Estamos próximos da grande celebração do Natal e a azáfama está prestes a tornar-se uma correria danada...
Tenho a sensação que Maria e José antecederam as palavras de Jesus quando saíram da sua terra, foram a Nazaré e, ali mesmo, longe de tudo e todos, deixaram que o inevitável acontecesse, ainda que rodeados de quase nada, e o menino nasceu.
Anos mais tarde, já bem crescido, Jesus retirava-se para a outra margem quando se dava conta que as multidões o rodeavam. Creio que precisava da outra margem para encontrar o quase nada e, aí, alicerçar-se verdadeiramente...
«Depois, Jesus obrigou os discípulos a embarcar e a ir adiante para a outra margem, enquanto Ele despedia as multidões. Logo que as despediu, subiu a um monte para orar na solidão. E, chegada a noite, estava ali só.» (Mt 14, 22-23)
«Vendo Jesus em torno de si uma grande multidão, decidiu passar à outra margem.» (Mt 8, 18)
«Naquele dia, ao entardecer, disse: "Passemos para a outra margem." Afastando-se da multidão, levaram-no consigo, no barco onde estava; e havia outras embarcações com Ele.» (Mc 4, 35-36)
«Jesus, suspirando profundamente, disse: "Porque pede esta geração um sinal? Em verdade vos digo: sinal algum será concedido a esta geração." E, deixando-os, embarcou de novo e foi para a outra margem.» (Mc 8, 12-13)
A outra margem de Turim foi uma oportunidade para me dar conta que a visão de largo horizonte é aquela que nos coloca no lugar, dá-nos uma lição de humildade.
A outra margem mostra-nos que a visão antiga é parcial.
A outra margem implica ser capaz de abraçar a dúvida e a certeza, projetar-nos lá para a frente sem medo de perder as raízes do passado, da segurança.
Este tempo que antecede o Natal é isto para mim: atravessar para a outra margem para ir ao encontro da novidade que está para nascer!
Mário Linhares