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Mulheres afastam-se da Igreja porque ela continua a ser «fundamentalmente masculina», diz teóloga

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Mulheres afastam-se da Igreja porque ela continua a ser «fundamentalmente masculina», diz teóloga

A teóloga francesa Anne-Marie Pelletier considera que o afastamento das mulheres em relação à Igreja se deve ao facto de ela continuar a orientar-se segundo conceções marcadamente masculinas, dilatando a diferença face à identidade que o feminino tem adquirido na sociedade.

A exegeta foi uma das intervenientes na assembleia plenária do Pontifício Conselho da Cultura, que desde quarta-feira debate em Roma o tema “As culturas femininas: igualdade e diferença”.

Anne-Marie Pelletier, que em 2014 foi a primeira mulher a receber o Prémio Ratzinger, conhecido como o “Nobel da Teologia”, animou o debate denominado “Mulheres e religião: fuga ou procura de novos modelos participativos?”, questão colocada pelos organizadores da assembleia que termina hoje, após um encontro com o papa Francisco.

Em entrevista à Rádio Vaticano, a biblista mostrou-se convicta de que as instâncias eclesiais devem interrogar-se sobre o que «afasta as mulheres» da «participação na vida da Igreja, e por vezes, mesmo, da prática cristã».

«Há uma forte tendência, uma tendência pesada, provavelmente desde sempre e talvez um pouco menos hoje do que no passado, de ignorar este género de problemas. E o interesse destes encontros é precisamente dar visibilidade à questão», salientou.

A causa de «desafetação» do feminino em relação à Igreja reside na existência de «uma distância muito notória entre as grandes evoluções que ocorrem hoje na sociedade, onde as mulheres adquirem cada vez mais autonomia e capacidade de intervenção na esfera social, política e económica», e uma «Igreja católica que continua, quer se queira ou não, fundamentalmente masculina».

O título da assembleia plenária remete para a pluralidade do feminino, acentuação que para a teóloga é crucial: «É absolutamente capital lembrar que a mulher só existe através de mulheres. E, portanto, através da especificidade de perfis pessoais, bem como da especificidade das culturas do mundo».

Evidenciar a multiplicidade de culturas femininas torna-se ainda mais premente quando, «especialmente na Igreja», se fala “da” mulher no singular, e ainda mais, acrescentando por vezes uma maiúscula – a “Mulher”».

Referindo-se ao Prémio Ratzinger, Anne-Marie Pelletier afirmou que pode dar «um pouco mais de peso» às suas atividades de ensino, destacando também que a distinção vale sobretudo em termos coletivos: «Através de mim, foi efetivamente um reconhecimento do trabalho colossal que as mulheres realizam ao serviço do Evangelho nas nossas sociedades».

Para Anne-Marie Pelletier, as intervenções de Francisco sobre a mulher na Igreja inscrevem-se na linha traçada pelos antecessores, ao mesmo tempo que relançam a questão ao transmitirem a ideia de que o que se fez no passado «não é suficiente e que «ainda há muito a fazer», perspetiva partilhada por «muitas mulheres» católicas.

 

Rui Jorge Martins
Publicado em 07.02.2015 | Atualizado em 22.04.2023

 

 

 
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É absolutamente capital lembrar que a mulher só existe através de mulheres. E, portanto, através da especificidade de perfis pessoais, bem como da especificidade das culturas do mundo
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