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Comunicação social

Rádio Renascença assinala 75 anos

A Rádio Renascença assinala a 10 de abril de 2012 o seu 75.º aniversário, um dia depois de ter recebido do presidente da República o título de Membro Honorário da Ordem do Mérito, em cerimónia realizada no Palácio de Belém.

«No nosso tempo, marcado tantas vezes por situações de isolamento e de solidão, é difícil alcançar a importância espiritual, social e cultura de uma instituição como a Rádio Renascença», afirmou Cavaco Silva, citado pelo site da emissora católica.

«Ela - prosseguiu - é presença viva em muitos lares, quase como se fosse, e muitas vezes é, um membro da família, que escutamos com atenção e, em muitos casos, com o qual podemos contactar e dialogar».

Depois de recordar que foi na Rádio Renascença que se ouviu a 25 de abril de 1974 a canção "Grândola, Vila Morena", de Zeca Afonso, senha para a Revolução dos Cravos, Cavaco Silva agradeceu, «em nome do povo português», a «obra feita».

O presidente do Conselho de Gerência do grupo r/com - renascença comunicação multimédia, cónego João Aguiar, Campos sublinhou que a emissora é uma «rádio de serviço e não de poder, nem do poder».

 

História

Embora a inauguração oficial da Emissora Nacional date de 1935, as primeiras emissões radiofónicas regulares, ainda que com caráter amador e por iniciativa privada, tiveram início em 1925. Na sociedade portuguesa vivem-se, então, os entusiasmos das primeiras experiências radiofónicas, suscitando reações que oscilavam entre a desconfiança e a adesão.

A nível internacional, no mundo católico «a missão espiritual da radiodifusão era exaltada e invocada: a difusão da doutrina de Cristo não podia ter limites, no meio de tantas adversidades e ideologias contrárias à fé católica». Em 1928 criara-se a Sociedade Católica Internacional de Radiodifusão e várias outras iniciativas tiveram lugar, enquanto no Vaticano era inaugurado em 1931 o primeiro posto radiofónico, dando-se início à transmissão, pela rádio, das mensagens papais.

Foi neste contexto que nasceu e se desenvolveu a ideia de criação de uma emissora católica em Portugal, por iniciativa e empenhos de alguns católicos, em particular os padres Magalhães Costa (1890-1948) e Domingos Basto a partir do “Diário do Minho”, o jornalista Zuzarte de Mendonça (1877-1967), e, sobretudo, o padre Manuel Lopes da Cruz (1899-1969), o seu grande organizador, qual «apóstolo» da comunicação social católica no país, agraciado por Pio XII, em 1946, com o título de monsenhor.

Com o apoio explícito do episcopado, o empreendimento ganhou dimensão nacional, justificando até o abandono de outras iniciativas de âmbito diocesano, como aconteceu na Guarda. Assim, e apesar de todas as dificuldades, devidas nomeadamente ao «indiferentismo» de muitos, a campanha de mobilização dos católicos e de angariação de fundos, iniciada a 1 de fevereiro de 1933 através do apelo feito na revista “Renascença: Ilustração Católica”, produziu os seus frutos.

A 5 de junho de 1936, ainda em fase experimental, foi possível começar a ouvir-se a Rádio Renascença (RR) em ondas curtas, tendo as suas emissões diárias em ondas médias e curtas tido início a 1 de janeiro de 1937, a partir dos emissores de Lisboa, num processo de crescimento contínuo: 1 de fevereiro de 1938, início do funcionamento regular do emissor de 3 kw, em Lisboa, para trabalhar em onda média e onda curta; 23 de julho de 1940, início das emissões experimentais no Porto; 1941, inauguração da estação emissora de ondas médias, de pequena potência, no Porto (17 de maio) e melhoramentos na estação de ondas curtas em Lisboa; 1 de maio de 1948, inauguração do edifício privativo e da nova antena de Lisboa, no Alto da Boavista (Buraca); 12 de abril de 1949, conclusão do edifício privativo e da nova antena do Porto; 25 de junho de 1949, início do funcionamento experimental do emissor de 1,1 kw no Porto; 6 de janeiro de 1950, início do funcionamento regular do mesmo emissor de ondas médias; 31 de dezembro de 1955, participação na fundação da Radiotelevisão Portuguesa; 12 de junho de 1957, inauguração de novo emissor de ondas médias, de 10 kw, e da antena de quarto de onda (64 m) do Porto; outubro de 1964, novo e decidido passo com o início da montagem da rede de emissores de frequência modulada (FM); 7 de fevereiro de 1965, entrada em funcionamento do primeiro posto emissor de FM em Monsanto (Lisboa), num processo que continuaria até aos anos 70.

Em 1938, através da criação do Secretariado do Cinema e da Rádio, a Ação Católica Portuguesa (ACP) aprovara o projeto de «Normas Reguladoras da organização e atividade da Rádio Renascença», oficializando-a como instituição católica integrada no seu seio, passando o novo secretariado a ser cumulativamente dirigido pelo padre Lopes da Cruz, o qual só viria a ser substituído nesta função em 1963 pelo padre José Reis da Assunção.

No mesmo ano de 1938 foram aprovados os estatutos da Liga dos Amigos da Rádio Renascença (LAR), com o objetivo de contribuir - segundo os termos do cardeal-patriarca Gonçalves Cerejeira - para que «a Rádio Renascença seja em Portugal a grande Emissora Católica, que é necessário montar para honra dos católicos e dilatação do Reino de Cristo».

Entretanto, em 1942, num momento de particulares dificuldades devidas à guerra, a ACP criou o «Dia da Emissora Católica».

Colocada desde o início sob a proteção de Nossa Senhora de Fátima, cujo culto se propunha também intensificar, os destinos da RR ficaram umbilicalmente ligados à história do catolicismo português. Através das suas ondas foram noticiados e transmitidos grandes acontecimentos da vida da Igreja Católica, nomeadamente: em 1942, nas bodas de prata das aparições de Fátima, retransmissão da radiomensagem de Pio XII em português, consagrando a humanidade ao Sagrado Coração de Maria; em maio de 1946, ano da coroação de Nossa Senhora como Rainha de Portugal, início da transmissão direta das cerimónias religiosas de Fátima, regularmente retomadas com periodicidade mensal, entre maio e outubro, a partir de 1949; ao longo de 1951, transmissão de diversas reportagens sobre o Ano Santo, em colaboração com a Rádio Vaticano, que inaugurara em 1949 as suas emissões em português; 25 de março de 1953, início da transmissão diária da recitação do terço e da bênção eucarística, a partir da Basílica dos Mártires, em Lisboa; transmissão direta das grandes visitas papais a Portugal; etc.

Se desde o início os fundadores da RR defenderam a ideia de que a estação radiofónica deveria ter como principal missão a evangelização, isso nunca significou restringir o seu papel à transmissão de atos litúrgicos e programas doutrinais. Monsenhor Lopes da Cruz «nunca escondeu a sua intenção de oferecer aos católicos uma estação que lhes pudesse proporcionar o melhor em diversas áreas, além da programação de caráter religioso». E foi isso o que aconteceu, vindo a emissora a desenvolver uma programação de crescente impacte público, sobretudo a partir de finais dos anos 50, quando «a emissora católica logrou colocar-se em terceiro lugar, logo a seguir à Emissora Nacional e ao Rádio Clube Português, na lista de preferências do auditório, mercê de uma política de programação dinâmica e mesmo inovadora no panorama radiofónico nacional».

A partir de 1965, ao mesmo tempo que procurava conseguir a cobertura de todo o território continental em rede de FM, a Renascença «conseguiu fazer coexistir no "ar" produtos de fácil aceitação e experiências radiofonicamente ousadas e politicamente algo incómodas». Foi num destes programas (“Limite”) que o Movimento dos Capitães fez emitir a senha «Grândola, vila morena» (da canção do mesmo nome, de José Afonso), confirmando a irreversibilidade do golpe de Estado que pôs fim ao Estado Novo.

Esta programação é expressão de uma renovação interna que se articula e só se compreende com a própria evolução do catolicismo pós-conciliar no final dos anos 60. Facto significativo foi também o início de noticiários próprios a 23 de outubro de 1972. Nesta perspetiva, sublinhe-se que as relações com a censura oficial não foram lineares, verificando-se a partir de 1969 uma maior interferência e a existência de alguns conflitos na própria programação.

A data, coincidente com a morte do fundador, que «sempre conseguira evitar uma grande interferência da censura no interior da estação, corresponde também a uma nova fase na vida da sociedade portuguesa, marcada nomeadamente por uma conflituosidade mais aberta entre a Igreja Católica e o regime político. Assim se compreende que durante o período marcelista a RR tenha sido «bastante vigiada, não só pelos programas contestados que transmitia, mas também pelos textos do Concílio Vaticano II que eram comentados nos espaços religiosos».

Significativo da atitude de reserva do Estado relativamente ao crescimento da emissora católica é o facto de só a 9 de agosto de 1977 terem ficado definidas as condições técnicas que viriam a permitir a cobertura eficaz e total do território nacional em onda média, apesar do pedido de autorização para a instalação de uma rede mais potente, em paridade com a Emissora Nacional e o Rádio Clube Português, ter vindo a ser reiteradamente formulado desde outubro de 1955.

Após o 25 de Abril de 1974, a emissora católica foi centro de um conflitivo e conturbado processo, iniciado com uma greve dos serviços de noticiários a 30 de abril de 1974 e que culminaria com a destruição dos seus emissores da Buraca por ordem do então Conselho da Revolução, a 7 de novembro de 1975. Não foi um conflito a nível das relações do Estado com a Igreja Católica, nem foi propriamente expressão de uma «questão religiosa», como o próprio episcopado o sublinha, logo a 12 de abril de 1975: «o caso de Rádio Renascença insere-se num problema mais amplo e muito mais grave que o do seu significado imediato, o qual é o da crescente limitação da liberdade de informação entre nós, limitação que a Igreja não deplora apenas relativamente aos meios de comunicação social que lhe pertencem, mas pelo atentado que representa às liberdades essenciais de uma comunidade nacional que todos  ambicionam democrática e pluralista».

Efetivamente, a Rádio Renascença tornou-se num «caso» nacional, paradigmático da evolução e das lutas sociais e políticas durante o processo revolucionário, evoluindo de um conflito de caráter laboral para um conflito vincadamente político, atravessado por diversas questões ideológicas, que dividiram a sociedade, serviram de pedra de toque na definição do jogo partidário, e em torno do qual se evidenciaram também algumas fraturas no seio da Igreja Católica relativamente ao modo de compreensão da sua presença na sociedade, aspeto ainda pouco estudado.

Se a resolução adotada no caso RR permitiu que as boas relações do Estado com a Igreja Católica fossem salvaguardadas, o processo deixou feridas em aberto e, sobretudo, contribuiu para reforçar a ideia da necessidade de a Igreja Católica possuir meios de comunicação social próprios. No 50.° aniversário da RR, em 1988, o cardeal Ribeiro ressalvava, no entanto, que essa necessidade só se compreendia em função da sua missão evangelizadora: a emissora católica «justifica-se, e só nessa medida interessa à Igreja, se o seu conteúdo e o tom dos seus programas estiverem em consonância com o Evangelho de Jesus Cristo e o magistério da Igreja».

O ano de 1978, data do 40.° aniversário da Rádio Renascença, marcara novo arranque na vida da emissora católica, após a restituição à Igreja Católica das instalações dos estúdios de Lisboa e da Buraca, em dezembro de 1975 (no momento em que se nacionalizam os outros emissores privados) e do subsequente recomeço das emissões a partir dos estúdios de Lisboa em janeiro de 1976. Iniciou-se então novo período de expansão da emissora católica, apoiada na Liga dos Amigos entretanto reativada: campanha dos novos emissores de ondas curtas e médias, adquiridos respetivamente em dezembro de 1977 e maio de 1978; início das transmissões diretas para a Madeira e os Açores, respetivamente a 1 de novembro de 1978, através do posto emissor do Funchal e da estação Rádio Madeira, e a 21 de janeiro, através da Rádio Lages; início do programa diário em onda curta, em regime experimental, destinado aos emigrantes e transmitido em colaboração com a a Rádio Transeuropa, a 1 de novembro de 1979; lançamento da Semana Nacional da Rádio Renascença, em maio de 1980; alargamento do período de desdobramento da emissão em FM para 12 horas, em outubro de 1984; aparecimento da RFM, em 1987, graças ao aumento do espectro radiofónico do FM e à concessão à emissora católica de uma das três novas redes neste tipo de onda atribuídas a Portugal; e, em 1998, o nascimento da Mega FM.

Além destas estações o grupo r/com inclui a Rádio Sim, iniciou recentemente emissões regulares em vídeo na internet (“V+”), e publica de segunda a sexta-feira o “Página 1”, jornal eletrónico com a síntese das principais notícias do dia.

 

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Vídeo: Renascença
História: Paulo Fontes (in Dicionário de História Religiosa de Portugal)
© SNPC | 09.06.12

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