Leitura
Professor Ratzinger, fale-nos da felicidade
«Acredito que a história do desenvolvimento das palavras é como um espelho no qual se lê o progresso do pensamento humano. O termo «felicidade» substituiu gradualmente, no sentimento e na linguagem comum fora da área teológica, o termo clássico de “salvação”. Isto denotou a perda da significação cósmica contida no conceito cristão de salvação. Com o termo “salvação” era definida a salvação do mundo, dentro da qual se realiza a pessoal.
Agora contudo, felicidade reduz o conteúdo da salvação a uma espécie de bem-estar individual, a uma "qualidade" do viver do homem entendido como indivíduo; nesta perspectiva o "mundo" já não é considerado por si mesmo nem globalmente, mas só em função individualista. (…)
É preciso reagir. A própria teologia deve ajudar o homem de hoje a encontrar possibilidades, as mais profundas e verdadeiras, de transformação do mundo. Tal estratégia deve ser nova no sentido de que seja capaz de alargar e superar precisamente os círculos quer da racionalidade tecnológica ocidental, quer da racionalidade revolucionária oriental.
O homem já não se satisfaz com um suplemento, um acréscimo quantitativo de felicidade; nem de uma simples distribuição mais equilibrada dos bens presentes. Ele deseja algo total, verdadeiramente novo, mais profundo.»
Foi desta forma que o professor Joseph Ratzinger, atual papa Bento XVI, se expressou em 1975, numa aula lecionada em Roana para a Faculdade de Teologia do Triveneto, em Itália. A palestra incidiu no diálogo com a cultura.
Os conteúdos desta e de outra intervenção, textos pouco conhecidos, foram reunidos nas 232 páginas do volume “Salvezza cristiana e storia degli uomini. Joseph Ratzinger com Luigi Sartori tra i teologi triveneti (1975-1976)”, (“Salvação cristã e história dos homens. Joseph Ratzinger com Luigi Sartori entre os teólogos do Triveneto”), publicado pelas Edições Messaggero, de Pádua.
In L'Osservatore Romano
29.03.12