Arquitectura
Da "escassez" como oportunidade
1.
Tempo de crise é tempo de manifestação de 'escassez', conceito associado sobretudo à teoria económica, relacionando a natureza limitada dos meios com as aspirações da acção humana. Tempo de crise é também tempo de (re) situação diante da 'escassez', entendida não como fatalidade, mas como oportunidade de revisão da relação entre recursos e expectativas, necessidades e possibilidades. Habitar implica construir, usando e transformando recursos. Construímos porque habitamos. A equação inversa será sempre expressão de projecto sem sentido.
A história da habitação é a história dos lugares fundacionais, de abrigo e entreajuda, a partir dos quais se desagregaram todas as funções e estruturas da vida humana.
A arquitectura transforma o cosmos num lugar habitável, viabilizando o recolhimento, o acolhimento e o reconhecimento do 'outro'. Na liturgia entendida como a plenitude do acto de habitar, ressoa a memória do encontro na 'casa de Emaús'.
2.
Num artigo de 1972, o padre jesuíta António Lopes relembra o 'sonho' de Karl Rahner onde os cristãos do futuro seriam 'cristãos na diáspora'.
Relendo a história da salvação considerava que o processo da 'salvação' se realiza «(…) por meio de um 'pequeno resto' ao serviço da multidão. À medida que a Igreja se torna minoritária, esta - tal como o Povo Eleito, entendido como o 'pequeno resto' - despe-se de toda a folhagem sociológica e institucional e redescobre, a uma nova luz, o seu dinamismo missionário de fermento, de sal e de luz para a multidão e para o mundo». Concertado com a concepção Conciliar de uma igreja 'serva e pobre' ao serviço do mundo, o padre jesuíta perguntava ainda: «Não terá chegado o momento, de nos interrogarmos (…) sobre o significado sociológico da nossa tradicional acção pastoral no que respeita a paróquias (…)? Não estará ainda a nossa acção pastoral essencialmente ligada a um tipo de sociedade que está passando vertiginosamente ou que já desapareceu em muitos sectores?»
3.
Ao retorno cíclico de um simbolismo 'excessivamente monumental e de uma sacralidade ambígua' demasiado vinculada ao 'objecto' e dissociada na sua raiz da 'pessoa e do seu mistério pessoal' contrapõe Frederic Debuyst, monge de Clearland, a inscrição do fenómeno da indissociabilidade da arquitectura e da liturgia na prioridade da 'assembleia viva', nos valores personalistas da hospitalidade e da abertura ao 'outro', infinitamente próximo e infinitamente diferente.
Entender a escassez como oportunidade, implica (re) pensar a construção de novos espaços de celebração, (re) descobrindo a eficácia de uma 'arte pobre’ e de uma 'acção pobre', a sintonizar com as necessidades, possibilidades e vocação do 'pequeno resto'.
Bernardo Pizarro Miranda
Fotografia: P. João Norton de Matos, sj
Arquitecto
© SNPC |
20.04.10



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