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Leituras do 25.º Domingo: pistas para meditação

Referências bíblicas

1.ª leitura: Profeta Amós 8, 4-7: «Escutai bem, vós que espezinhais o pobre»;

Salmo: Salmo 112 (113): «Quem se compara ao Senhor nosso Deus?»;

2.ª leitura: Primeira carta a Timóteo 2, 1-8: «Ele quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade»;

Evangelho: Lucas 16, 1-13: «Não podeis servir a Deus e ao dinheiro».

 

Vinte anos de apostolado

Timóteo era originário da Turquia atual. O seu pai era pagão, e a sua mãe, de família judia, tinha já recebido a fé cristã pela própria mãe. Com este discípulo de S. Paulo estamos já longe do círculo originário do cristianismo, numa família cristã de segunda geração.

A família de Timóteo testemunha a rapidez com que o cristianismo se expandiu para fora do seu território natal. O reencontro de Timóteo com Paulo data dos anos 49-52. A partir daí, ele será o companheiro ou o enviado mais fiel de S. Paulo, que dele fala frequentemente nas suas cartas. O apóstolo chegará mesmo a assinar seis epístolas com Timóteo: 2.ª aos Coríntios, aos Filipenses, aos Colossenses, 1.ª e 2.ª aos Tessalonicenses, e a Filémon.

Timóteo também receberá duas cartas de S. Paulo, sem dúvida pouco tempo antes do martírio do apóstolo, em Roma, no ano 67, missivas que vão ser proclamadas nas missas dos próximos domingos.

 

Todos os homens

Esta expressão ocorre três vezes no capítulo 2 da primeira carta a Timóteo: «Rezar por todos os homens»; «Deus quer que todos os homens sejam salvos»; «Cristo Jesus entregou-se a si mesmo com resgate por todos».

Esta repetição é reveladora. O papa Francisco não cessa de a afirmar à Igreja de hoje. Ela significa que a salvação não pode ficar reduzida a um pequeno número de pessoas.

A expressão «entregou-se a si mesmo com resgate por todos» é igualmente significativa. É uma das frases mais claras do Novo Testamento sobre o valor redentor da morte de Jesus, que «não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para resgatar a multidão» (Mateus 20, 28). E na noite da Última Ceia: «Este é o meu sangue, sangue da Aliança, que vai ser derramado por muitos, para perdão dos pecados» (Mateus 26, 28).

Estas duas palavras de Cristo são retomadas em cada eucaristia. Ao longo dos séculos, e sobretudo nos nossos dias, os teólogos interrogaram-se várias vezes sobre a questão do «mistério de salvação das nações». Por outras palavras, como é que a morte de Cristo tem valor salvífico para todo o ser humano, incluindo aquele que não receberam o sacramento do Batismo?

A resposta reside no facto de que Cristo assumiu nele não apenas uma só humanidade, mas toda a Humanidade, como assumiu toda a Divindade.

Os Padres gregos dos séculos IV a VI fizeram desta convicção a base do desenvolvimento da cristologia. As palavras da apresentação de dons (ofertório), tantas vezes suprimidas, dizem-no: «Possamos nós ser unidos à Divindade daquele que assumiu a nossa humanidade». Não a humanidade daquele ou daquela pessoa, mas de todos os homens, ou seja, de todo o Homem. Elas são por isso uma boa introdução às palavras consecratórias, precisamente aquelas que foram proferidas por Cristo aquando da primeira eucaristia.

 

O anúncio e a realização da salvação

É urgente anunciar a salvação. Esta premência não diminuiu depois que Cristo enviou os seus discípulos a anunciar a vinda do Reino, sem se deixarem parar por nada, nem mesmo pela morte. "A mensagem", "o ensinamento" ligam-se imediatamente ao testemunho de Cristo Jesus . «Como o meu Pai me enviou, eu também vos envio» (João 20, 21). «Ele quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade» (1 Timóteo 2, 4).

O texto que se segue não é um "credo" a que é preciso aderir, mas a revelação clara dos «bens que recebemos» (oração do ofertório deste domingo), e que nós devemos transmitir, como S. Paulo foi dele foi mensageiro.

«Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, que Se entregou à morte pela redenção de todos. Tal é o testemunho que foi dado a seu tempo e do qual fui constituído arauto e apóstolo» (1 Timóteo 2, 5-7). Qualquer outra mediação, incluindo a da Mãe de Deus, apenas é mediação de intercessão. Só a mediação de Cristo é "realização" da salvação.

 

A oração e a paz

A nossa oração, para que a verdade seja revelado ao coração dos homens, só pode ser uma oração de petição. Ela deve traduzir-se na nossa vida quotidiana. Cristo confessou Deus pelo seu testemunho, como diz S. Paulo a Timóteo (capítulo 6).

Intercessão, testemunho e ação de graças devem entrecruzar-se para formar a oração cristã. Lembremos, por exemplo, o que diz S. Paulo na sua carta aos Filipenses (1, 3-11), que evoca a oração sobre as ofertas deste domingo: «Todas as vezes que me lembro de vós, dou graças ao meu Deus... aquele que em vós deu início a uma boa obra há-de levá-la ao fim, até ao dia de Cristo Jesus».

Já os profetas o diziam, e é por isso que se alude ao profeta Amós na primeira leitura. A retidão de coração e a realidade dos atos devem necessariamente corresponder à oração, sob pena de nulidade espiritual.

A nossa oração deve estender-se a todos os homens, porque Cristo morreu em resgate por todos eles, sem exclusividade, mesmo pelos nossos inimigos, mesmo se o chefe de Estado se chama Nero, o perseguidor contemporâneo de S. Paulo, que será seu mártir. «Quero, portanto, que os homens rezem em toda a parte, erguendo para o Céu as mãos santas, sem ira nem contenda» (1 Timóteo 2, 8).

 

Evangelho

Jesus aponta um conjunto de oposições: como acontece muitas vezes na Bíblia, poderíamos escrever esta passagem em duas colunas. Na da esquerda, os filhos deste mundo, o dinheiro enganador, os bens alheios, tudo o que é menor e sem valor. Na coluna da direita, os filhos da luz que somos, o verdadeiro bem, a felicidade que nos está preparada, ou seja, o Reino de Deus, a única coisa que importa.

Todas estas oposições pretendem revelar-nos que o dinheiro não passa de um engano, e que dedicar a vida a «fazer dinheiro», como se costuma dizer, é errar o caminho. «Não podeis servir a Deus e ao dinheiro», com a palavra «servir» a ter um sentido religioso.

Há um só Deus, não façais ídolos, porque toda a idolatria vos fará escravos. Já tínhamos ouvido esta mensagem, de forma incisiva, a semana passada, no livro do Êxodo, pela boca de Moisés, no episódio do bezerro de ouro. Só Deus liberta (todo o Antigo Testamento o diz), os ídolos subjugam.

O dinheiro pode muito bem tornar-se um ídolo, isto é, tornar-se um fim em si mesmo, deixando de ser um meio. Quando se está obcecado pelo desejo de ganhar dinheiro, depressa nos tornamos escravos; rapidamente deixaremos de ter tempo para pensar noutra coisa. «Desconfiar do que possuímos para não sermos possuídos», diz a sabedoria popular, e é um bom princípio. O sabbat foi precisamente criado para isso: encontrar uma vez por semana o gosto da gratuidade. É uma forma de permanecer livre.

O dinheiro engana de duas maneiras: em primeiro lugar, faz-nos crer que nos assegurará a felicidade; mas virá certamente um dia, contudo, em que teremos de deixar tudo. Na frase de Jesus «arranjai amigos com o vil dinheiro, para que, quando este vier a faltar...», a fórmula «quando este vier a faltar» é uma alusão à morte.

Depois, o dinheiro engana-nos quando acreditamos que ele pertence unicamente a nós. Jesus não nos leva a menosprezar o dinheiro, mas a colocá-lo ao serviço do Reino, ou seja, dos outros. As riquezas merecem bem o seu nome e seria estúpido e hipócrita desinteressar-nos delas. Mas não somos suas proprietários apenas para uma utilização egoísta; somos administradores. Jesus fala do «bem alheio» porque ele não nos pertence. É bem verdade que «não há grande interesse em ser o mais rico do cemitério», mas «há grande interesse em ser rico para o benefício de outros».

Na pergunta «se não fostes fiéis no que se refere ao vil dinheiro, quem vos confiará o verdadeiro bem?», a palavra «confiança» é muito importante: Deus confia em nós; somos administradores, responsáveis pelo dinheiro que nos é confiado. Todas as nossas riquezas, de todo o tipo, são-nos confiadas, como a administradores, para que as partilhemos, para que as transformemos em felicidade para aqueles que nos rodeiam.

Compreendemos então melhor a parábola do Evangelho: trata-se de um administrador ameaçado de despedimento que, por uma última vez, oferece presentes com o dinheiro do seu patrão, a fim de se tornar amigo daqueles que lhe haverão de retribuir. Ele é perfeitamente desonesto, mas soube encontrar rapidamente uma solução astuciosa para assegurar o seu futuro. E a astúcia, aqui, consiste em, por uma vez, utilizar o dinheiro como meio, e não como fim.

Não é a desonestidade que Jesus admira, mas a habilidade: o que é que esperamos para encontrar soluções astuciosas para assegurar o futuro de todos? É bem verdade que o desejo de ganhar dinheiro torna muitas pessoas extremamente inventivas. No dia em que dedicarmos tanto tempo e massa cinzenta a inventar soluções de paz, de justiça e de partilha como a ganhar dinheiro para além do necessário, a face do mundo mudará. E se já passássemos tanto tempo a falar de solidariedade e de partilha como a falar de dinheiro, provavelmente muitas coisas mudariam.

No fundo, a moral da história poderia escrever-se assim: escolhei Deus, resolutamente, e colocai ao serviço do Reino a aptidão que usaríeis para fazer dinheiro. Os filhos da luz sabem que o dinheiro não passa de trocos, comparado com a grande empresa que é o Reino. Eles não «servem» o dinheiro como se serve uma divindade, mas colocam-no ao serviço do Reino.

 

P. Jacques Fournier, Marie Nöelle Thabut
In Conferência Episcopal Francesa
Trad.: rjm
© SNPC (trad.) | 20.09.13

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