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«Que tenhamos a coragem dos nossos afetos», apela ensaísta José Gil

A abertura ao mundo, a recusa do isolamento e a decisão de assumir a afetividade foram algumas das principais ideias que o ensaísta José Gil defendeu na mais recente emissão do "Ensaio geral", programa de cultura da Renascença.

O professor catedrático jubilado citou Espinoza, filósofo do século XVII descendente de portugueses, para quem «o homem é para o outro homem o melhor dos bens», que se «manifesta pela alegria de ter esse laço com o outro».

«Isto implica rompermos com tudo o que nos isola», frisou o autor de "Portugal, hoje: O medo de existir" (Relógio d'Água, 2004), que acrescentou: «Há um afeto social que nos liga, e que embora traga os seus vícios e nos afunde, é ainda qualquer coisa que nos resta, e que desapareceu em muitos países do Norte».

O pensador, de 74 anos, realçou igualmente a importância da expressão da afetividade, morada do «laço» e daquilo que é «fundamental» no ser humano: «Que tenhamos a coragem dos nossos afetos, mas nós escondemo-nos para amar, para chorar, para gritar», constatou.

«Há tanta coisa que podemos fazer, individualmente e não individualmente. É preciso ver, primeiro, o que temos, tesouros, pequenos reservatórios não minados e não erodidos, que nos são próprios», assinalou José Gil, que classificou os portugueses de «desassossegados».

O programa realizado pela jornalista Maria João Costa, gravado esta sexta-feira na Livraria Ferin, em Lisboa, contou com a participação de Pedro Vieira, 38 anos, autor do livro "Última paragem: Massamá" (Quetzal, 2011), com o qual ganhou o prémio do Pen Clube Português na categoria Primeira Obra.

Pedro Vieira, que olha para as ilustrações que produz nos média como uma maneira de «ter um discurso sobre a realidade», afirmou que o desenho «mais simples» para representar o Portugal de hoje é uma «tela a negro, por razões económicas, sociais e de expetativas», embora tenha esperança de, «em breve», poder «aclarar as cores».

À semelhança de José Gil, também Pedro Vieira falou do fechamento ao exterior por parte do ser humano, tendo centrado a sua análise na realidade virtual: «A supremacia das redes sociais e a internet têm conseguido aprofundar ainda mais o virar-se para dentro com a falsa ilusão de que estamos voltados para fora».

A par do «triturar de informação a uma velocidade inacreditável», há uma «ansiedade que se cria por não se conseguir apanhar tudo», numa aceleração que impossibilita o diálogo e a análise.

«Não se tem um sobressalto cívico acerca de nada, a não ser, às vezes, pelas razões erradas», disse Pedro Vieira, que lembrou a agitação causada pelo presidente da Fifa ao imitar a atitude do futebolista Cristiano Ronaldo.

«Quando um dirigente internacional de futebol faz um bailarico em frente a uma audiência, isso sim, é capaz de, durante uns minutos, mobilizar algumas pessoas no ciberespaço», apontou.

A inversão de prioridades por parte dos média foi também criticada por Pedro Vieira, como aconteceu no dia do funeral de Eusébio, que «contaminou toda a informação», ao mesmo tempo que «o litoral estava a ser engolido pelo mar»: «O real estava a acontecer fora dos ecrãs».

José Gil, que como Pedro Vieira reprovou a atuação do ministro da Educação e lamentou a emigração dos jovens, evocou a «avidez em saber» que encontrou quando, no início dos anos 80, começou a dar aulas a alunos do ensino superior em Portugal que se «atiravam aos livros», lendo «mais do que era necessário».

«Hoje, tanto na filosofia como noutros saberes, leem o que se sentem obrigados a ler», afirmou o pensador, que disse ter «maus augúrios» sobre o futuro do ensino em Portugal.

O debate entre José Gil e Pedro Vieira, incluindo a intervenção de Guilherme d'Oliveira Martins, presidente do Centro Nacional de Cultura, pode ser ouvido na íntegra no site da Renascença (ver "Ligações e contactos").

 

Rui Jorge Martins
© SNPC | 15.01.14

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FotoJosé Gil
Foto: Carlos Vasconcelos






































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Pedro Vieira
Foto: Paulo Sousa Coelho

 

 

 

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