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Para lá das religiões

O livro “Para lá das religiões – Ensaios sobre religiões e culturas, ética, espiritualidade e política”, de Isabel Allegro de Magalhães, vai ser apresentado esta quinta-feira em Lisboa por Yvette K. Centeno e frei Bento Domingues, op.

A sessão realiza-se no Cinema King (rua Bulhão Pato, 1, junto ao Teatro Maria Matos), pelas 18h00.

O Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura adianta a “nota liminar”, que apresenta a obra, e o índice.

Em artigo separado (ver ligação no final deste texto) publicamos também um excerto do primeiro capítulo, que intitulámos “Indícios do Divino na poesia portuguesa do século XX”.

Isabel Allegro de Magalhães é professora catedrática de Literatura Comparada na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

 

Nota liminar

Os dezoito textos que aqui marcam encontro estão em geral fora do âmbito estrito do trabalho académico que fui fazendo ao longo da vida. Têm a ver sobretudo com outras faces, interligadas, do meu percurso: procura espiritual, teológica a partir do cristianismo ou não, no Graal a que pertenço e noutros contextos; empenhamento cultural, social e político, como cidadã.

Alguns deles resultam de convites de diferentes instâncias para comunicações e intervenções públicas, em contextos culturais, feministas, políticos, cristãos ou interreligiosos, em Portugal e fora. Outros, são estudos de minha conta e compromisso, que algum impulso me levou a escrever: reflexões silenciosas, ensaios – todos reelaborados e acrescidos ao entrarem em Para Além das Religiões.

Atravessa a multiplicidade de situações e de matérias um fio que vai aparecendo e reaparecendo, deixando emergir, ligando, questões que me perturbam e comovem – e com elas me movem; que me prendem e ao mesmo tempo libertam.

No cerne, persistente e vária, a figura duma inquietação primordial sobre o sentido de existirmos na Terra, íntimo e último sentido, de uma pergunta informulada e informulável a rasgar abertura para o horizonte final da vida e para o Mistério do divino.

Essa pergunta pelo Sentido chega-me do próprio viver, duma habitação intensa e inquieta do mundo. Vem da consciência de a pertença ao aqui e agora da História ser
tão temporária. Vem da urgência em tornar efectivo um respeito afectivo por cada vida e a fraternidade / sororidade universal.

Quando a alguns textos chamei “ensaio” queria com isso evocar algo para mim significativo: a etimologia latina da palavra esconde um verbo (ex-igere) poliédrico de sentidos que marcam a acto de ensaiar. Ele inclui a noção de pesar ou de tomar o peso; e a noção mais abstracta de apreciar, de pensar ou de ponderar; supõe o efeito de submeter a uma prova, como gesto de experimentação. Aliás, usos correntes da palavra trazem à memória os tubos de ensaio das ciências experimentais e as provas de ensaio enquanto fases de um processo: no trabalho musical, no teatro, na dança, no desporto. Presenciamos aí uma espécie de montagem experimental, à porta fechada, anterior ao momento final, já sem cortina.

Ora o ensaio do pensar é ele também trabalho de bastidor: procede por aproximações e tentativas que precedem outras que reinventam ou recompõem o já pensado. O ensaio nasce pois para um lugar que é provisório. Convoca o princípio da incerteza. Por não esgotar a coisa de que fala, essa coisa permanece nele instável ou, na metáfora de Friedrich Schlegel, em ruminância.

Noutra face, o prefixo ex- que compõe o verbo traz a ideia de movimento para fora, o que neste caso sugere uma comunicação de universos diferentes, entre os quais há pontes de afinidade imaginadas. Assim se prolonga a interminável “conversação da humanidade” entre textos de várias áreas do pensamento e da criação. Por sua vez, o particípio passado do verbo parece fundar e qualificar uma das componentes do acto de ensaiar: exactus ou a qualidade do que tem rigor, traço que só aparentemente contradiz a imperfeição ou o inacabamento do ensaio, já que rigor é justamente o gume por onde a impossibilidade de concluir comparece.

Se “pararmos mentes” – gosto muito desta expressão medieval – na bibliografia sobre ensaio encontramos a incalculável herança que desde Montaigne marca o pensamento humanista ocidental. Daí o natural frisson em quem ensaie, ou um kierkegaardiano tremor. Mesmo assim acredito que a fragilidade pode sempre abrir a uma claridade maior.

 

Índice

I - Para Lá das religiões
Mundos, Artes, Religiões: a Presença de uma Ausência
Dizer o Indizível: o saber feminino de um não-saber
Narrativas religiosas: rupturas, novos capítulos
Atenção absoluta
A vertical do lugar

II - Presença ao mundo
Um ethos global, contributo das religiões
Monoteísmo(s) e fundamentalismo(s)
Traçado de civilizações: dos cartoons à liberdade de expressão
Presença ao Mundo
O limiar como lugar
Outra consciência
Ergueste- a, e fez- se: Manifesto- Festa de Esquerda 2008

III - Subversão e Solicitude
Maria de Lourdes Pintasilgo, fé e política
Cuidar o Mundo: espaço público em Pintasilgo
Dizer Deus. Imagens e Linguagens: que feminismos?
Aprendizagens do ouvido: o chão e o vento
Espírito e subversão em Natália Correia
Ousadia e espanto: uma mística quinhentista

Bibliografia

 

Esta transcrição omite as notas de rodapé.

 

Isabel Allegro de Magalhães
In Para lá das religiões, ed. Chiado Editora
09.02.12

Capa

Para lá das religiões

Autor
Isabel Allegro de Magalhães

Editora
Chiado Editora

Ano
2011

Páginas
491

Preço
15,00 €

ISBN
978-989-6973-62-9













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