Opinião
Papa Francisco: os 100 dias de "Che Bergoglio"
É o cardeal italiano Camilo Ruini quem se ri quando lhe dizem que os críticos do Papa Francisco na Cúria Romana lhe chamam “Che Bergoglio”.O epíteto pode ser verrinoso, se nos lembrarmos do argentino Che Guevara, guerrilheiro idolatrado, mas com pés de chumbo para esmagar os rivais. Outros críticos limitam-se ao azedume para o acusar de «populista» e «demagogo sul-americano».
O Papa Francisco está a completar 100 dias de pontificado e já muita água correu sob as pontes. Sem confirmação oficial e também sem desmentido credível, o Papa Francisco terá desabafado com religiosos/as latino-americanos que há, na Cúria Romana, uma «corrente de corrupção» e um «lóbi gay». Já admitiu uma encíclica sobre a fé, escrita a quatro mãos, as suas e as do seu antecessor, o Papa emérito Bento XVI. Prevê-se, também, que esteja a trabalhar numa encíclica sobre a pobreza, tema que tem caracterizado o seu pontificado, dando um inegável impulso à evangelização, com o seu inegável carisma, o que já o tornou a figura mais popular em Itália.
As suas reformas de fundo ainda mal começaram. Não foram além da nomeação do diretor da Casa de Santa Marta, monsenhor Battista Ricca, para o IOR (Instituto para as Obras de Religião) ou Banco do Vaticano. O seu recente encontro com membros da Secretaria Permanente do Sínodo dos Bispos parece significativo e pode ser um indicativo de que o Papa Francisco exigirá ao Sínodo dos Bispos que seja um “parlamento” do Papa, ajudando-o na sua missão. Assim reforçará a colegialidade episcopal, como há quem sugira na melhor tradição sinodal.
Já vem mais de trás a sua iniciativa de criar um conselho de oito cardeais, entendido como uma espécie de “conselho da coroa”, para o assessorar na anunciada reforma da Cúria, que, até agora, como dizem as más línguas, tem sido, salvo seja, um “cavalo indomável”, realidade nua e crua que também terá concorrido para a renúncia de Bento XVI, alegando fragilidade das suas forças para levar a bom porto essa renovação que tanto desejava.
Os 100 dias de pontificado do Papa Francisco têm sido, isso sim, uma “revolução mediática”. Caiu na simpatia dos média, que lhe têm atribuído o crédito de renovador. Se a renovação não acontecer, será uma frustração de todo o tamanho.
O Papa Francisco é um mero epifenómeno ou obedece a uma sólida teologia de quem sabe o que quer e para onde vai? A sua eleição não foi por acaso. Revelou credenciais para ser eleito e, não sendo à primeira, em 2005, foi à segunda contrariando a maioria das apostas. Cultivou em Buenos Aires uma “teologia do povo”, concretizando-a na praxis pastoral a partir da cultura, religiosidade e mística populares. Terá sido por isso que anunciou uma Igreja pobre e ao serviço dos pobres. O seu pontificado está a ser cativante.
Título original do artigo: "Os 100 dias de Francisco".
Cón. Rui Osório
In Voz Portucalense, 19.6.2013
Fotografias: News.va
20.06.13
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