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Para uma cultura cristã na Europa

Não basta anunciar Cristo ao homem europeu contemporâneo. É preciso que ele penetre e ilumine, transformando a sua cultura, bastante diversa, sob muitos aspectos da do passado, seja em si própria, seja nas suas múltiplas expressões.

A Igreja mostrou sempre, ao longo dos séculos, uma extraordinária fecundidade cultural, vivificando, com o poder do Evangelho, a cultura ou as culturas dos povos com que ela contactou. Isto aconteceu também na Europa. A sua cultura seria incompreensível sem a contribuição substancial do Cristianismo. As suas raízes são, de facto, profundamente cristãs. Negá-lo seria fazer uma grave ofensa à história do "velho" Continente. A história nunca deve ser interpretada em chave ideológica, mas simplesmente aceitada na inconfundível realidade dos seus factos. 

Na esteira da sua tradição, a Igreja é chamada, também hoje, a encarnar o Evangelho na nova cultura europeia, mostrando que, também nela é possível vivê-lo em toda a sua plenitude; que a mensagem cristã, longe de empobrecer uma cultura, a enriquece, a eleva e a aperfeiçoa. "A evangelização da cultura lembra o actual Pontífice deve mostrar que hoje, nesta Europa, também é possível viver em plenitude o Evangelho enquanto itinerário que dá sentido à existência" (Ecclesia in Europa, 58). 

Para tal fim pede-se, sem dúvida, uma adequada pastoral da cultura nas Igrejas europeias. A elas diz respeito o dever de formar uma "mentalidade cristã" nos vários sectores da vida ordinária:  no da família, da escola, do trabalho, da economia, da política, dos meios de comunicação social, etc; quer dizer, em todas as realidades de que é formada a vida comum do homem moderno, em particular do europeu.

Um capítulo importante desta pastoral deve ser a promoção de um verdadeiro e sincero diálogo, de um confronto crítico com a situação cultural europeia de hoje, "avaliando as tendências salientes, os factos e as situações de maior relevância do nosso tempo à luz da centralidade de Cristo e da antropologia cristã" (ibid.).

E para que este diálogo e confronto atinjam o seu fim, é necessário que eles tenham sempre na devida conta, a causa da sua relevância no campo da cultura e da sociedade da Europa, das ciências e das realizações tecnológicas. No confronto com elas, a Igreja deve ter uma atitude positiva e propositiva. Não há, de facto, nenhuma oposição entre fé e razão, entre a Igreja e o mundo científico. Nem poderia haver. A Igreja foi sempre, através dos séculos, uma promotora convicta das ciências. E continua a sê-lo ainda hoje. Ela está plenamente consciente que são as novas descobertas científicas e as suas aplicações tecnológicas que estão na base do extraordinário progresso de que goza o homem de hoje.

As escolas católicas são chamadas a dar um contributo determinante para a evangelização da cultura europeia, segundo a Exortação Apostólica "Ecclesia in Europa". Para melhor atingir esta finalidade, porém, deve ser reconhecida "uma efectiva liberdade de educação e a igualdade jurídica entre escolas estatais e não estatais" (EiE, 59). Não devemos esquecer que as escolas católicas são, talvez, o único meio para propor a Mensagem cristã a quantos dela estão afastados. Um papel muito particular diz respeito depois, segundo o texto pontifício, às Universidades, que são outros tantos laboratórios de cultura, e àqueles cristãos que nelas se dedicam ao ensino e à pesquisa. Com o seu "serviço do pensamento" eles transmitem às novas gerações europeias os valores de um precioso "património cultural enriquecido por dois milénios de experiência humanista e cristã" (ibid.).

É, pois, indispensável, para uma encarnação do Evangelho na cultura europeia, a presença e a acção dos jovens. Por isso uma das principais preocupações das Igrejas que estão na Europa deve ser a de lhes oferecer uma sólida formação humana e cristã. Eles são a esperança da Igreja e do mundo. São os  cristãos  da  nova  Europa  que, embora  de  modo  fatigante,  se  está  a construir.

Para atingir tal finalidade, "é preciso observa o Papa renovar a pastoral juvenil, estruturando-a, segundo as faixas etárias, adaptando-as às exigências próprias de crianças, adolescentes e jovens" (ibid., 62). Uma pastoral juvenil orgânica e coerente, que tenha em conta o modo de ser dos jovens de hoje, das suas tendências, das suas aspirações e dos seus problemas.

Isto pressupõe, como é óbvio, um profundo conhecimento dos jovens, que só pode provir de uma proximidade com eles, de escuta das suas questões. O Papa, que os conhece bem, por os ter encontrado, em grande número, quer nas suas viagens apostólicas nos vários países, quer nas diversas Jornadas Mundiais da Juventude, oferece o seguinte identikit dos jovens de hoje:  "constata-se o desejo de estarem juntos para saírem do isolamento, uma sede mais ou menos consciente de absoluto:  encontra-se neles uma fé secreta que pede para ser purificada, pois deseja seguir o Senhor; intui-se a decisão de continuarem o caminho já abraçado e a exigência de partilharem a fé" (ibid., 61). Estes são os destinatários da pastoral juvenil.

Os agentes desta pastoral não devem ter medo de propor aos jovens de hoje, valores fortes, metas exigentes. O Papa é muito explícito neste aspecto. "Não é preciso ter medo, diz ele, de ser exigentes com eles no que se refere ao seu crescimento espiritual. Seja-lhes indicado o caminho da santidade, animando-os a tomarem decisões empenhativas no seguimento de Jesus, sustentados por uma intensa vida sacramental. Assim, poderão resistir às seduções de uma cultura, que muitas vezes lhes propõe apenas valores efémeros ou mesmo contrários ao evangelho, e tornarem-se eles próprios capazes de mostrar uma mentalidade cristã em todos os âmbitos da existência" (ibid., 62), e de maneira a serem verdadeiros "protagonistas da evangelização e da edificação da sociedade" europeia (ibid.).

Não se pode, por fim, na evangelização da cultura europeia, prescindir dos mass media, dada a sua grande influência na sociedade de hoje. Aliás, para eles "está reservada uma particular atenção" (ibid., 63).

É evidente o enorme impacto que têm os mass media na sociedade de hoje. Eles provocaram uma verdadeira e própria revolução cultural. São o primeiro areópago do mundo moderno (cf. Rms, 37) em que é constante o intercâmbio de ideias e valores. Bem se pode dizer que com eles se mudou profundamente a sociedade em todos os campos e a todos os níveis.

É precisamente por isso que a Igreja não pode prescindir, no anúncio do Evangelho, desses extraordinários meios de comunicação social. O Concílio Vaticano II dedicou-lhes um documento completo, o Inter mirifica. São, pois, conhecidas as palavras de Paulo VI a propósito:  "a Igreja viria a sentir-se culpável diante do seu Senhor, se ela não lançasse mão destes meios potentes que a inteligência humana torna cada dia mais aperfeiçoados... neles se encontra uma versão moderna e eficaz do púlpito" (En 45).

É óbvio que, ao anunciar Cristo a Igreja deve servir-se, com verdadeira competência, antes de tudo, dos seus próprios meios de comunicação social. Os cristãos que trabalham nos media devem estar adequadamente formados para serem comunicadores "intrépidos e criativos". Contudo, na medida do possível, a Igreja deve também aproveitar as oportunidades que puder encontrar nos meios seculares de comunicação social (Mensagem para o 34º Dia Mundial das Comunicações Sociais, 4.6.2000).

Eis os caminhos que, segundo a Exortação Apostólica pós-sinodal "Ecclesia  in  Europa", deve seguir a Igreja deste Continente para anunciar ao mesmo Continente, com renovado empenho, o Evangelho da esperança e conduzi-lo deste modo a permanecer fiel às suas raízes incontestavelmente cristãs, àqueles valores espirituais e culturais de que é tecida a sua história, e de que estão impregnados a arte, a literatura, o pensamento e a cultura das nações que a formam. (cf.EiE, 120); a não delapidar o rico património herdado, mas, ao contrário, a reconquistá-lo, como diz Wolfgang Göethe:  "aquilo que herdaste dos Pais reconquista-o, se queres possui-lo verdadeiramente".

 

Card. José Saraiva Martins
Reflexões sobre a exortação apostólica "Ecclesia in Europa" (2003), de João Paulo II
In Vaticano
© SNPC | 28.08.13

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