Sociedade

Superar-se

Quando já se tinha tornado Presidente da África do Sul, Nelson Mandela afirmou que a melhor forma de, findo o apartheid, reagir perante a elite branca da África do Sul era “surpreendendo-os com comedimento e generosidade”. É exatamente este tipo de serenidade sábia que precisamos hoje em Portugal. E paradoxalmente, a crise em que vivemos pode contribuir para essa superação enquanto país. É certo que esta crise que atravessamos tem muitas consequências negativas com que nos confrontamos na nossa vida e através dos jornais, todos os dias. Mas a crise também traz oportunidades. Por um lado nunca em Portugal se teve tão clara consciência de que é preciso fazer reformas na nossa sociedade para invertermos o nosso declínio económico e social. E já se sabe que as reformas, muitas vezes difíceis, não se conseguem fazer sem a concordância das pessoas. Agora há um consenso favorável a reformas que deve ser aproveitado. Por outro lado, fica também evidente que a política é fundamental para a vida das pessoas, e não pode ser ignorada. A apatia e a falta de participação na política tão típica de uma parte substancial da sociedade portuguesa passaram a ser um luxo pré-crise que tem que ser abandonado. É preciso que o eleitorado português se mobilize para fortalecer as instituições. Isto significa muito concretamente votar nas próximas eleições para uma solução de governo estável, à esquerda ou à direita. No próximo dia 5 de junho, o país precisa de si.

Este texto integra a próxima edição (n.º 15) do "Observatório da Cultura", publicação semestral do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

Marina Costa Lobo
Investigadora no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa
© SNPC | 17.05.11