O papa lastimou hoje, em Assis, a insensibilidade humana perante «a voz dos que sofrem, o grito escondido dos pequenos inocentes» e «a súplica instante dos pobres e dos mais necessitados de paz».
«Imploram paz as vítimas das guerras que poluem os povos de ódio e a terra de armas; imploram paz os nossos irmãos e irmãs que vivem sob a ameaça dos bombardeamentos ou são forçados a deixar a casa e emigrar para o desconhecido, despojados de tudo», afirmou Francisco papa durante a oração ecuménica realizada na cidade italiana.
Todos os sofredores, prosseguiu o papa na basílica inferior de S. Francisco, «são irmãos e irmãs do Crucificado, pequeninos do seu Reino, membros feridos e sedentos da sua carne. Têm sede. Mas, frequentemente, é-lhes dado, como a Jesus, o vinagre amargo da rejeição. Quem os ouve? Quem se preocupa em responder-lhes?».
As vítimas «deparam-se muitas vezes com o silêncio ensurdecedor da indiferença, o egoísmo de quem se sente incomodado, a frieza de quem apaga o seu grito de ajuda com mesma facilidade com que muda de canal na televisão», declarou o papa, que está hoje na cidade em que nasceu e morreu S. Francisco para o encontro "Sede de paz", que reúne cerca de 500 líderes e representantes de religiões.
Trata-se, sublinhou Francisco, do «drama do coração árido, do amor não correspondido; um drama que se renova no Evangelho, quando, à sede de Jesus, o homem responde com vinagre, que é vinho estragado.
Evocando as palavras de Jesus na cruz, «tenho sede», o papa lembrou que Santa Teresa de Calcutá quis que elas fossem realçadas nas capelas da congregação que fundou, as Missionárias da Caridade: «Apagar a sede de amor de Jesus na cruz, através do serviço aos mais pobres dos pobres, foi a sua resposta».
«De que tem sede o Senhor? Certamente de água, elemento essencial para a vida; mas sobretudo de amor, elemento não menos essencial para se viver. Tem sede de nos dar a água viva do seu amor, mas também de receber o nosso amor», porque Deus «é consolado» quando em seu nome há compaixão pelas «misérias alheias».
Os cristãos são chamados «derramar misericórdia sobre o mundo», bem como a serem «árvores de vida, que absorvem a poluição da indiferença e restituem ao mundo o oxigénio do amor».
«Aproximando-nos de quantos vivem hoje como crucificados e tirando a força de amar do Crucificado Ressuscitado, crescerão ainda mais a harmonia e a comunhão entre nós. "Com efeito, Ele é a nossa paz", Ele que veio anunciar a paz àqueles que estavam perto e aos que estavam longe. Ele nos guarde a todos no amor e nos congregue na unidade, para nos tornarmos o que Ele deseja: "um só", concluiu Francisco.
O encontro "Sede de paz - Religiões e culturas em diálogo", organizado pela Comunidade de Santo Egídio, pela diocese de Assis e pela Família Franciscana, assinala o 30.º aniversário da histórica oração inter-religiosa promovida pelo papa S. João Paulo II na cidade de S. Francisco.
A iniciativa, que começou no domingo e termina esta terça-feira, foi também composta por 29 debates, contando com dezenas de convidados de múltiplas religiões e culturas, entre os quais o padre José Tolentino Mendonça.
Rui Jorge Martins