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Papa Francisco pede abolição da pena de morte ao Congresso dos EUA

Imagem Papa Francisco | D.R.

Papa Francisco pede abolição da pena de morte ao Congresso dos EUA

O papa pediu hoje a abolição da pena de morte, durante o discurso que proferiu no Congresso dos EUA, em Washington, tendo também vincado a necessidade da proteção de toda a vida humana, nomeadamente dos pobres e imigrantes.

No primeiro discurso proferido por um papa no Congresso dos EUA, Francisco evocou a «riqueza da herança cultural» de quatro norte-americanos: Abraham Lincoln, Martin Luther King, Dorothy Day e Thomas Merton.

«Uma nação pode ser considerada grande quando defende a liberdade» (Lincoln), «quando promove uma cultura que permita às pessoas sonhar plenos direitos para todos os próprios irmãos e irmãs, como Martin Luther King procurou fazer», quando «luta pela justiça e a causa dos oprimidos, coo Dorothy Day fez como seu trabalho incansável», declarou o papa, que elogiou a fé do padre Thomas Merton [cf. artigos relacionados], que se torna «diálogo e semeia paz na contemplação».

Várias vezes aplaudido de pé, desde que chegou ao hemiciclo até o abandonar, Francisco frisou que «a atividade legislativa é sempre baseada na proteção das pessoas».

«Se a política deve estar verdadeiramente ao serviço da pessoa humana, não pode estar submetida ao serviço da economia e da finança. Política é, pelo contrário, expressão da nossa necessidade que não se pode suprimir de viver juntos em unidade, para poder construir unidos o maior bem comum: o de uma comunidade que sacrifique os interesses particulares para poder condividir, na justiça e na paz, os seus benefícios, os seus interesses, a sua vida social», sustentou.

Após lembrar que os habitantes do continente americano não têm «medo dos estrangeiros», porque muitos já o foram, Francisco lembrou, implicitamente, as milhares de pessoas que tentam chegar clandestinamente aos EUA através da fronteira com o México: «Também neste continente, milhares de pessoas são impelidas a viajar para o Norte, em busca de melhores oportunidades. Não é isto que queremos para os nossos filhos? Não devemos deixar-nos alarmar pelo seu número, mas antes vê-los como pessoas, olhando os seus rostos e escutrando as suas histórias, tentando responder o melhor que pudermos às suas situações. Responder de uma maneira que seja sempre humana, justa e fraterna. Devemos evitar uma tentação hoje comum: descartar quem se mostre problemático».

«Numa palavra, se queremos segurança, dêmos segurança; se queremos vida, dêmos vida; se queremos oportunidade, providenciemos oportunidade», afirmou o papa, que realçou a «responsabilidade de proteger a vida humana em cada fase do seu desenvolvimento».

Reconhecendo que muito foi feito na luta contra a pobreza extrema, Francisco vincou que falta fazer «muito mais», agindo sobretudo nas suas causas.

No domínio da salvaguarda do meio ambiente, o papa apelou ao «uso correto dos recursos naturais» e à «capacidade de bem orientar o espírito empreendedor» para edificar «uma economia que procura ser moderna, inclusiva e sustentável».

Durante o discurso de cerca de 40 minutos, o papa saudou implicitamente o desanuviamento das relações dos EUA com Cuba e o Irão, antes de pedir atitudes «verdadeiramente determinadas» com vista a «reduzir e, a longo prazo, a pôr fim aos muitos conflitos armados em todo o mundo».

«Porque é que armas mortais são vendidas àqueles que planeiam infligir sofrimentos indizíveis a indivíduos e sociedades? Infelizmente, a resposta, como todos sabemos, é simplesmente por dinheiro; dinheiro que está embebido em sangue, muitas vezes em sangue inocente. Perante este vergonhoso e culpável silêncio, é nosso dever enfrentar o problema e parar o comércio de armas», frisou.

O mundo continua a ser sacudido por «conflitos violentos, ódios e atrocidades brutais, cometidas até em nome de Deus e da religião», afirmou o papa, salientando que nenhuma religião «é imune a formas de engano individual ou extremismo ideológico», pelo que é necessário «estar particularmente atento a toda a forma de fundamentalismo, tanto religioso como de qualquer outro género».

Para evitar «a polarização» derivada do «reducionismo simplista» que divide o mundo entre «bem e mal», entre «justos e pecadores», prosseguiu Francisco, é preciso estar consciente de que «imitar o ódio e a violência dos tiranos e dos assassinos é a melhor maneira de tomar o seu lugar».

No contexto das grandes questões que perpassam as sociedades, «é importante que a voz da fé continue a ser escutada», dado que constitui um «recurso poderoso» na luta contra «as novas formas globais de escravidão» e as «novas injustiças».

Depois de recordar que a viagem aos EUA terminará no 8.º Encontro Mundial das Famílias, em Filadélfia, o papa vincou o carácter imprescindível dos agregados familiares - «quão essencial foi a família na construção deste país» - e apelou à defesa dos seus direitos.

«Não posso esconder a minha preocupação pela família, que está ameaçada, talvez como nunca o foi antes, do interior e do exterior. Foram postas em discussão relações fundamentais, como também a própria base do matrimónio e da família. Eu só posso voltar a propor a importância e, sobretudo, a riqueza e a beleza da vida familiar», declarou.

De acordo com o programa para hoje, Francisco deverá dirigir-se ao centro social da paróquia de S. Patrício e encontrar-se com pessoas sem-abrigo, e pelas 16h00 locais partirá, de avião, para Nova Iorque, onde deverá chegar uma hora depois.

Às 18h45 o papa encontra-se com clero, religiosos e religiosas na catedral de S. Patrício para rezar a hora litúrgica de Vésperas, terminando com esta celebração a agenda do terceiro dia da visita aos EUA, que termina no domingo.

 

Discurso no Congresso dos EUA - Washington, 24.9.2015 (diferido)

 


Rui Jorge Martins
Com "Vatican Insider"
Publicado em 27.09.2015 | Atualizado em 19.04.2023

 

 

 
Imagem Papa Francisco | D.R.
«Numa palavra, se queremos segurança, dêmos segurança; se queremos vida, dêmos vida; se queremos oportunidade, providenciemos oportunidade», afirmou o papa, que realçou a «responsabilidade de proteger a vida humana em cada fase do seu desenvolvimento»
«Porque é que armas mortais são vendidas àqueles que planeiam infligir sofrimentos indizíveis a indivíduos e sociedades? Infelizmente, a resposta, como todos sabemos, é simplesmente por dinheiro; dinheiro que está embebido em sangue, muitas vezes em sangue inocente. Perante este vergonhoso e culpável silêncio, é nosso dever enfrentar o problema e parar o comércio de armas»
No contexto das grandes questões que perpassam as sociedades, «é importante que a voz da fé continue a ser escutada», dado que constitui um «recurso poderoso» na luta contra «as novas formas globais de escravidão» e as «novas injustiças»
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