Deus é como uma «montanha russa» que desinstala e desafia a ir mais longe, afirmou a cantora e compositora de fado Carminho, no ciclo de conversas sobre Deus organizado pela comunidade da capela do Rato, em Lisboa.
Entrevistada esta quarta-feira pela jornalista Maria João Avillez, em diálogo de que reproduzimos alguns excertos no vídeo publicado logo após este texto, a fadista reconhece que é uma «grande bênção» ter descoberto a «vocação».
Carminho entende que essa «vocação» vai para além do canto, embora a ele recorra, tendo como propósito final dar paz e alegria ao próximo, que tanto pode ser um menino de rua como o público que assiste aos seus espectáculos.
A volta ao mundo, e em particular o voluntariado que prestou na cidade indiana de Calcutá, com as Missionárias da Caridade, foi um dos principais temas da conversa.
É do serviço aos pobres na congregação fundada pela Beata Madre Teresa que Carminho recorda a história de uma colega, depois amiga, depois religiosa, para quem o desabafo de Jesus na cruz, «tenho sede», pedra angular da espiritualidade das Missionárias da Caridade, fazia mais sentido para ela do que para o Filho de Deus.
A fé é uma realidade que a cantora assume como anterior e transversal à sua vida, mas este alicerce não a impede de andar às escuras quando quer compreender a vontade de Deus a seu respeito.
Sobre a família, diz não saber o que é, mas pressente que é onde está o amor, a cola que tudo aglutina, essa palavra de quatro letras que diz o infinito. E é então que Carminho faz sentar a avó ao seu lado.
Da infância recorda a missa, o terço, a Bíblia ilustrada, de onde aprendeu muito do que hoje sabe acerca do Pai e de Jesus, a quem chama de amigo. A eles e ao Espírito Santo distingue e trata diferentemente.
O diálogo regressa a Calcutá, onde o extraordinário não foi o que fez pelos outros, mas o que os outros fizeram por ela. Relatos de uma viagem onde aprendeu a dizer quem era, onde encontrou a «salvação», e onde a «vocação» se desvendou.
A ação de graças, tecida de oração e agradecimento às pessoas, e a maneira como mostra Deus foram os temas que concluíram a sessão da iniciativa que prossegue na próxima quarta-feira, às 21h30, com o jornalista Henrique Monteiro.
Rui Jorge Martins