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Francisco I

Personalidades portuguesas dizem o que esperam do novo papa na relação da Igreja com a Cultura

Lídia Jorge
Escritora

«Espero que o próximo Papa prossiga no gesto cristão de não anatemizar os que não têm a certeza de Deus, mas que fazem da busca da Beleza e da Harmonia a demanda das suas vidas. Isto é, espero que seja um sábio. Um sábio capaz de se associar ao grande movimento de mudança de que o Mundo necessita para sobreviver com mais verdade e mais justiça, agora que a transparência as reclama todos os dias.

Estar à altura desta transformação, modificando por dentro a passividade da Igreja, é sem dúvida um desafio imenso, transformado, por via das circunstâncias, num imperativo de Cultura. De resto, a aproximação dos artistas e dos criadores à Igreja acontece não por que se chama, mas por que o exemplo atrai.»

 

Mário Avelar
Professor universitário

«Sendo tão positiva a apreciação que faço da acção de Bento XVI a este nível, não será de estranhar que ache que as orientações e prioridades do novo papa deverão ser no sentido de prosseguir o seu legado.

No entanto, independentemente de eventuais acções que venham a ser desencadeadas pelo futuro papa, é importante não esquecer uma dinâmica própria da Igreja que, entre nós, tem vindo a ser objecto de crescente atenção por parte das autoridades eclesiásticas. Penso, em particular, no Átrio dos Gentios e na Pastoral da Cultura. O átrio dos gentios deverá prosseguir na sua promoção do diálogo entre crentes e não-crentes, e entre crentes de diferentes confissões. Por seu turno, a Pastoral da Cultura, que tem revelado um imenso dinamismo, deverá chegar ao maior número possível de pessoas. Mas isso é algo que cabe, também, a cada um de nós.

Afinal, importa que o novo papa tenha uma percepção lúcida dos chamados sinais dos tempos. Quando refiro sinais dos tempos não estou a pensar nos sound bytes, nas modas, em síntomas efémeros, ainda que ruidosos, mas sim naquilo que de mais profundo se insinua nas nossas sociedades. Algo a que o pensamento e a cultura não são, obviamente, alheios. Afinal, como defendia Bento XVI, urge prosseguir o concílio, pois aí “a Igreja acolhia e recriava por si mesma, o melhor das instâncias da modernidade, por um lado, superando-as e, por outro, evitando os seus erros e becos sem saída. O evento conciliar colocou as premissas de uma autêntica renovação católica e de uma nova civilização – a 'civilização do amor' - como serviço evangélico ao homem e à sociedade."»

 

Zita Seabra
Editora

«Que seja “um humilde servidor da vinha do Senhor" porque, como se provou, é assim que chega ao que a cultura e a arte têm de mais sublime.»

 

P. João Lourenço, OFM
Diretor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa

«A marca que eu gostaria que o próximo papa desse ao seu magistério no domínio da cultura é que dê continuidade à herança de abertura que Bento XVI realizou», mantendo a sua «qualidade de reflexão e pensamento».

Os católicos, «e em especial aqueles que exercem o serviço de pastores na Igreja» são chamados a acrescentar «à descoberta das matrizes culturais da fé» a «preocupação de transformar a vivência da fé no diálogo com a cultura».

Ao mesmo tempo os fiéis devem recorrer à «beleza, usando o domínio da arte como forma de evangelização», dado que a sociedade «está cada vez mais atenta a esses sinais».

O responsável está convicto que é preciso «intensificar a formação» de leigos e clero, para que «acrescentem valor à expressão da sua fé».

 

Joaquim Azevedo
Diretor do Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa e do Secretariado da Pastoral da Cultura da diocese do Porto

«Conheço alguns dilemas do mundo atual face aos quais o próximo Papa pode representar uma voz cálida, inteligente, firme, profética, de esperança.

O mundo está sedento de esperança e de luz, tal é a escuridão em que nos deixamos mergulhar. Depois da morte de Deus, promovemos a morte do homem e agora investimos quase tudo na preparação do mundo pós-humano.

Só pode continuar a dar mau resultado esta deriva humanista sem seres humanos, de proliferação de humanismos sem eu nem tu, de promoção de uma vida sem morte, de endeusamento da tecnologia e da fantasia sem realidade, de gigantesco cansaço de informação sem qualquer discernimento, de futuro sem presente.

Há um bloqueamento na cultura contemporânea hegemónica, demasiado dependente dos valores da economia de mercado, subordinada à eficácia, amiga do relativismo e do utilitarismo, enfeudada à moral do consumo, que “compra” a ética sobretudo como estratégia legitimadora, para rotular práticas e modelos a ela bastante estranhos.

A voz profética da Igreja de Cristo precisa de se proclamar em três temas: na cultura hegemónica, que tem de ir muito para além do aniquilamento do ser humano, da sua dignidade e da beleza; na paz e na justiça, que tem de constituir a nova prioridade na globalização; e no diálogo intercultural e inter-religioso, ajudando o mundo a escapar aos enredos dos fanatismos crescentes. A história está aberta!

A voz da Igreja Católica é, neste contexto, a voz mais reconhecida e autorizada para ajudar a desbloquear a cultura atual e coloca-la mais próxima do Deus criador e de Amor, pois sabemos que só Ele pode salvar verdadeiramente o homem.

Como eu entendo o sublime gesto de humildade e beleza de Bento XVI, ao comunicar-nos que a Igreja precisa de uma voz enérgica e vigorosa, que ele já não tem! Rezemos todos para que Deus nos dê essa voz! A nós e ao futuro papa!»

 

Alfredo Teixeira
Professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa

«O maior risco que o cristianismo corre, nas sociedades que com ele fizeram história, é o da sua exculturação. A ilegibilidade da memória de Jesus naquilo que é âmago da experiência cultural, a incapacidade da proposta cristã reinventar os recursos necessários à sua permanente traduzibilidade, ou a perda das interfaces que permitem acolher as demandas que habitam a inquietude do nosso tempo constituem o abismo mais difícil de enfrentar. Neste sentido, o próximo pontificado deveria fazer uma aposta clara na pastoral da cultura. Não apenas como um âmbito funcionalmente especializado, mas sobretudo como centro articulador e nevrálgico onde se torna possível a comunhão com «as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias» (GS 1) que habitam a aventura humana. Seguindo o impulso do Vaticano II, a relação pastoral das Igrejas com as sociedades em que se inscrevem é, no seu âmago, uma pastoral da cultura.»

 

Notas:
> Depoimentos recolhidos antes da eleição de Francisco I.
> Mário Avelar escreve com o anterior Acordo Ortográfico

 

© SNPC | 24.03.13

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