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Cardeal Jorge Bergoglio, papa Francisco

Não esperes ser amado, ama primeiro

«Depois de passar o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para irem embalsamar Jesus. E no primeiro dia da semana, partindo muito cedo, chegaram ao sepulcro ao nascer do sol. Diziam umas às outras: "Quem nos irá revolver a pedra da entrada do sepulcro?" Mas, olhando, viram que a pedra já fora revolvida; e era muito grande. Entrando no sepulcro, viram um jovem sentado do lado direito, vestido com uma túnica branca, e ficaram assustadas. Mas ele disse-lhes: "Não vos assusteis. procurais a Jesus de Nazaré, o Crucificado? Ressuscitou: não está aqui."» (Mc 16, do Evangelho da Vigília Pascal, ano C)

Há pouco, no átrio deste templo, proclamámos que Jesus Cristo era ontem, é hoje e será sempre, enquanto marcávamos no Círio Pascal, figura de Cristo Ressuscitado, os algarismos deste ano. Este gesto, que a Igreja repete desde há séculos, é o anúncio contundente, ao longo da história, do que aconteceu naquela manhã de domingo no cemitério de Jerusalém: o que existia antes que Abraão nascesse, o que quis fazer-se próximo no caminho connosco, o Bom Samaritano que nos recolhe batidos pela vida e pela nossa lábil liberdade, o que morreu e foi sepultado e o seu sepulcro selado; esse ressuscitou e vive para sempre.

Trata-se do anúncio àquelas mulheres surpreendidas pela pedra corrida e pelo Anjo sentado no ligar onde havia estado o morto. Um anúncio que, desde esse momento, se foi transmitindo corpo a corpo através da história dos homens. Um anúncio que proclama com valentia que, desde agora, no meio de toda a morte, há um gérmen de ressurreição. O começo desta liturgia, às escuras, não é outra coisa que o símbolo de trevas e morte; por seu lado, a luz é Cristo, centelha de esperança entre situações e corações, mesmo aqueles mergulhados na maior escuridão.

O Anjo tira o medo às mulheres: «Não temam». Trata-se desse medo instintivo a toda a esperança de felicidade e vida, esse medo de que não seja verdade o que estou a ver ou o que me dizem, o medo da alegria que nos é presenteada por um prodígio de gratuidade. E, depois da tranquilizadora advertência do «não temam», o envio: «Ide dizer aos seus discípulos e a Pedro que Ele vai adiante de vós para a Galileia. Lá O vereis, como vos disse».

É o Senhor que sempre nos precede, o Senhor que nos espera. O Apóstolo João, quando quis explicar no que consistia o amor, teve de recorrer a essa experiência de sentir-se precedido, sentir-se esperado: «É nisto que está o amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele mesmo que nos amou» (1 Jo 4, 10). Se é verdade que na nossa vida, de uma maneira ou de outra, procuramos Deus, a verdade mais profunda é que somos procurados por Ele, somos esperados por Ele. Como a flor da amendoeira que mencionam os Profetas porque é a primeira a florescer, assim é o Senhor: Ele espera primeiro, Ele que é primeiro no amor.

Há séculos que o nosso Deus se nos adianta no amor. Há 2000 anos que Jesus nos precede e nos espera na Galileia, essa Galileia do primeiro encontro, essa Galileia que cada um de nós tem em algum lugar do coração. O sentirmo-nos precedidos e esperados acelera o ritmo do nosso caminhar para que o encontro aconteça mais depressa. O mesmo Deus que «nos amou primeiro» também é o Bom Samaritano que se faz próximo e nos diz - como no fim dessa parábola - «Vai e procede da mesma maneira». Simplesmente, fazer o que Ele faz: sê primeiro entre os teus irmãos no amor; não esperes ser amado, ama primeiro. Dá o primeiro passo. Esses passos que nos farão sair da sonolência (o não ter podido velar com Ele) ou de qualquer quietismo sofisticado. Passo de reconciliação, passo de amor. Dá o primeiro passo na tua família, dá o primeiro passo nesta cidade; faz-te próximo dos que vivem à margem do necessário para subsistir: cada dia são mais. Imitemos o nosso Deus, que nos precede e ama primeiro, realizando gestos de proximidade para os nossos irmãos que sofrem solidão, indigência, desemprego, exploração, falta de tecto, desprezo por serem migrantes, doença, isolamento entre os idosos. Dá o primeiro passo e leva, com a tua própria vida, o anúncio: Ele ressuscitou. Então colocarás, no meio de tanta morte, uma centelha de ressurreição, que Ele quer que tu leves. Então a tua profissão de fé será credível.

Nesta noite de Páscoa peço à nossa Mãe que nos ajude a entender o que é ser primeiro no amor. A Ela, que velou sustentada pela esperança, peço que nos ajude a não ter medo para anunciar, com a palavra e as atitudes de proximidade com os mais indigentes, que Ele está vivo no meio de nós. E que, como boa mãe, nos conduza pela mão à adoração silenciosa desse Deus que nos precede no amor. Que assim seja.

 

Card. Jorge Bergoglio (papa Francisco)
Vigília Pascal, 2000
In El verdadero poder es el servicio, ed. Claretianas
08.04.13

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FotoPapa Francisco
Vaticano, 7.4.2013
AP Photo/Alessandra Tarantino

 

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