Paisagens
Paisagens
Pedras angulares A teologia visual da belezaQuem somosIgreja e CulturaPastoral da Cultura em movimentoImpressão digitalVemos, ouvimos e lemosPerspetivasConcílio Vaticano II - 50 anosPapa FranciscoBrevesAgenda VídeosLigaçõesArquivo

Arquitetura

Quando as casas são feitas de portas e janelas... de pessoas e Deus

Quando a arquitetura entra na nossa vida a vida pode mudar para sempre. Não falo apenas de ‘exteriores’ mas também de ‘interiores’… de tantas especificidades que a ‘arte’ hoje protagoniza e possibilita.

Neste sentido, penso em muitos arquitetos que mudaram para sempre o nosso modo de ver o mundo e de nos localizarmos nesta terra. Basta recorrer a ‘fotos’ antigas de qualquer país, cidade ou lugar. Como ‘tudo muda’ quando entra a ‘construção’ e nela ‘um modo de ser mundo’.

Basta pensar em alguns (escolho apenas dez) como Lozenzo Bernini, Francesco Borromini, Rafael Moneo, Alvar Aalto, Oscar Niemeyer, Antoni Gaudi, Frank Wright, Frank Gehry… e os portugueses Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto Moura.

Sem muitas destas ‘obras’ o nosso modo de existir seria diferente. Tal como eles, e tantos outros, sonhar ‘espaços’ significa alterar muito (quase tudo) o modo como vivemos. Fazer uma casa é muito mais do que construir paredes num determinado terreno e colocar lá dentro um conjunto de divisões.

Não é apenas uma arte da estética para ganhar prémios (como às vezes parece). Para mim, que não sou ‘arquiteto’ (apesar de ‘construir’ casas), a arquitetura tem de ser uma estética associada à dimensão existencial – uma arquitetura do interior ligada a uma arquitetura do exterior (casas que nos façam viver melhor por dentro e por fora).

Mas porquê falar de arquitetura? É que de facto esta ‘arte’ tem muito a ver com a nossa humanidade e com o nosso modo de existir. A construção de casas fala muito da passagem de um período nómada para um tempo mais fixo. Eis uma das razões pelas quais, segundo o direito, as casas não se alugam – arrendam-se (só os bens móveis se podem alugar). Cada casa fixa-nos na historicidade de nós mesmo. Uma casa é uma espécie de árvore que ganha raízes, uma vida que ganha uma localização e uma história que ganha referência.

Somos muito da casa que habitamos e construímos (não deixa de ser interessante que a palavra ‘casamento’ tenha muito a ver com esta ideia de ‘construção permanente de uma casa’). Às vezes não nos conseguimos sentir ‘em casa’ na nossa própria casa… Mas, tantas vezes, sabe tão bem regressar a casa (no sentido mais profundo de lar ou melhor ainda na palavra inglesa home).

Voltando às casas que os ‘arquitetos’ desenham, fazemos notar que é muito importante a luz natural, o modo como o sol ‘entra’ em casa, as paisagens que se alcançam de dentro, as cores que se conjugam, os espaços comuns, a temperatura ambiente… em tudo isto há um lugar especial para as portas e principalmente para as janelas.

Não deixa de ser particularmente interessante verificar que o interior condiciona o modo como vemos o exterior e o exterior condiciona muito o modo como se vive no interior. Por outras palavras a paisagem exterior que se alcança de dentro ajuda a viver melhor (ou pior) dentro de casa. O que é que isto pode ter a ver com a vida? Há muito mais interação entre o exterior e o interior do que se podia imaginar. Há muita cumplicidade e influência entre os ‘dois lados da parede’.

Assim também na vida, o modo como vivo interiormente condiciona muito o modo como vejo os outros e o mundo e, por outro lado, o mundo e as ‘paisagens’ que nos envolvem condicionam bastante o que sentimos, o que sonhamos, o que pensamos, o que decidimos e o que fazemos – dediquemo-nos à arquitetura, a começar por dentro.

É por tudo isto que é assustador, quase impossível pensar uma casa sem janelas nem portas. Ou então com as portas e as janelas todas fechadas. Imaginem agora uma vida fechada à luz, com medo de tudo, sem deixar entrar ninguém… a vida que se perde!

Engraçado reparar quando fechamos todas as portas de casa… parece um condomínio fechado. Tenho para mim que trazemos chaves a mais nos bolsos - (in)seguranças entre o medo e a privacidade.

Mas há uma pequena diferença entre as portas e as janelas. As portas deixam entrar e sair (pessoas) - as janelas servem fundamentalmente para deixar entrar ar e luz. Ambas nos falam de abertura, de capacidade de ver, de horizonte.

Deste modo, as casas só estão completas quando têm portas e janelas, normalmente mais janelas que portas... A vida é assim, precisamos de mais ar e de mais de luz. Esse ar e essa luz também podem ser abertura a mais, podem ser oportunidade de Deus (que na Bíblia é tantas vezes apresentado como o ‘ar’ que dá vida e a ‘luz’ que ilumina) - Ele pode dar mais vida à tua casa, mais esperança e mais horizonte.

Por isso, se a casa que construímos tocar a beleza abrimos a ‘porta do céu’, porque «A beleza é chave do mistério e apelo ao transcendente. É convite a saborear a vida e a sonhar o futuro» (João Paulo II, Carta aos artistas, 1999, nº16).

ImagemEdward Hopper

 

P. Nuno Santos
Diocese de Coimbra
© SNPC | 29.01.13

Redes sociais, e-mail, imprimir

ImagemEdward Hopper (det.)













































Citação

 

Ligações e contactos

 

Artigos relacionados

 

Página anteriorTopo da página

 


 

Receba por e-mail as novidades do site da Pastoral da Cultura


Siga-nos no Facebook

 


 

 


 

 

Secções do site


 

Procurar e encontrar


 

 

Página anteriorTopo da página