«Quando só há amor», dizem os poemas e as canções, teremos nas nossas mãos, amigo, o mundo inteiro!». Sim, mas o que é o amor? Como o poderemos reconhecer?
S. Paulo, que antes de tudo foi o encarniçado adversário de Jesus Cristo, tornou-se o seu mensageiro mais apaixonado. Ele compreendeu as palavras de Jesus: «Eu sou o Caminho, a Verdade, a Vida». Compreendeu que Deus é amor, que o sentido de toda a vida humana é aprender a amar.
Num texto famoso, Paulo descreve as dimensões deste amor, que por vezes se nomeou de “caritas” para não o confundir com “eros”. No prelúdio, ele afirma que se esta qualidade divina lhe falta, poderia possuir todos os tesouros da Terra, ter os maiores talentos, e até obter a palma do martírio, que tudo isso seria «címbalo que retine… se não tiver amor, nada sou» (1 Coríntios 13).
Eis, segundo ele, as cores do amor, eis o que o permite identificar:
«O amor é paciente»: por muito que os obstáculos e as dificuldades possam durar, eu não te deixarei. Nada me pode desencorajar de te amar. Paciência infinita do pai do filho pródigo. Pouco importa cair… o que conta é levantar-se.
O amor «é prestável», é bondade, é disponível. «O que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e os Profetas» (Mateus 7,12).
O amor «não é invejoso»: aquele que ama verdadeiramente não se irrita se os outros são mais amados do que ele. Alegra-se com o sucesso de um concorrente.
O amor «não é arrogante nem orgulhoso»: a pessoa que ama sabe-se pobre em amor. Não faz alarde dos seus talentos. Não procura impor-se. É o outro que procura valorizar.
O amor «nada faz de inconveniente»: diante da mulher que derramou perfume sobre os seus pés, Jesus dirá ao apóstolo que se insurgia contra o desperdício: «Deixa-a» (João 12, 7); dito de outra forma: porquê magoar esta mulher?
O amor «não procura o seu próprio interesse», não procura o bem próprio, é gratuito: o violoncelo que se quer fazer ouvir mais e que acentua a sua partitura não se preocupa com a harmonia do conjunto. Para quem ama, os outros tornam-se a mais bela preocupação.
O amor «não se irrita nem guarda ressentimento»: ele não brada: “Registei tudo, cá se fazem, cá se pagam». Antes, espanta-se: «Pedes-me perdão? Mas de quê?».
O amor «não se alegra com a injustiça», mas dá a vida pelos outros: saber arriscar-se para salvar uma vida. Deus alegra-se por cada um dos nossos passos ganhos à selva.
O amor «rejubila com a verdade»: o ser que ama rejubila com a verdade, de onde quer que venha. Se amamos alguém, deixamos que nos diga quem é, não o traímos com uma falsa imagem que façamos dele. Amor e verdade se encontrarão, diz o Salmo 85. Ajudar o ser amado a encontrar a verdade do seu ser é uma bela marca do amor.
O amor «tudo desculpa»: não se acusa o outro de não ser perfeito. Jesus não quebra a cana fendida nem apaga a mecha que fumega (cf. Mateus 12, 20), mas respeita as nossas fragilidades.
O amor «tudo espera»: sabe que terá a última palavra. Para além dos mal-entendidos, das crises, das calúnias, mesmo para além da morte.
O amor «tudo suporta»: «Pai, perdoa-lhes, não sabem o que fazem». Deus coloca a sua confiança no ser humano até ao fim. «Sede como o vosso Pai, que faz brilhar o Sol sobre os maus como sobre os bons, e que faz cair a sua chuva sobre os injustos como sobre os justos» (Mateus 5, 45).
À luz desta perspetiva, trata-se de um projeto irrealizável. Mas é maravilhoso ser-se tão pobre quando se está acompanhado daquele que veio salvar o amor, curá-lo das suas feridas. Não nos é pedido que cheguemos à meta logo no primeiro dia, mas de caminhar em direção a uma estrela. Só Deus ama em todo o tempo, é a sua natureza, como a do Sol é a de iluminar e aquecer. O seu amor será vivo em nós desde que deixemos que os seus raios nos atravessem.
Stan Rougier