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Papa Francisco recorda que celibato dos padres «não é dogma de fé», pelo que a porta está sempre aberta

O celibato dos padres, o abuso sexual de menores, a eventual renúncia ao papado e a situação das pessoas divorciadas e recasadas dentro da Igreja foram alguns dos temas que o papa Francisco abordou na conferência de imprensa realizada durante a viagem entre Telavive e Roma, que decorreu na noite de segunda-feira.

Apesar do cansaço, Francisco respondeu durante uma hora às perguntas dos jornalistas, no termo da sua primeira viagem à Terra Santa. Apresentamos excertos da entrevista, dividida por temas, publicada por Andrea Tornielli no site "Vatican Insider".

Celibato dos padres
«A Igreja católica tem padres casados, nos ritos orientais. O celibato não é um dogma de fé, é uma regra de vida, que eu aprecio muito e acredito que seja um dom para a Igreja. Não sendo um dogma de fé, está sempre a porta aberta.»

Abusos de menores
«Neste momento há três bispos sob investigação; de um, já condenado, está a estudar-se a pena. Não há privilégios sobre este tema dos menores. Na Argentina os privilegiados dizem: este é filho do papá. Bom, sobre este tema não haverá filhos do papá. É um problema muito grave. Um sacerdote que abusa, trai o corpo do Senhor. O padre deve levar o menino ou a menina à santidade. E nisto confia-se nele. Em vez de o levar à santidade, abusa dele. É gravíssimo. É como fazer uma missa negra. Em vez de o levar à santidade, leva-o a um problema que terá por toda a vida. Na próxima semana, a 6 e 7 de junho, haverá uma missa com algumas pessoas abusadas, na Casa de Santa Marta [residência do papa no Vaticano], e depois haverá uma reunião, eu com elas. Sobre isto deve avançar-se com tolerância zero.»

Os 15 milhões do Instituto para as Obras da Religião (IOR) – entidade bancária do Vaticano – dados à produtora Lux Vide e os escândalos financeiros
«O Senhor Jesus disse uma vez aos seus discípulos: é inevitável que haja escândalos, todos somos humanos e pecadores. O problema é evitar que não haja mais. Na administração económica é preciso honestidade e transparência. As duas comissões, a que estudou o IOR e a que estudou a situação económico-financeira de todo o Vaticano, chegaram às suas conclusões, e agora, com o dicastério e a Secretaria para Economia dirigida pelo cardeal Pell vão avançar com as reformas aconselhadas. Mas haverá ainda incongruências, haverá sempre, porque somos humanos. E a reforma deve continuar. Os Padres da Igreja diziam que a Igreja dever ser “semper reformanda”. Somos pecadores, somos fracos. A Secretaria da Economia ajudará a evitar escândalos e problemas. Por exemplo, no IOR foram fechadas 1600 contas, de pessoas que não tinham direito a elas. O IOR é para ajudar a Igreja, têm direito bispos e dioceses, colaboradores do Vaticano, as suas viúvas, as embaixadas, mas mais ninguém. Não é uma coisa aberta. E este é um bom trabalho, fechar as contas de quem não tem direito a elas. Queria dizer uma coisa: a questão desses 15 milhões está ainda sob estudo, não é ainda claro o que aconteceu.»

Os gestos na Terra Santa
«Os gestos mais autênticos são aqueles que não se pensam. Eu pensei se podia fazer alguma coisa, mas dos gestos concretos que eu realizei, nenhum foi pensado assim. Algumas coisas, como o convite aos dois presidentes [de Israel e da Palestina para se reunirem no Vaticano para um encontro de oração pela paz na região] pensei fazê-lo lá, durante a viagem, mas havia tantos problemas logísticos, tantos, o território onde se devia fazer, não era fácil. Mas no fim saiu o convite e espero que o encontro corra bem. Para clarificar o encontro no Vaticano: será um encontro de oração, não é para fazer uma mediação. Com os dois presidentes vamos reunir-nos apenas para rezar, e eu acredito que a oração é importante e fazê-la ajuda. Depois regressamos todos a casa. Estará um rabino, um islâmico, estarei eu. Pedi ao Custódio da Terra Santa para organizar um pouco as coisas práticas.»

Populismo e eleições europeias
«Só tive tempo para rezar alguns Pais-nossos mas não recebi notícias das eleições. O populismo na Europa, a confiança ou a desconfiança, algumas teses sobre o euro… destes assuntos não entendo muito. Mas o desemprego é grave: estamos num sistema económico mundial onde o dinheiro está no centro, não a pessoa humana. Este sistema, para manter-se, descarta. Descartam-se os filhos: o nível dos nascimentos não é alto, em Itália são menos de dois por casal, em Espanha é ainda mais baixa. Descartam-se os idosos, também com a eutanásia oculta, os medicamentos só se dão até um certo ponto. E descartam-se os jovens. Em Itália creio que o desemprego jovem é de cerca de 40%, em Espanha é de 50%, na Andaluzia é de 60%. É toda uma geração de pessoas que não estudam nem trabalham. Esta cultura do descartável é gravíssima. Não é só na Europa, mas na Europa sente-se fortemente. É um sistema económico desumano, este sistema económico mata, como disse na “Evangelii gaudium” [exortação “A alegria do Evangelho”].»

Jerusalém, capital da Palestina
«Há muitas propostas sobre a questão de Jerusalém. A Igreja católica, o Vaticano tem a sua posição do ponto de vista religioso: uma cidade da paz para as três religiões. As medidas concretas para a paz devem negociar-se, provavelmente decidir-se-á que esta parte se torne capital de um estado, a outra do outro… Mas não me sinto competente para dizer que se faça isto ou aquilo, seria um excesso da minha parta. Creio que se deve entrar com fraternidade e confiança mútua na via da negociação. Requer-se coragem, e eu rezo muito ao Senhor para que estes dois presidentes tenham a coragem de avançar. De Jerusalém digo apenas que seja cidade de paz das três religiões.»

Relações com os ortodoxos
«Com Bartolomeu [patriarca ecuménico de Constantinopla] falámos da unidade, que se faz na estrada, num caminho; nunca podemos fazer a unidade num congresso de teologia. Confirmou-me que Atenágoras disse realmente a Paulo VI: “Metamos todos os teólogos numa ilha, e nós avançamos juntos”. Devemos ajudar-nos, por exemplo com as igrejas, mesmo em Roma, muitos ortodoxos utilizam igrejas católicas. Falámos do concílio pan-ortodoxo, para que se faça alguma coisa sobre a data da Páscoa. É um pouco ridículo: diz-me, quando é que ressuscita o teu Cristo? O meu, na próxima semana. O meu, ao contrário, ressuscitou a semana passada. Com Bartolomeu falámos como irmãos, queremo-nos bem, falámos das dificuldades do nosso governo. Falámos bastante de ecologia, de fazer juntos um trabalho sobre esta questão.»

Viagem ao Sri Lanka e Filipinas; liberdade religiosa
«Na Ásia estão programadas duas viagens: à Coreia do Sul e, em janeiro próximo, viagem de dois dias ao Sri Lanla e depois às Filipinas, na zona onde ocorreu o maremoto. O problema da falta de liberdade para praticar a religião não existe apenas em alguns países asiáticos, mas também noutros. A liberdade religiosa é qualquer coisa que nem todos os países têm. Alguns exercitam controlo, outros tomam medidas que acabam numa verdadeira perseguição. Há mártires hoje, mártires cristãos, católicos e não católicos. Em alguns lugares não se pode andar com um crucifixo, ter uma Bíblia ou ensinar o catecismo às crianças. E eu creio que neste tempo há mais mártires que nos primeiros tempos da Igreja. Devemos aproximar-nos de alguns lugares com prudência, para os ajudar, rezar muito por estas Igrejas que sofrem, sofrem muito, e também os bispos e a Santa Sé trabalham com discrição para ajudar os cristãos destes países, mas nãoé coisa fácil. Por exemplo, num país é proibido rezar juntos. Os cristãos que vivem lá querem celebrar a Eucaristia, e há um senhor que faz de operário mas que é sacerdote, e chega-se à mesa, com os outros: fingem que vão beber chá e fazem a Eucaristia. Se chega a polícia, escondem os livros e parece que estão a tomar chá.»

A eventual renúncia
«Eu farei o que o Senhor me disser para fazer. Rezar, procurar fazer a vontade de Deus. Bento XVI não tinha mais forças, e honestamente, como homem de fé, humilde como é, tomou essa decisão. Há 70 anos os bispos eméritos não existiam. O que acontecerá com os papas eméritos? Devemos olhar para Bento XVI como para uma instituição; abriu uma porta, a dos papas eméritos. A porta está aberta, se se abrirão outras ou não, só Deus sabe. Eu creio que um bispo de Roma, se sente que as forças enfraquecem, deve fazer-se a mesma pergunta que fez o papa Bento.»

Divorciados recasados
«O Sínodo será sobre a família, sobre o problema da família e sobre as suas riquezas e situação atual. A exposição preliminar feita pelo cardeal Kasper [durante o consistório de fevereiro, no Vaticano] tinha cinco capítulos, quatro dos quais sobre aspetos belos da família e sobre o seu fundamento teológico. O quinto capítulo era sobre o problema pastoral das separações e sobre a nulidade matrimonial, e aqui está também o tema da comunhão aos divorciados em segunda união. Não apreciei que muitas pessoas, mesmo da Igreja, tivessem dito: o Sínodo é para dar comunhão aos divorciados recasados, como se tudo se reduzisse a uma casuística. Hoje, sabemo-lo, a família está em crise, e é uma crise mundial, os jovens não querem casar-se, ou convivem. Não queria que caíssemos nesta casuística: pode ou não pode dar-se a comunhão? O problema pastoral da família é muito amplo, muito amplo. Deve estudar-se caso a caso. Volto sempre a uma coisa que o papa Bento disse já três vezes: é preciso estudar o procedimento de nulidade matrimonial, estudar a fé com que uma pessoa vai para o matrimónio e clarificar que os divorciados não são excomungados. Muitas vezes são tratados como excomungados. Escolher o tema do Sínodo sobre a família foi uma experiência espiritual muito forte; lentamente acabou-se por falar da família. Estou seguro de que foi o Espírito do Senhor a guiar-nos até este ponto.»

Obstáculos às reformas da Cúria
«O primeiro obstáculo sou eu! Estamos num bom ponto, consultámos toda a Cúria, começam a estudar-se as coisas, para aligeirar a organização, por exemplo através da incorporação dos dicastérios. Um dos pontos chave foi o económico: o dicastério da Economia deve trabalhar com a Secretaria de Estado. Agora, em julho, temos quatro dias de trabalho, e depois, no fim de setembro, outros quatro, mas trabalha-se. Ainda não se veem todos os resultados, mas a parte económica é a que foi tratada primeiro, havia alguns problemas de que a imprensa falava bastante. O caminho da persuasão é muito importante. Há algumas pessoas que não veem claramente. Mas eu estou contente, trabalhou-se bastante.»

 

Andrea Tornielli
In Vatican Insider
Trad./redação: SNPC/rjm
27.05.14

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FotoPapa Francisco responde aos
jornalistas na viagem entre
Telavive e Roma. 26.5.2014
AP Photo/Andrew Medichini, Pool

 

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