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Fé e cultura

Além do rebanho

Perante o tópico "catolicismo no espaço público português", convém discutir três pontos.  

I. Em Portugal, o catolicismo tem de enfrentar algo que é comum a todas as sociedades europeias: a ilegalização de Deus. As elites europeias transformaram Deus num assunto semi-clandestino. Deus passou ser um assunto impróprio para as elites sofisticadas. Como se pode combater esta clausura de Deus? Bom, para começo de conversa, temos de salientar um "pormenor": a ilegalização de Deus é um fenómeno europeu, e não mundial. Com o seu habitual eurocentrismo, a elite europeia consagrou o fim da religião como uma das marcas obrigatórias da modernidade. Porém, várias sociedades modernas (EUA, Índia, Israel, Brasil, etc.) conciliam a modernidade com a fé. A Europa está sozinha na ilegalização de Deus. Sobre este ponto, recomenda-se - e muito - a leitura de "O Regresso de Deus" (Quetzal), de John Micklethwait e Adrian Wooldridge. 

II. O espaço público português é dominado por um espírito jacobino fortíssimo. A este respeito, basta lembrar a forma como se celebrou os 100 anos da I República. Como combater isto? Em primeiro lugar, convém perceber que a intolerância-jacobina-que-está-na-moda deve ser combatida com inteligência e abertura, e não com uma assanhada intolerância católica. Em segundo lugar, parece-me que a Igreja não faz, digamos, um bom marketing das suas atividades. A maioria dos portugueses não conhece o trabalho invisível da Igreja e de grupos de católicos no auxílio às pessoas mais carenciadas. É uma pena. A Igreja é um verdadeiro "Estado Social" que merecia mais respeito de uma sociedade que passa a vida a falar, precisamente, do Estado Social. Existe má-fé por parte dos intolerantes de serviço que gostam de manter a ação da Igreja fora dos holofotes? Sim. Mas a Igreja também é culpada por esta clandestinidade, porque é incapaz de mostrar que o catolicismo não se resume à missa das sete ou à contestação ao aborto.

III. Em articulação com o segundo ponto, importa dizer que a Igreja não tem muitas vozes com a capacidade de interagir com a sociedade. Com raras exceções, as vozes da Igreja são sempre muito ortodoxas, muito previsíveis e nunca revelam capacidade para penetrar na linguagem do espaço público, esse "sítio" onde coabitam crentes e não-crentes. No fundo, as vozes da Igreja ainda não sabem falar para quem não é crente, para quem não faz parte do rebanho. Eis, portanto, "o" desafio do catolicismo português: descer da verdade e ser capaz de falar na cidade.

 

Henrique Raposo
Investigador
In Observatório da Cultura, n.º 14 (Novembro 2010)
© SNPC | 10.11.10

Foto
Robert Holmes/Corbis

 

 

 

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