Haverá lugares mais sagrados que outros para bendizer o Senhor? O dourado é tão inacessível que pode lembrar um Deus distante, inalcançável ou de acesso apenas com recursos extraordinários.
Talvez este painel me tenha ensinado que Deus se manifesta até nos locais mais raros e excecionais. Acompanha-nos no dia a dia, como se mostrou a Abraão, mas não deixa de nos surpreender nos locais mais inesperados como este dourado cheio de novidades estaladas, rachadas, com movimentos verticais e elípticos e texturas que me lembram o estalar da pele da minha avó carregada de vida plena, mas com tanto ainda para dar e deixar...
Este painel dourado é um grande abraço de encontro com o Pai. É um momento raro e por isso brilhante, denso e esmagador visto de longe, mas de uma leveza que lembra o colo do pai e da mãe quando o vemos de perto e lhe tocamos para perceber a sua história, que é a nossa história da humanidade, mas também o que não se sabe explicar e por isso fica ali cheio de ligacçõs imprevistas, nada racionais, sem lógica matemática, junções de fé.
Em todo o tempo e lugar, bendirei o Senhor, cantava a salmista enquanto eu desenhava. Preciso destes encontros esmagadores com o Pai. Só assim vou procurar os dourados da sua presença no meu quotidiano, nos meus percursos banais e repetidos até me dar conta do que pode fazer estalar o verniz e abrir as brechas que mostram a sua beleza rara...
© Mário Linhares
Mário Linhares