autor.
«Entre uma e outra nota», «entre uma traição e o enésimo golpe de cena, afloram subtis e preciosas aquelas temáticas sérias que fazem de "Empire" também um espelho do nosso problemático presente», conclui o texto.
Rui Jorge Martins