Cinema
Patriarca de Veneza e Ken Loach: Igreja distingue realizador atento à injustiça social
O cineasta britânico Kenneth Loach recebeu esta terça-feira das mãos do patriarca de Veneza o prémio Robert Bresson, que há 13 anos é concedido pela fundação italiana Ente dello Spettacolo, em parceria com o Conselho Pontifício da Cultura.
O galardão entregue por D. Francesco Moraglia durante o Festival de Cinema de Veneza distinguiu uma obra cinematográfica «caracterizada por um forte empenho político e social, atenta ao progresso da civilização e à solidariedade humana», refere o texto que justifica a entrega do prémio.
O cinema de Loach mostra «as condições de vida da classe operária, dos emigrantes e dos desempregados, categorias sociais a quem frequentemente é negada a dignidade de trabalhadores e de homens, e por isso desejosos de resgate e justiça social».
Numa sociedade e numa cultura que trabalha «sempre mais para ampliar o espaço da razão - disse o patriarca, citando Bento XVI – o poderoso meio do cinema pode ajudar-nos a refletir».
Paolo Baratta, Ken Loach e D. Francesco Moraglia
A entrega do prémio da Igreja Católica a um artista que não esconde a simpatia por políticas de esquerda suscitou a curiosidade dos jornalistas.
«Isso faz parte dos estereótipos que muitas vezes envolvem as pessoas», respondeu D. Francesco Moraglia, acrescentando que para além das referências pessoais «pode haver convergência, o que não significa abdicar das próprias ideias mas olhar em conjunto aspectos da realidade em que se podem encontrar convergências e trabalhar para que essa realidade se torne melhor».
Loach, vencedor de uma Palma de Ouro do Festival de Cannes de 2006 com o filme "Brisa de mudança" ("The wind that shakes the Barley"), chegou ao Lido com a sua mulher, com quem festejou 50 anos de casamento.
D. Francesco Moraglia
Na cerimónia de entrega do prémio intervieram também o presidente da Bienal de Veneza, Paolo Baratta, e o responsável máximo da Fundação Ente Spettacoli, padre Dario Viganò, que se referiu a Loach como o «último realizador vermelho» a quem a Igreja reconheceu a obra.
«Uma pessoa extraordinária e uma das figuras do cinema que sabe contar as vicissitudes do humano que nada têm de incompatível com o Evangelho», salientou.
Ken Loach, de 76 anos, é filho de operários e dedicou boa parte de seus filmes a relatar a vida das classes menos favorecidas. O seu último filme, “The Angels' Share”, foi lançado este ano.
Avvenire / Agências
© SNPC (trad.) |
05.09.12