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«Olhou-o com olhos de misericórdia: Deus tem vida nova à espera de todos, afirma papa

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«Olhou-o com olhos de misericórdia: Deus tem vida nova à espera de todos, afirma papa

Primeiro, a compaixão, e só depois vem conversão: estes foram os eixos da homilia que o papa pronunciou hoje na cidade cubana de Holguín, 730 km a sudeste de Havana.

As palavras do papa basearam-se no texto do Evangelho lido nas missas desta segunda-feira, 21 de setembro, data em que a Igreja católica evoca S. Mateus, cobrador de impostos dos judeus em favor do Império Romano (publicano), que Jesus chamou para ser um dos seus 12 apóstolos.

«Celebramos a história duma conversão. Ele próprio nos conta, no seu Evangelho, como foi o encontro que marcou a sua vida, introduzindo-nos numa "troca de olhares" que pode transformar a história», apontou o papa.

Francisco vincou o absoluto afastamento de Mateus do sistema religioso do seu tempo, para realçar o carácter inusitado do convite de Jesus: «Os publicanos eram mal vistos e até considerados pecadores, pelo que viviam separados e eram desprezados pelos outros. Com eles, não se podia comer, falar nem rezar. Eram considerados pelo povo como traidores: tiravam da sua gente para dar aos outros».

«Jesus parou, não passou ao largo acelerando o passo, olhou-o sem pressa, com calma. Olhou-o com olhos de misericórdia; olhou-o como ninguém o fizera antes. E este olhar abriu o seu coração, fê-lo livre, curou-o, deu-lhe uma esperança, uma nova vida, como a Zaqueu, a Bartimeu, a Maria Madalena, a Pedro e também a cada um de nós», acrescentou.

O episódio evangélico pode ser hoje reescrito por todo o ser humano, não obstante a distância que julgue estar de Deus: «Ainda que não ousemos levantar os olhos para o Senhor, Ele é o primeiro a olhar-nos. É a nossa história pessoal; tal como muitos outros, cada um de nós pode dizer: eu também sou um pecador, sobre quem Jesus pousou o seu olhar».

O «amor» de Jesus «sabe ver para além das aparências, para além do pecado, do fracasso», da «indignidade» e da «categoria social»: «Para além de tudo isso, Ele vê a dignidade de filho, talvez manchada pelo pecado, mas sempre presente no fundo da nossa alma. Veio precisamente à procura de todos aqueles que se sentem indignos de Deus, indignos dos outros».

A misericórdia abre as portas à mudança de vida: «Antes, ele esperava sentado para arrecadar, para tirar aos outros; agora, com Jesus, tem de se levantar para dar, para entregar, para se dar aos outros. Jesus olhou-o, e Mateus encontrou a alegria no serviço».

O olhar de Cristo, que vê «o que há de mais autêntico em cada pessoa, isto é, a imagem de seu Pai», continua a ser fonte de interpelação para o agir dos cristãos: «O seu [de Jesus] amor cura as nossas miopias e incita-nos a olhar mais além, a não nos determos nas aparências ou no politicamente correto».

«O seu olhar transforma os nossos olhares, o seu coração transforma o nosso coração. Deus é Pai que procura a salvação de todos os seus filhos.

Deixemo-nos olhar pelo Senhor na oração, na Eucaristia, na Confissão, nos nossos irmãos, especialmente naqueles que se sentem postos de lado, que se sentem mais sozinhos. E aprendamos a olhar como Ele nos olha», apelou o papa.

Tal como Jesus se dirigiu aos últimos, também a Igreja é chamada a partilhar «a sua ternura e misericórdia pelos doentes, os presos, os idosos e as famílias em dificuldade», frisou.

No livro-entrevista "El jesuita", lançado em Portugal poucas semanas após da sua eleição como papa (13.3.2013), com o título "Papa Francisco - Conversas com Jorge Bergoglio" (ed. Paulinas), os autores recordam que precisamente a 21 de setembro de 1953, aos 16 anos, Bergoglio «preparava-se para sair e festejar o Dia do Estudante com os seus colegas. Mas decidiu iniciar a jornada visitando a sua paróquia».

«Quando chegou, encontrou um sacerdote que ele não conhecia e que lhe transmitiu uma grande espiritualidade, pelo que decidiu confessar-se com ele. Grande foi a sua surpresa ao verificar que não tinha sido apenas mais uma confissão, mas sim a confissão que despertou a sua fé», conta o livro.

No mesmo volume, o então arcebispo de Buenos Aires relata como foi marcado pela narração do encontro entre Jesus e S. Mateus.

«A mim sempre me impressionou uma leitura do Breviário que diz que Jesus olhou para Mateus numa atitude que, traduzida, seria algo assim como «olhou-o com misericórdia e elegeu-o». Essa foi, precisamente, a maneira como eu senti que Deus olhou para mim durante aquela confissão. E essa é a maneira com que Ele me pede que olhe sempre para os outros: com muita misericórdia, e como se estivesse a elegê-los para Ele; não excluindo ninguém, porque todos são eleitos para o amor de Deus. «Olhando-o com misericórdia e elegendo-o» foi o lema da minha consagração como bispo e é um dos pivôs da minha experiência religiosa: o serviço para a misericórdia e a escolha das pessoas com base numa proposta», afirmou.

Por iniciativa do papa, a Igreja católica inicia a 8 de dezembro o Ano da Misericórdia, que encerra a 20 de novembro de 2016.

Francisco também lembrou o «grande esforço e sacrifício com que a Igreja em Cuba trabalha para levar a todos, mesmo nos lugares mais remotos, a palavra e a presença de Cristo».

O programa do terceiro dia da visita do papa a Cuba começou com a viagem em avião entre a capital, Havana, e Holguín. Depois da missa, Francisco parte, igualmente a bordo de uma aeronave, em direção a Santiago, 100 km a sul, onde se encontra com o episcopado, antes de rezar à Virgem da Caridade na basílica no santuário da Virgem da Caridade do Cobre, padroeira do país.

Na terça-feira, o papa celebra missa no mesmo santuário mariano, e a seguir encontra-se com as famílias na catedral de Nossa Senhora da Assunção, em Santiago, de onde abençoará a cidade.

Às 12h15 locais despede-se das autoridades civis e eclesiásticas, e 15 minutos depois parte para a capital dos EUA, Washington, onde deverá chegar pelas 16h00, terminando desta forma a agenda programada do quarto dia de viagem.

 

Celebração da missa - Holguín, 21.9.2015 (diferido)

 




Rui Jorge Martins
Publicado em 27.09.2015 | Atualizado em 26.04.2023

 

 

 
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O «amor» de Jesus «sabe ver para além das aparências, para além do pecado, do fracasso», da «indignidade» e da «categoria social»: «Para além de tudo isso, Ele vê a dignidade de filho, talvez manchada pelo pecado, mas sempre presente no fundo da nossa alma. Veio precisamente à procura de todos aqueles que se sentem indignos de Deus, indignos dos outros»
O olhar de Cristo, que vê «o que há de mais autêntico em cada pessoa, isto é, a imagem de seu Pai», continua a ser fonte de interpelação para o agir dos cristãos: «O seu [de Jesus] amor cura as nossas miopias e incita-nos a olhar mais além, a não nos determos nas aparências ou no politicamente correto»
«"Olhando-o com misericórdia e elegendo-o" foi o lema da minha consagração como bispo e é um dos pivôs da minha experiência religiosa: o serviço para a misericórdia e a escolha das pessoas com base numa proposta»
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