«No Oriente aprecia-se a velhice porque se pensa que foi feita para orar. Quando se é velho e se percebe Deus próximo através da parede cada vez mais fina da vida biológica, a pessoa torna-se como uma criança consciente que se confia ao pai, alegra-se pela proximidade da morte, transparente a uma outra luz». Por isso todo o monge em que a ascese deu o seu fruto é chamado no Oriente "um belo velho". Belo da beleza que sai do coração.
No caminho que percorre o lago de Como encontrei ontem um idoso de perfil admirável: se se tivesse de imaginar o centenário Abraão, que ainda consegue gerar Isaac, pensar-se-ia certamente naquele figura, isolada e silenciosa no meio do palreio dos turistas. Quis assim refletir sobre um tema que toca também muitos dos meus leitores, o da velhice serena. Tema que tenho diante de mim precisamente no meu pai, mimado e seguido a todo o momento pelas minhas irmãs.
Mas realisticamente, exatamente nestes meses de férias, vêm-me à mente todos os idosos deixados nos lares ou esquecidos nos apartamentos abrasadores das cidades. E todavia é possível encontrar uma paz e uma beleza mesmo nesse estado e nessa fase da vida, e muitas vezes tive disso confirmação direta.
É isto que diz no passo acima citado o teólogo ortodoxo francês Olivier Clément, na sua obra "A oração do coração". Ele continua assim, explicando a missão do idoso sereno: «Precisamos de velhos que oram, que sorriem, que amam com amor desinteressado, que sabem maravilhar-se. Só eles podem mostrar aos jovens que vale a pena viver e que o nada não é a última palavra».
P. (Card.) Gianfranco Ravasi