Cinema
"Terra Prometida": imagem pascal evoca caminho para um planeta mais justo e ecológico
Steve Butler e Sue Thomason, dois executivos que trabalham para uma companhia energética dos Estados Unidos, têm por incumbência convencer os proprietários agrícolas de Midwestern a vender os direitos de exploração das suas terras em favor da extração de gás natural. No pacote de contrapartidas e atrativos conta-se a participação nos lucros da companhia e a transformação radical do estilo de vida de uma população francamente afetada pela recessão económica.
Em plena campanha, e apesar dos resultados positivos que um discurso bem afinado vai encontrando, Steve Butler depara-se com a firme oposição de Frank Yates, um cientista reformado, e de Dustin Noble, ambientalista, ambos decididos a demonstrar os efeitos nefastos de tal exploração para a qualidade da água e, consequentemente, para o equilíbrio natural de um solo invulgarmente rico.
Aos poucos a convicção de Steve vai sendo abalada, obrigando-o a ponderar não apenas sobre os seus interesses pessoais e profissionais mas sobre a defesa dos seus valores... sobretudo do bem comum. Nesta ponderação não é indiferente a relação que estreita com Alice, uma professora local...
Trazendo a lume uma velha, pertinente e nada consensual questão sobre a racionalidade do uso dos recursos naturais, Gus Van Sant propõe em ‘Terra Prometida’ uma reflexão sobre os custos e benefícios da exploração do gás natural que, embora focalizada numa região dos Estados Unidos, abrange uma discussão a nível planetário.
A perspetiva económica e ambientalista assume o protagonismo da história, numa relação em que as respostas de curto prazo às necessidades de uma população, enquadradas numa mais vasta necessidade de autonomização económica dos Estados Unidos face a países produtores de gás natural, não são suficientes para camuflar nem a necessidade de preservação da saúde dos recursos naturais, a maior e mais garantida riqueza que uma população possui, nem a desproporção entre os ganhos de quem explora os recursos e de quem deles deve beneficiar por direito.
Com uma realização escorreita e um naipe de excelentes atores, os argumentos de Van Sant pendem de forma muito evidente para a perspetiva ambientalista, o que apesar da agilidade com que o seu mais recente filme se desenvolve, não chegará para minimizar o alcance mundial da questão, num mundo, que apesar das convenções, acordos e regras que se vão estabelecendo entre países, continua a ser explorado de forma bastante desigual...
Margarida Ataíde
Grupo de Cinema do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura
In Agência Ecclesia | Com SNPC
27.03.13