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Manuel Fúria: Venha a Igreja ao encontro das culturas juvenis

«Que desafios as culturas juvenis colocam à Igreja?»

Hoje é dia 5 de abril de 2013. Há 10 anos atrás corria o ano de 2003, há 20 anos atrás 1993, há 30, 1983. O exercício de perspetiva que poderemos fazer observando o que já passou será relativamente simples à luz desta ideia das culturas, subculturas e outras coisas que tais de índole juvenil e urbana. De 1983 será fácil identificar um panque, um vanguardista, um metaleiro, um beto. Em 1993 as marcas identitárias que definiam a malta da música de dança, os surfistas ou os desmazelados do grunge também se apresentam simples aos olhos que o tempo ensina a acalmar.

Apesar dos cíclicos exercícios revivalistas, que sempre foram artifício próprio da cultura pope, mais ou menos desde a década de 1970, a partir do ano 2000, com a rede global a entrar, triunfal, nas vidas de todos, com o acesso a todas as memórias, todos os arquivos, esta ideia de reviver o que foi paradigma de outros tempos assenta, aparentemente, arraiais mais duradouros, com direito a rótulo e tudo, o prefixo retro.

Com certeza que estes dois parágrafos anteriores simplificam muito os movimentos das culturas juvenis urbanas mas dão uma impressão, ainda que superficial, daquilo que vai acontecendo, para chegarmos a este dia novamente, 5 de abril de 2013. É que hoje os meus olhos estão, aqui e agora, condicionados a esta circunstância e não na distância e calma de um tempo futuro, e hoje não consigo avançar com definições tão precisas quanto as anteriores. Haverá hip hop, haverá roque, haverá hipsters, malta da música de dança, metaleiros e panques, haverá tudo e mais alguma coisa - misturado, remisturado, confuso e desornado tal como o mundo virtual nos ecrãs dos nossos computadores. E mais do que esse mundo virtual ser espelho fragmentado do que acontece na rua, o que acontece na rua é espelho fragmentado do que acontece nesse espaço imune ao tato ou ao olfato. Agora é mais difícil avançar com definições, tudo o que aconteceu volta a acontecer, tudo o que não aconteceu acontece e acontecerá. Sim, é confuso. O homem tem essa extraordinária capacidade de complicar e cobrir o essencial com camadas e camadas de vestuário, como uma cebola que em vez de se descascar vai operando em sentido inverso.

A Igreja, pelo menos a Igreja hierárquica, sempre foi de um tempo ausente, procurando imunidade aos ricochetes do mundo, dirigindo-se sempre para a sua vocação de esposa e corpo de Cristo. Parece-me que a resposta e o desafio é precisamente o cumprimento dessa vocação. Se o desafio é grande, paradoxalmente, é simples na procura da disponibilidade e do silêncio de Maria contrapondo o voluntarismo de Marta, sob o risco de penar uma infantilização de si própria se escolher as máscaras do mundo para se aproximar destas realidades. Essas máscaras não são precisas para chegar ao íntimo de cada um de nós. Se a Igreja quer chamar a si os jovens (quanto desprezo o paternalismo que esta palavra carrega) terá, não de ir ao seu encontro com os dispositivos mundanos que caracterizam estas culturas, mas com os dispositivos de Deus cumprindo a sua vocação de nudez, simplicidade, pobreza. Será, certamente, necessário compreender estas culturas, tal como São Francisco Xavier compreendeu indianos e japoneses, mas o objetivo primeiro e último é, através de suavidade e firmeza, o entendimento de cada pessoa, única e eternamente amada pelo Pai.

As culturas juvenis são e sempre foram fascínio pelas coisas do mundo, eu que o diga. Venha a Igreja ao seu encontro, utilizando a linguagem deste tempo, permanecendo na fidelidade à única palavra que São João da Cruz fala neste seu conselho: O Pai Celeste disse uma única palavra: É o Seu Filho. Disse-a eternamente e num eterno silêncio. (...).

 

Este texto integra o número 19 do "Observatório da Cultura" (abril 2013).

 

Manuel Fúria
© SNPC | 11.04.13

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