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Manuel Jorge Marmelo escreve entre as angústias do desemprego, pobreza e emigração

O vencedor da edição de 2014 do festival literário "Correntes d'Escritas", com o livro "Uma mentira mil vezes repetida", foi despedido há um ano do "Público", mas este é apenas uma parte do desassossego em que vive.

«Para além do meu caso, é a angústia de sair à noite pela cidade e ver centenas de pessoas em filas à espera de uma refeição grátis», afirmou em entrevista ao programa de cultura "Ensaio geral", da Renascença, transmitido a 21 de fevereiro.

«É a angústia de saber que tenho uma filha com 21 anos que vai entrar no mercado de trabalho daqui a dois ou três, e ter a noção de que ele está completamente fechado; ter um filho de 18 anos e que também não está muito longe de enfrentar essa realidade. É um conjunto de angústias que se vão somando», acrescentou.

Na conversa que manteve com a jornalista Maria João Costa e com o escritor Miguel Sousa Tavares (cf. Artigos relacionados), o autor explicou as críticas que proferiu na sessão de abertura do festival, quando recebeu o prémio.

«O que eu disse na sessão de abertura é que não consigo perceber como é que pode ser bom para qualquer tipo de economia quando pessoas úteis são transformadas em inúteis que ficam dependentes de um subsídio do Estado, e sujeitas a ir de 15 em 15 dias a uma junta de freguesia fazer de conta que são prisioneiros em prisão domiciliária», apontou.

Manuel Jorge Marmelo (Porto, 1971) dedicou o prémio a Manuel António Pina, recordando as crónicas publicadas diariamente no "Jornal de Notícias", que constituíam «um momento de reflexão cívica e ética sobre o que estava a acontecer no país».

«O Pina era uma voz muito ativa e crítica do lugar para o qual nos estávamos a encaminhar como país. Sinto muita falta daqueles textos, que misturavam uma grande capacidade de análise e um imenso humanismo com o humor corrosivo como só ele tinha», referiu.

O vencedor da edição de 2004 do Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco revelou que o seu método de escrita mudou depois de ficar desempregado: «Até então os livros iam sendo produzidos devagar, embora eu escreva depressa. Escrevia ao fim do dia de trabalho, depois de cozinhar e estar com os meus filhos. Era quase um passatempo, ainda que eu o levasse muito a sério».

«Neste último ano tenho estado praticamente dedicado à escrita. Mantive, por exemplo, a hora de me levantar de manhã, só que em vez de sair de casa para ir trabalhar para o jornal, fico em casa frente ao computador, a escrever. Costumo brincar e dizer que o subsídio de desemprego é uma espécie de bolsa de criação literária. Tenho tentado manter essa disciplina», disse.

O jornalista constata que «as redações estão cada vez mais cheias de estagiários mal pagos, quase em situação de subemprego, e que não têm memória daquilo que os políticos diziam há 10 anos. Falta-lhes o filtro que a memória dá ao bom jornalismo».

Referindo-se à 15.ª edição do Correntes d'Escritas, que decorreu entre 20 e 22 de fevereiro na Póvoa de Varzim, Manuel Jorge Marmelo realçou que o festival «é quase um milagre»,

«Quando se entra nas sessões que aqui decorrem e se veem 700 pessoas a ouvir o que os escritores têm para dizer, parece que de repente entramos numa realidade paralela», salientou, antes de elogiar a autarquia, que manteve a iniciativa mesmo quando ela, ao princípio, não atraia tanto público, e que colhe agora os frutos de um evento que se «tornou muito maior do que a cidade e o país».

Segundo o júri, "Uma Mentira Mil Vezes Repetida" (Quetzal), obra escolhida entre 15 finalistas, é uma «singular parábola sobre a literatura e o seu poder redentor» que confirma «a maturidade do autor no domínio da narrativa», informa o "Público".

O programa "Ensaio geral" está disponível para ser ouvido na íntegra no site da Renascença.

 

Entrevista: Maria João Costa (Renascença)
Redação: Rui Jorge Martins (SNPC)
© SNPC | 25.02.14

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Foto
Manuel Jorge Marmelo
Foto: Arq/Rita Pinheiro Braga

 

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