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Arquitectura religiosa

A renovação (de novo) presente

Na primeira metade do século XX, a expressão artística da Igreja ficou marcada pela tentativa de falar o léxico moderno, num movimento de várias frentes que viu o seu entusiasmo esvair-se totalmente no final da década de 60. Os anos que se seguiram foram de desencanto e rejeição até, de uma arquitectura desorientada e indefinida e de uma arte que se centrava cada vez mais em si mesma.

Depois de um intervalo de 30 anos e com a chegada do novo milénio, a Igreja do centro e sul da Europa retomou o caminho do diálogo com a arte e arquitectura, ao redescobrir o valor do trabalho e reflexão de várias personalidades esquecidas e ao ser capaz de apreciar sem preconceito e avaliar com justiça as suas obras, compreendendo-as não como soluções definitivas, mas como caminhos, uns sem saída, outros com futuro.

Continuar os bons passos dados então é o objectivo de uma nova geração, que procura aprofundar a ex-pressão arquitectónica e artística contemporânea em total fidelidade ao Concílio Vaticano II.

É de novo na Alemanha que encontramos uma Conferência Episcopal a actualizar as suas “Linhas orientadoras para a construção e organização de espaços litúrgicos” (Gráfica de Coimbra, 2005), onde apela à procura de um espaço para a celebração litúrgica que esteja de acordo com a concepção actual de liturgia.

Imagem Capela dentro de uma igreja. Consórcio Bornhouse, Rússia. Bienal de Veneza 2009

É neste contexto que surgem alguns nomes de teólogos e liturgistas associados a esta renovação de novo presente: Albert Gerhards, Klemens Richter, Walter Zahner, são os autores de obras como “Communio-Raüme” (2003) ou ”Espaços de igrejas e imagens de Igreja” (Gráfica de Coimbra, 2005), que procuram ajudar à tradução arquitectónica das fontes teológicas, eclesiológicas e litúrgicas mais recentes, já visíveis em numerosas transformações de espaços litúrgicos.

FotoCapela de Santo Inácio, Seattle, Washington, EUA

Mas desta vez é a Itália que assume a liderança do debate, quer por iniciativa do Mosteiro de Bose, que desde 2003 tem organizado anualmente um Congresso Internacional sobre liturgia e a sua relação com a arte e a arquitectura, quer pela Conferência Episcopal Italiana, grande promotora de numerosos concursos para construção de novas igrejas, cujas propostas são publicadas em suplementos especiais da histórica revista de arquitectura Casabella, mas também de cursos e congressos, o mais conhecido associado à famosa Bienal de Veneza.

FotoIgreja de Cristo Esperança do Mundo, Viena, Áustria

Também em Espanha a aposta tem sido na figura de um Congresso Internacional, nomeadamente pela Diocese de Ourense, que em Novembro passado realizou a 2ª edição deste encontro de especialistas e estudiosos oriundos de Espanha, Itália, Alemanha, França e EUA.

Respondendo em sintonia ao apelo dos Papas (Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI), passos largos têm sido dados, aprofundando e qualificando as propostas dos pioneiros do século passado.

FotoCapela de Nossa Senhora de Pentecostes, Paris

O diálogo entre a Igreja e a arte e arquitectura contemporânea está de novo em marcha, de uma forma não globalizada, mas já incontornável. Portugal tem esboçado alguns eventos dispersos, mas ainda está do lado de fora. Até quando?

Os frutos destas iniciativas já começam a ser visíveis e o que se descobre é uma Igreja cultural e espiritualmente mais rica…

 

João Alves da Cunha
Arquitecto
© SNPC | 10.04.10

Foto
Igreja do S. Pio de Pietrelcina
S. Giovanni Rotondo, Itália

 

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