Átrio dos Gentios
Uma palavra nova no vocabulário da economia: gratuidade
O tema da gratuidade na economia esteve no centro do mais recente encontro do Átrio dos Gentios, plataforma da Igreja católica para o diálogo entre crentes e não crentes, que decorreu esta quinta-feira na embaixada de Itália na Santa Sé.
O encontro, intitulado "Solidariedade: dever religioso ou dever cívico", contou com as intervenções de Pietro Grasso, porta-voz do Senado italiano, Corrado Passera, ex-ministro para o desenvolvimento económico, Giovanni Ialongo, presidente dos Correios, Paolo Colombo, presidente da elétrica Enel, e Marco Morganti, presidente executivo do Banco Prossima.
«Quisemos introduzir outro vocábulo que no campo da relação com a economia é provocatório. Trata-se da palavra "gratuidade", explicou o cardeal italiano Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho da Cultura, à Rádio Vaticano, antes da sessão.
O prelado biblista sublinhou que a gratuidade supõe «o dom», elemento «antes de tudo religioso», como é recordado na «única frase de Jesus que não está nos evangelhos e que é citada por Paulo no capítulo 20 dos Atos dos Apóstolos: «Há mais alegria em dar do que em receber».
«A gratuidade que queremos considerar neste Átrio é uma componente ética, religiosa, mas que é necessária ao próprio desenvolvimento autêntico da economia. É como uma pedra no sapato em relação a uma conceção de economia, sobretudo esta recente do corte financeiro, mercantil, e assim por diante, que considera simplesmente o interesse, o lucro, como o elemento que é quase o volante da própria economia», apontou.
Para sublinhar que o centro da crise está na ética, Ravasi lembrou as raízes da palavra "economia": «Se tivermos em conta a verdadeira realidade da economia, deveremos considerá-la precisamente na sua etimologia, que é "nomos" da "oikia" do mundo, isto é, a lei da casa do mundo.
«Uma casa administra-se não apenas através da gestão brutal dos bens materiais ou do dinheiro, mas é também calibrada através de um conjunto de múltiplos componentes, que são algumas vezes componentes de doação», salientou.
Segundo Ravasi, a economia foi reduzida «à mera técnica financeira, à mera lei dos mercados», o que a tornou «quase desumana» e rompeu a sua verdadeira autenticidade».
O cardeal mostrou-se convicto de que esta sessão do Átrio dos Gentios, limitada à participação de gestores de grandes empresas, confirma «a estrutura permanente do diálogo entre crentes e não crentes, realizado por pessoas que às vezes têm perspetivas substancialmente diferentes, até díspares, mas que quando são chamadas às raízes dos valores encontram consonâncias surpreendentes.»
Rádio Vaticano / SNPC
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09.12.13