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Papa pede na ONU «mínimo absoluto» para cada ser humano: teto, trabalho, terra, liberdade espiritual e direitos cívicos

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Papa pede na ONU «mínimo absoluto» para cada ser humano: teto, trabalho, terra, liberdade espiritual e direitos cívicos

O papa Francisco frisou hoje na sede da ONU, em Nova Iorque, que «os governantes devem fazer todo o possível para que todos possam ter a base mínima, material e espiritual para tornar efetiva a sua dignidade e para formar e manter uma família, que é a célula primária de qualquer desenvolvimento social».

«Este mínimo absoluto tem, no nível material, três nomes: casa, trabalho e terra; e um nome a nível espiritual: liberdade de espírito, que compreende a liberdade religiosa, o direito à educação e todos os outros direitos cívicos», vincou o papa no discurso que proferiu na assembleia-geral das Nações Unidas.

Para Francisco, «o indicador mais simples e adequado para o cumprimento da nova agenda para o desenvolvimento será o acesso real, prático e imediato para todos aos bens materiais e espirituais indispensáveis: casa própria, trabalho digno e devidamente remunerado, alimentação adequada, água potável».

Estes «pilares» para o «desenvolvimento humano integral têm um fundamento comum que é o direito à vida e, de uma forma mais geral, aquilo que poderíamos chamar o direito à existência da natureza humana em si».

«Aos pobres deve ser garantido de serem protagonistas «do seu próprio destino», o que «supõe e exige o direito à educação - também para as meninas, excluídas em alguns locais -, que se assegura em primeiro lugar respeitando e reforçando o direito primário das famílias a educar», vincou.

Referindo-se ao desenvolvimento sustentável, o papa sublinhou que se trata de uma causa que ele próprio deseja promover: «Ergo a minha voz, juntamente à de todos aqueles que aspiram a soluções urgentes e eficazes. A adoção da "Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável" durante a cimeira mundial que começará hoje mesmo, é um importante sinal de esperança. Confio também que a Conferência de Paris sobre as alterações climáticas alcance acordos fundamentais e efetivos».

Para evitar que as boas intenções não se fiquem pelos acordos, alertou o papa, é preciso «evitar quaisquer tentações de cair num nominalismo declamatório com efeito tranquilizante nas consciências».

Com efeito, o mundo pede «a todos os governantes uma vontade efetiva, prática, constante, feitas de passos concretos e de medidas imediatas, para preservar e melhorar o ambiente natural e vencer quanto antes o fenómeno da exclusão social e económica, com as suas tristes consequências de tráfico de seres humanos, comércio de órgãos e tecidos humanos, exploração sexual de meninos e meninas, trabalho escravo, incluindo a prostituição, tráfico de drogas e de armas, terrorismo e crime internacional organizado».

Depois de constatar as «consequências nefastas de uma má governação irresponsável da economia mundial, orientada unicamente pela ambição de lucro e poder», Francisco defendeu que a defesa do ambiente e a luta contra a exclusão «exigem o reconhecimento de uma lei moral inscrita na própria natureza humana, que compreende a distinção natural entre homem e mulher e o respeito absoluto da vida em todas as suas fases e dimensões».

O ideal de «promover o progresso social e um nível de vida mais elevado» arrisca-se a tornar-se «uma miragem inalcançável ou, pior ainda, palavras vazias que servem como desculpa para quaisquer abusos e corrupção, ou para promover uma colonização ideológica mediante a imposição de modelos e estilos de vida anómalos, estranhos à identidade dos povos e, em última análise, irresponsáveis», advertiu.

Detendo-se seguidamente nos conflitos bélicos, Francisco salientou que a guerra é «a negação de todos os direitos», elogiou o acordo entre EUA e Irão quanto à questão nuclear no país asiático, mencionou as «consequências negativas» de intervenções militares realizadas fora do âmbito da comunidade internacional e criticou a proliferação de armas, especialmente as de grande devastação.

«Uma ética e um direito baseados na ameaça da destruição recíproca, e potencialmente de toda a humanidade, são contraditórias e constituem uma fraude em relação a toda a construção das Nações Unidas, que se tornariam "Nações Unidas do medo e da desconfiança"», afirmou.

A perseguição por motivos religiosos foi também salientada no discurso do papa, especialmente no Médio Oriente e em África, «onde os cristãos, juntamente com outros grupos culturais ou étnicos, e também com aquela parte dos membros da religião maioritária que não se quem deixar envolver pelo ódio e pelos excessos, foram obrigados a ser testemunhas da destruição dos seus lugares de culto, do seu património cultural e religioso, das suas casas e dos seus haveres, e foram colocados diante da alternativa de fugir ou pagar a adesão ao bem e à paz com a própria vida ou com a escravidão».

Após mencionar países envolvidos em conflitos, Francisco aludiu a outra guerra, «debilmente combatida», a do narcotráfico, que «silenciosamente comporta a morte de milhões de pessoas» e envolve o «tráfico de pessoas, a reciclagem de dinheiro, o tráfico de armas, a exploração infantil e outras formas de corrupção».

A terminar, o papa sublinhou que «a casa comum de todos os homens» deve respeitar a «sacralidade de cada vida humana, de cada homem e de cada mulher», em particular dos mais desfavorecidos, bem como da «natureza criada», o que requer «um grau superior de sabedoria, que aceite a transcendência e renuncie à construção de uma élite omnipotente».

Antes de intervir na assembleia, o papa encontrou-se com alguns dos funcionários da ONU, como secretários, intérpretes, tradutores, encarregados da limpeza, cozinheiros e seguranças.

Francisco foi acolhido com um ramo de flores que lge foi entregue por duas crianças canadianas, de seis e sete anos, filhas de um membro da missão de paz da ONU no Haiti que morreu no terramoto de 2010.

É a quinta vez que um papa intervém na Organização das Nações Unidas, que em 2015 assinala 70 anos.

A agenda do papa prossegue hoje em Nova Iorque com um encontro inter-religioso no memorial do "Ground Zero", o piso térreo das torres gémeas do World Trade Center destruídas por atentados a 11 de setembro de 2001, seguindo-se, após o almoço, a visita à escola "Nossa Senhora, Rainha dos Anjos" e encontro com famílias de imigrantes no bairro do Harlem, e, por fim, a missa no Madison Square Garden.


 

Rui Jorge Martins
Com "Vatican Insider"
Publicado em 27.09.2015 | Atualizado em 19.04.2023

 

 

 
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Depois de constatar as «consequências nefastas de uma má governação irresponsável da economia mundial, orientada unicamente pela ambição de lucro e poder», Francisco defendeu que a defesa do ambiente e a luta contra a exclusão «exigem o reconhecimento de uma lei moral inscrita na própria natureza humana
No Médio Oriente e em África «os cristãos, juntamente com outros grupos culturais ou étnicos, e também com aquela parte dos membros da religião maioritária que não se quem deixar envolver pelo ódio e pelos excessos, foram obrigados a ser testemunhas da destruição dos seus lugares de culto, do seu património cultural e religioso, das suas casas e dos seus haveres, e foram colocados diante da alternativa de fugir ou pagar a adesão ao bem e à paz com a própria vida ou com a escravidão»
«A casa comum de todos os homens» deve respeitar a «sacralidade de cada vida humana, de cada homem e de cada mulher», em particular dos mais desfavorecidos, bem como da «natureza criada», o que requer «um grau superior de sabedoria, que aceite a transcendência e renuncie à construção de uma élite omnipotente»
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