Vaticano
Papa recebeu Durão Barroso e disse a deputados franceses que laicidade não significa hostilidade face às religiões
O papa vincou neste sábado que «o princípio de laicidade que governa as relações entre o estado francês e as diversas confissões religiosas não deve significar em si uma hostilidade à realidade religiosa ou uma exclusão das religiões do campo social e dos debates que o animam».
«A Igreja deseja (...) oferecer o próprio contributo específico sobre questões profundas que implicam uma visão mais completa da pessoa e do seu destino, da sociedade e do seu destino», sublinhou Francisco na audiência a uma delegação de deputados franceses.
A contribuição da Igreja «não se situa apenas no âmbito antropológico ou social, mas também nos âmbitos político, económico e cultural», disse ao papa aos parlamentares de um país que se dividiu quanto ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, recentemente aprovado.
«Enquanto eleitos por uma nação para a qual os olhos do mundo muitas vezes se voltam, é vosso dever, creio, contribuir de modo eficaz e constante para o melhoramento da vida dos vossos concidadãos», lembrou.
A missão dos deputados, prosseguiu Francisco, «é certamente técnica e jurídica, consistindo em propor leis, emendá-las ou até ab-rogá-las».
«Mas é também necessário infundir nelas um suplemento, um espírito, uma alma, direi, que não reflita somente os modos e as ideias do momento, mas que lhes confira a indispensável qualidade que eleva e enobrece a pessoa humana», acrescentou.
A crise económica que atinge a Europa e sobretudo as suas «gravíssimas» consequências sobre a vida das famílias e dos jovens dominaram a conversa que, também neste sábado, juntou no Vaticano o papa e o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso.
«As cordiais conversações permitiram uma útil troca de opiniões sobre a situação internacional, com particular atenção ao processo de integração europeia, como também à longa crise económica que tem consequências gravíssimas sobre o emprego, sobretudo dos jovens, e reflexos negativos sobre a vida da família», lê-se no comunicado divulgado pela Santa Sé.
Durante o encontro, os dois líderes, discutiram o «contributo positivo que a Igreja católica pode oferecer na atual conjuntura, para o bem-estar material e espiritual da Europa».
O papa argentino e o responsável português falaram igualmente sobre a «promoção dos direitos humanos, de modo especial sobre a liberdade religiosa, e sobre a proteção das minorias religiosas no mundo».
A conversa privada, que ocorreu sem a presença de intérpretes, durou cerca de 15 minutos, assinala o site "Vatican Insider", acrescentando que ambos se interrogaram sobre o idioma em que haveriam de conversar: «Nós entendemo-nos; entre nós diz-se que um português é um espanhol que fala mal», disse Bergoglio em tom de brincadeira.
Na troca de presentes, Barroso, que estava acompanhado por uma delegação de cinco pessoas, ofereceu um livro sobre a história da União Europeia e os seus fundadores, enquanto que Francisco deu um corta-papel dos Museus do Vaticano.
Durão Barroso, que a 19 de março participou, no Vaticano, na missa de início do papa argentino, reuniu-se depois com o secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Tarcisio Bertone e o secretário para as Relações com os Estados, o bispo Dominique Mamberti.
Rui Jorge Martins
Fotografias: L'Osservatore Romano
© SNPC |
15.06.13

Vaticano, 15.6.2013






