Evocação
Padre Alberto Neto «viveu e morreu como um profeta»
O padre Alberto Neto «viveu e morreu como um profeta», declara o cónego António Janela em entrevista que o Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura publica no dia em que passam 25 anos da sua morte.
«Foi um homem que viveu intensamente o espírito evangélico e profético» do Concílio Vaticano II (1962-1965), «ele que tinha sido formado numa teologia pré-conciliar», refere o cónego Janela, que conheceu o padre Alberto no segunda metade da década de 60, no contexto de uma equipa de professores de Educação Moral e Religiosa Católica para as escolas de Lisboa.
«Sportinguista ferrenho», o padre Alberto Neto (1931-1987) acompanhava os jogadores leoninos, entre os quais o guarda-redes e capitão Vítor Damas, que escreveu um testemunho sobre o sacerdote após a sua morte.
A convivência com o desporto, que não se resumia a defender o clube de Alvalade, foi um pretexto para se aproximar dos jovens.
Era um homem «humilde», em que «a opção preferencial pelos pobres não era um chavão; era uma realidade concreta».
Na segunda parte da entrevista o cónego António Janela fala também das consequências dos acontecimentos na Capela do Rato, ocorridos na passagem de 1972 para 1973, a nível das relações entre a Igreja e o Estado. «O abril de 74 tem aqui uma referência preliminar», afirmou.
Em 1973 o patriarca de Lisboa, D. António Ribeiro, propôs ao padre Alberto Neto a transferência para a paróquia de S. João de Brito, frequentada pelo líder do regime ditatorial, Marcello Caetano. O sacerdote não apreciou a sugestão e iniciou alguns «anos do deserto», até que aceitou a responsabilidade da paróquia de Belas.
O cónego António Janela expõe também a sua interpretação sobre a execução do padre Alberto Neto, precedida de ameaças por escrito, quando era prior de Rio de Mouro.
«Sabia que pisava um terreno minado mas o padre Alberto era um homem corajoso. Sofreu as consequências de se não se ter refugiado na comodidade do clérigo que faz o seu serviço e ponto final. Arriscou e pagou com a própria vida».
A morte do padre Alberto Neto ocorreu a 3 de julho, dia em que a Igreja Católica evoca o apóstolo São Tomé, que segundo a Bíblia precisou de tocar em Cristo para acreditar que tinha ressuscitado. O sacerdote dedicou-lhe uma homilia, que publicamos hoje (ver "artigos relacionados", "Entre a beleza do anúncio e a crueza da realidade", em baixo).
Esta terça-feira o cónego Janela preside a uma missa às 19h30, na Capela do Rato, onde será evocado o padre Alberto Neto.
Rui Jorge Martins
© SNPC |
03.07.12
Padre Alberto Neto
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